domingo, 4 de fevereiro de 2018

Prova: a provação

   Vou vendo o frenesi de jovens e, inevitavelmente, me pego pensando sobre o que é uma PROVA. No âmbito escolar, é claro. Estamos tão acostumados ao massacre que ninguém percebe que esse é um procedimento completamente falido e que não “mede” nada no final das contas. Todo o nosso sistema de ensino está baseado nessas avaliações sem sentido, e quem sofre o maior desgaste são as crianças e adolescentes.
   Como pode haver um “instrumento” de precisão tal que reprova por centésimos, na avaliação de desempenho intelectual de um ser humano? E ainda mais se aplicado por pessoas que, na maior parte das vezes, não tem qualquer embasamento científico…
   Para os pais, a sensação de que é a única maneira de verificar se os filhos serão ou não “alguém na vida”. E embora não se comprometam com o dia a dia dos estudos dos filhos, nunca cobrando nada sobre as tarefas escolares ou trabalhos, quando chegam as provas, resolvem ficar extremamente dedicados na avaliação do filhos. Muita confiança num sistema escolar que, no final das contas, não está resolvendo o principal problema que é o desenvolvimento da inteligência. O pai, por desconhecimento do tema, entra na mesma vibração de todo o processo, ou seja, quer nota e alta.
   Vai haver um momento na história da humanidade, em que uma reformulação de porte será feita, para que a escola chegue ao nível de avaliação do aluno de forma permanente, em cada tarefa realizada pelo aluno correspondendo a uma pequena avaliação que, somada a todas as demais, dirá ao final de um período sobre sua competência para seguir o caminho.
   UMA PROVA NADA MEDE. Um momento do processo não traduz a verdadeira competência do aluno. Somente a avaliação diária dos jovens é que vai refletir o seu desenvolvimento. Dá mais trabalho? Dá. Mas e daí? A escola está mexendo na base de uma vida inteira de milhões de seres humanos, o tempo todo.
   O desenvolvimento cognitivo precisa ser avaliado, mas isso esbarra em toda a formação de educadores, que são preparados para atuar numa linha reta, que ignora completamente a individualidade e os estágios evolutivos. Fica mais fácil avaliar o que foi “armazenado”, do que o que foi “desenvolvido”, e o absurdo torna-se valor e é institucionalizado. Armazenamento não é inteligência, e isso precisa ser dito de maneira repetida até o final dos tempos ou pelo menos até que mudem os critérios de avaliação nas escolas. Tudo o que é atualmente apresentado para ser “decorado” pode ser encontrado por meio de um smartphone na vastidão da internet, mas como se sabe, se os elementos não puderem ser organizados para um fim, não tem valor algum. Tanto que, pela seletividade natural do cérebro, visando evitar gastos energéticos maiores, o que não tem aplicação vai sendo rapidamente esquecido - e ainda bem que é assim. A decisão de valor estabelece o que vai ficar por mais tempo consumindo uma área nobre do órgão mais nobre dos seres humanos, e certamente o nome de todos os afluentes do Rio Amazonas não faz parte disso. Caso contrário você, leitor, saberia todos, porque certamente decorou isso.
   Uma prova ideal, seria aquela que propõe problemas lógicos, que devem ser pensados e sem estabelecer conteúdos específicos. Tudo o que o aluno for forçado a “aprender”, impede que ele invente ou descubra, e isso é de uma gravidade enorme porque o papel do jovem, na sociedade, é transformar, inventar e não reproduzir o que já foi estabelecido. As provas, sendo simples reprodução do conhecimento acumulado pela humanidade, não permitem esse movimento mental. E o conhecimento estará sempre à disposição de todos aqueles que precisem de informações para agir sobre o meio.
   Não estamos mais na condição de que, para perpetuar a informação, era preciso que a mesma fosse guardada na mente das pessoas, e que essas transmitissem de geração para geração exatamente a mesma coisa. Gutenberg, ao inventar o tipo móvel e a impressão em larga escala, tirou o trabalho de muita gente que vivia de repetir o mesmo. A consulta ao livro tornou o repetidor desnecessário. Hoje, a informação está disponível de uma maneira que nos afoga, em certos momentos. O que se espera é que o indivíduo possa tornar melhor o mundo, fazendo com que aquilo que sempre foi feito de uma determinada maneira, possa ser feito de maneira muito melhor, mais barata, com menor consumo de energia e disponível para acesso rápido.
   Ser criativo é a grande exigência do mundo nesse momento da história da humanidade e agora é tempo de pensar, de reinventar, de ser disruptivo, de avançar para fronteiras jamais imaginadas. O tempo em que ficamos ensinando o mesmo e fazendo provas para ver se aquele conteúdo “tinha entrado na cabeça “de nossos alunos, acabou. Professores, cuidado para não se tornarem desnecessários em algum momento, sem perceberem. Pais, estudem as opções de futuro para que seus filhos tenham chance de alcançar o sucesso no mundo em que eles irão viver. Escolas, parem de repetir o modelo fracassado e se reinventem para que tenhamos uma chance maior daqui a vinte anos. O Brasil também depende disso.

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