terça-feira, 29 de junho de 2010

Alimentos - Vocabulário Piagetiano de hoje


ALIMENTOS
entropia informação estímulo
habilidade hipótese sistema aberto
acomodação teoria curiosidade
visão do mundo neopositivismo inovação
órgão dos sentidos atividade inibição
desinteresse perturbações exercício
estrutura esquema ultrapassagem

Deve-se distinguir a atividade das estruturas da atividade do sujeito. A atividade das estruturas é um processo primitivo que se inicia no bebê, antes mesmo da linguagem: é o que chamamos "alimentação dos esquemas". Alimentar um esquema consiste no fato de, encontrado (construído) um novo esquema (o esquema de jogar para longe um objeto, por exemplo), a criança tende a utilizá-lo não importa como. O esquema tende sempre a alimentar-se através de elementos que não se diferenciam muito do modelo original, provocando leves acomodações: toda estrutura, pois, comporta sempre a exigência de ultrapassagem." (Piaget).
Todo esquema tende a exercer-se. Tendemos a aplicar às situações as concepções que temos do mundo das coisas e das pessoas (mesmo que essa aplicação seja, apenas, processo mental ou verbal). Os olhos procuram a luz e o ouvido, os sons. Procuramos aplicar nossas "habilidades". Tendemos a usar os objetos que estão à nossa disposição. Não é, pois, o "estímulo" que põe o organismo em ação: são os esquemas que tendem a exercer-se, mesmo independentemente, de perturbações que provoquem necessidades de readaptação. Nisto, a teoria de Piaget se diferencia, fundamentalmente, da Psicologia em voga. Piaget chega a falar em "fome de estímulos" ("no começo, já estava a resposta"). Tudo isto significa, apenas, que o organismo (a mente) é um sistema aberto que precisa compensar, continuamente, as perdas (entropia). Nesta atividade, nesta aplicação dos esquemas a novas situações(curiosidade), cria-se a novidade (acomodação). Mas a aplicação dos esquemas obedece à estrita proximidade e semelhança das situações ("não se aprende nada inteiramente novo"). Se a situação é muito nova, a reação consiste ou na inibição do esquema, ou no desinteresse (a novidade absoluta equivale a uma incompreensão). "O meio não contém informações nenhuma" (Foerster): "para que haja informação, é preciso que o sujeito aplique seus esquemas aos objetos, transmitindo-lhes, assim, significação" (Piaget). Em outras palavras, é preciso que os objetos alimentem os esquemas. Daí a impossibilidade de "observação científica pura" proposta pelos neopositivistas toda observação supõe um esquema, uma hipótese, uma teoria ("um fato é apenas um fato"). A expressão "gostar de" (de música clássica, por exemplo) é uma forma corriqueira de dizer que os esquemas precisam ser alimentados. A privação absoluta de "alimento" desequilibra, totalmente, a homeostase do organismo (da mente), a tal ponto que o processo chega a ser usado pela polícia como método de tortura e desagregação da personalidade. "A alimentação dos esquemas não tem nada de "extrínseco" com relação ao meu ensaio de teoria: um esquema que não se alimentasse não teria nada de um esquema, pois é próprio do esquema assimilar o maior número possível de elementos."(Piaget).
Os órgãos dos sentidos (ouvido, olhos, etc.) são "esquemas" anátomo-fisiológicos que precisam ser "alimentados" (diz-se até que "o órgão que não se exercita atrofia"). O mesmo ocorre com nossas "habilidades" (esquema de comportamento) e com nossas "concepções"(teorias, provérbios, religião, etc.), embora, do ponto de vista mental, a alimentação possa ser puramente verbal ou afetiva (isto é, não implicar comportamentos objetivos e eficazes).

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