sábado, 10 de março de 2012

Crianças Infelizes



Embora já muito observado de forma empírica por todos nós, fiquei mal impressionada ao confirmar em matérias e mesmo em pesquisas sérias, que as famílias estão deixando de lado a preocupação com a felicidade das crianças impondo a elas problemas que tradicionalmente sempre foram dos adultos.
Quando Rousseau disse que “a criança não é um adulto em miniatura” estava convidando a uma mudança radical de abordagem, onde a sociedade poderia ver as crianças através de uma nova ótica, realmente infantil. Nesse novo ambiente de consciência da infância e de suas necessidades próprias, as crianças passaram a se vestir como crianças e a ter direito de brincar! Antes disso, eram meros objetos de decoração, vestidas com requinte – lembrando bonecos – e sem qualquer direito, frente a rigidez da sociedade.
A pesquisa a que me refiro foi feita no Reino Unido, foi analisada pela Coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da Universidade Federal de São Paulo, que sinalizou que tanto lá quanto cá, os problemas são os mesmos. As crianças andam deprimidas, sobrecarregadas, ansiosas, estressadas e desconfortáveis com a infância. Nota-se que os direitos delas estão garantidos no papel, mas não na ação.
Temos que ver as causas que levam a isso e as soluções que podem ser dadas. Percebe-se que, entre os motivos dessa situação, temos uma sociedade adulta pressionando para que as crianças entrem, rapidamente, nos padrões estabelecidos pela mesma, enquanto sabemos que as crianças durante toda a infância têm padrões próprios. Ainda hoje, a sociedade espera que as crianças adquiram comportamentos semelhantes aos dos adultos rapidamente, vistam-se como adultos e tenham atitudes de adultos. Desconhecem que “brincar é o trabalho das crianças”, e forçam situações para que elas entrem logo no mundo dos adultos, provavelmente para deixarem de “dar trabalho”.
As roupas das crianças são imitações das roupas adultas sem que qualquer adaptação seja feita para uso infantil. E ainda há uma tendência a achar que as crianças devem entender tudo o que os adultos que a rodeiam querem, ignorando que as crianças tem outra forma de pensar, como tenho afirmado em vários artigos que tenho postado no blog. Neles, falo insistentemente que a criança passa por várias fases de desenvolvimento, e que só completa aos 13/14/15 anos, quando adquire o pensamento abstrato formal. Os adultos lidam com uma criança de 3/4 anos explicando conceitos lógicos, querendo que elas façam representações através das danças e músicas tipicamente de adultos. Isso é a mesma coisa que amestrar um animalzinho! Deixar a criança crescer, cumprindo todas as etapas do seu desenvolvimento (do sensório motor até as operações abstratas) requer muito sabedoria.
Criança feliz é aquela cujos adultos permitem que seja criança. Não sobrecarregar as crianças com obrigações que satisfaçam basicamente aos adultos, é uma norma que deve ser vista com determinação. A sobrecarga afetiva também deve ser suavizada, não criando uma responsabilidade adicional ás crianças pelo afeto aos pais e familiares. Usar as crianças  dentro do jogo afetivo, também é uma foram de torná-las infelizes. Não sabendo a quem agradar, a criança se confunde e acaba por tornar-se um adolescente, e futuramente, um adulto inseguro.
Criança tem direitos e deveres, mas tem que ser protegidas, pois ainda não conseguem determinar as coisas de sua vida. Elas precisam ser guiadas da infância para a heteronomia (ordens que vem de fora). Temos que deixar as crianças viverem sua infância, aguardando que elas amadureçam.
Acredite que as crianças agradecem se a sociedade deixar que elas vivenciem cada etapa do seu desenvolvimento. Não podemos pedir pensamento lógico antes dos 7 ou 8 anos. Elas simplesmente não entendem as relações de causa e efeito. O homem é o animal com a infância mais longa na escala zoológica, mas também é o que tem a infância mais desrespeitada.
É um engano perseverar na ideia de que criança feliz é aquela que faz o que quer. Para a criança, a verdadeira felicidade é ser amada e orientada. Precisamos seguir esse caminho para termos crianças verdadeiramente felizes.

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