sábado, 12 de maio de 2018

Crianças sem palavras

Economia de palavras ... ou melhor, pobreza de vocabulário mesmo. Fico me perguntando frequentemente, porque as crianças estão usando tão poucas palavras para se expressar e fico preocupada com nossa sociedade se deparando com enormes problemas de comunicação no futuro. Isso está associado também a falta de conhecimento sobre as coisas mais simples, que deveriam ter sido “descobertas”, mas permanecem na zona cinza do desconhecimento. É caso, por exemplo, dos animais. Num mundo cada vez mais interessado no assunto, na diversidade da fauna, nas relações ecológicas, me deparo com o fato de que a grande maioria não conhece centenas de animais – quando muito, dezenas apenas. E aqui estamos falando da identificação simples, sem nenhuma ciência, apenas a identificação imediata do indivíduo. No entanto, as crianças não sabem os nomes de insetos, aves e mesmo mamíferos que eram conhecidos (havia contato com eles) e que hoje são grandes desconhecidos da maioria. No caso das aves, a coisa é mais grave ainda. Sabem o que são algumas espécies e generalizam as restantes como se “ave” fosse uma espécie, mesmo com a evidente diferença entre todas elas.
Peixes então, coitados, são apenas “peixes”! Que eles estão sem referência de mundo é uma realidade, e isso não é bom. Nada bom. E estamos aqui falando das coisas mais simples, de fácil identificação. Quando observamos o uso dos verbos, advérbios, etc., aí sim, é uma pobreza total. Ficam sem poder interpretar um texto, quando leem, e o pior, chegam as Universidades por caminhos outros como apenas replicar conhecimentos decorados e sem qualquer relação com o desenvolvimento da inteligência.
Um elemento importante para esse desenvolvimento está na conversa entre pais e filhos, programas que estejam assistindo e coisas assim. Quando você vê uma criança repetindo frases feitas, que não tem qualquer significado maior para elas, é mal sinal, até porque usam mesmo sem contexto. Pode parecer engraçadinho em algum momento, mas a continuidade do processo leva a uma dificuldade enorme futuramente, na comunicação mais elementar. E isso vale para os relacionamentos, para o trabalho, nas amizades, enfim.
Outro dia observei meu neto saindo do restaurante ele tem 3 anos e disse ao garçom “Até breve”. Fiquei atenta para descobrir onde ele tinha ouvido e aprendido a expressão. Não tive surpresa: vinha de um desenho que ele costuma assistir no iPad. Empregou corretamente, mas não sabe o que significa até por que não tem ainda esta temporalidade. Este é o problema. As pessoas acreditam nesta fala “aprendida” (psitacismo = fala de papagaio). Temos que perguntar: o que quis dizer? É uma Tomada de consciência para saber se o vocabulário é realmente da criança.
Até o período simbólico/Intuitivo 3/4/5/6 anos devemos explorar uma quantidade enorme de verbos (ações) e substantivos (coisas) para ampliar bastante o universo infantil. Contar as histórias é muito importante e conversar com a criança sem adaptar o vocabulário. As crianças devem ouvir a linguagem natural da família. Não adianta as crianças falarem línguas estrangeiras com um vocabulário pobre em sua língua materna. Está na moda ensinar as línguas estrangeiras e ter uma criança com um pobre vocabulário em todas elas.
Veja outro exemplo: as cores. As crianças sabem as primárias e, às vezes, as secundárias até 4/5 anos. Deveriam já saber as terciarias e um espectro bem maior. Normalmente não se referem as cores com desenvoltura.
O fato é que as crianças e jovens falam muito mal e tem um pequeno vocabulário. Vamos trabalhar a leitura com estas crianças e contar histórias.
Nota: conversando com um amigo do meio empresarial, fui informada que uma das coisas mais importantes hoje, na contratação, é saber se o entrevistado na seleção fala e escreve bem o português. Isso surgiu naturalmente do fato de termos profissionais competentes em áreas técnicas que não conseguem se expressar minimamente bem. E isso faz toda a diferença.

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