A vida é feita de ciclos, seja a vida do indivíduo, seja a vida da sociedade em que vivemos ou a história da humanidade. Já vivemos o ciclo do Ouro, o ciclo das Trevas e outros tantos mais. Já tivemos nossas esperanças e frustrações, mas estamos sempre querendo ver acontecer algo renovador, algo que proporcione a evolução, a equilibração majorante, a abertura para todos os possíveis, sempre melhores. E para chegarmos a patamares cada vez mais altos, não há mágica, mas sim determinação, trabalho, foco, envolvimento, comprometimento e ação. Muita ação. No entanto, o conceito base é fundamental para não gastarmos preciosa energia em vão.
E o Brasil está na fronteira de um novo ciclo, de uma renovação, mesmo que muitos achem que haverá continuidade plena em tudo o que vimos nos últimos anos. Acredito que não. Novos elementos entram em campo, e tem a oportunidade de dar contribuições altamente significativas em coisas que de alguma forma ainda precisam de muita atenção, se queremos um país melhor na acepção total da expressão tão batida. Paradoxalmente, somos um país cada vez mais rico, que se mantém extremamente atrasado em muitas áreas, sendo a principal delas a Educação. E vejam que é unicamente através desta que poderemos alcançar um desenvolvimento sustentável. Estamos caminhando para aquela posição do indivíduo muito pobre, que despreparado para gerir seu dinheiro, ganha na Megasena e, em pouco tempo, está pobre novamente. Não adianta só dar riqueza, porque essa se esvai dependendo das condições gerais. É preciso oferecer os meios para que os brasileiros possam almejar ter a qualidade de vida que querem, para que alcancem esse patamar e que dali possam dar vôos ainda mais altos. Utopia? Não, apenas um pequeno exercício de planejamento estratégico numa área crítica que precisa receber o tratamento adequado.
Não é possível considerar que estamos bem em termos de Educação, mesmo com os avanços que ocorreram nos últimos anos. Isso porque esses avanços não foram feitos, na sua grande maioria, na direção ideal. Antes de 1964, a situação beirava o caos total. Meu pai, Lauro de Oliveira Lima, naquele período que antecedeu o Golpe Militar, estava em Brasília a serviço do Ministério da Educação e ia deflagrar um enorme movimento de alfabetização, mas foi contido à força por ter sido considerado esse um projeto altamente perigoso para a segurança nacional e, portanto, subversivo. Desde essa época, quase nada foi feito de forma eficaz e com a força necessária, para erradicar essa vergonhosa condição de altos índices de analfabetismo no Brasil. No máximo, tivemos movimentos burocráticos, a exemplo do MOBRAL, entre outros. A extinção de uma chaga profunda como o analfabetismo requer muito mais do que slogans e prédios, até porque tem uma extensão nacional num país de dimensões continentais. Vai ser preciso mais do que meia dúzia de pessoas, empolgadas ou não, para resolver uma questão como essa. Vai ser preciso envolvimento real de todos os brasileiros nessa verdadeira cruzada.
O mundo nos olha, hoje, como um grande mercado consumidor, que precisa de quase tudo o que o mundo tem a oferecer. Mercados maduros, como o Europeu e o norte-americano estão conquistados, domados, abastecidos. Mercados insustentáveis, como o de vários países africanos, simplesmente querem, mas não podem comprar o que as empresas do mundo inteiro têm para vender. Estamos na categoria intermediária, somos parte das grandes potências emergentes, somos liderança na América Latina. Nosso futuro ex-presidente foi considerado “o cara” pelo presidente da maior potência mundial da atualidade. Temos a maior biodiversidade do planeta e somos vistos como celeiro da humanidade para os próximos anos de grande incerteza no agronegócio mundial em virtude do aquecimento global e de suas conseqüências. E, no entanto, olhando para dentro dessa belíssima caixa, o que vemos?
Vemos um povo que ainda convive com altos índices de analfabetismo (total ou funcional, que é dos mais perversos, porque mascara a realidade nua e crua). Uma nação de pessoas desdentadas por falta de orientação básica, que morre em filas de espera intermináveis do nosso falido sistema de Saúde Pública. Que pena em sistemas de transportes combalidos. Que cumpre suas obrigações mas não consegue fazer valer os seus direitos na medida em que a Justiça é lenta, os advogados caros, a burocracia emperrada e um processo pode demorar dez, vinte ou até trinta anos para se resolver, dadas as instâncias que pode percorrer se bem trabalhado pela parte que não gostou da decisão da instância em que se encontra.
Por que olhamos tanto para as questões políticas e tão pouco para aqueles que deveriam ser os beneficiários maiores dos resultados de um trabalho bem feito nessa área? Sugiro que os nossos políticos, em todos os escalões, sejam obrigados a fazer uma experiência, pelo menos uma vez por ano, de conviver com o povo. Uma semana, não mais. Uma semana por ano, na qual ele more dentro de uma comunidade carente de qualquer parte do país, durma numa cama simples, comprada no crediário popular de um grande magazine, faça compras no mercadinho indo a pé, puxando o carrinho pelas ruas esburacadas. Uma semana na qual tenha que ir ao Hospital para ver o que é não ser atendido, levando seu filho a uma escola onde não há professores e que, de quando em vez, seja atingida por uma bala perdida, resultado dos confrontos locais para ajuste de contas. Certamente, dessa semana sairia um ser humano melhor. Uma pessoa que iria pensar duas vezes antes de fazer campanha de promessas espúrias, sem o menor interesse de realmente resolver o problema de uma população tão sofrida.
Para mudar um quadro tão grave quanto esse, e aproveitando que estamos às vésperas de um novo Governo, precisamos ter metas para uma Educação de Qualidade, mas de qualidade mesmo, alinhada com o que há de mais importante a ser feito e com disposição para enfrentar os graves problemas desse setor com energia, disposição e coragem. E vejam bem, não faltam talentos para isso. Por exemplo, achei formidável a idéia do Senador Cristóvão Buarque de criar um Ministério da Educação Básica, que está faltando e poderia democratizar a distribuição de recursos entre esta e o Ensino Superior, que tem sido o foco das ações do atual modelo de gestão do Ministério da Educação. Não se começa a subir uma escada a partir do décimo degrau, e é o que estamos tentando fazer seguindo o modelo atual. Na realidade, precisaríamos começar do início, alimentando a mãe gestante, proporcionando um parto que não deixe seqüelas na criança, oferecendo creche para uma infância saudável, uma pré-escola, e assim por diante. Vai levar tempo para que essas crianças cheguem no ensino superior, mas vamos dando elementos para que cheguem muito melhores lá. É assim que se deve caminhar em Educação. Sem infraestrutura não se constrói esse grande edifício chamado ser humano.
Não podemos só pensar em prédios, materiais maravilhosos, computadores etc., porque nada disso importa neste momento. Temos que fazer planos de formação de professores, engajamento de todos os setores da sociedade incluindo-se aí o Exército, Marinha e Aeronáutica. Devemos nos perguntar por que o serviço militar não é usado para este grande programa de alfabetização, quando dispõe de um contingente enorme e uma estrutura gigantesca. E fica ainda a questão: as empresas não poderiam ter um núcleo interno de alfabetização? Imagine se cada empresa ensinasse 2, 3 ou mais brasileiros a ler, escrever e fazer as quatro operações. Um mutirão como esse seria fantástico, com resultados formidáveis e todos seriam beneficiados. O Bancos poderiam ter, em suas agências, que hoje estão distribuídas por todo, mas todo mesmo, território nacional, ambientes para alfabetização, com um monitor treinado que ofereceria esse serviço no horário de expediente ao púbico. Seria uma forma simples e efetiva de melhorarem a distribuição da riqueza na forma de conhecimento. Sendo essas instituições as que mais lucros auferem na nossa economia, poderiam fazer certamente esse investimento, e ainda teriam um retorno formidável em termos de ampliação da carteira de clientes, porque povo alfabetizado ganha mais, deposita seu dinheiro e sabe usar caixa eletrônico, etc.
O que nós, brasileiro, esperamos de um governo revolucionário é uma revolução na educação. Educar um povo não e difícil, pois o próprio povo quer ser educado, sabendo que só assim terá chance de uma vida melhor. Difícil seria se houvesse resistência. Já vimos isso acontecer no Brasil, quando um visionário de nome Oswaldo Cruz tornou a vacinação obrigatória, com o apoio de Rodrigues Alves, então Presidente da República. Foi vítima de rebeliões populares e também de reação violenta da Escola Militar. O episódio ficou conhecido como “A Revolta da Vacina”. Seu alvo foi para erradicar uma doença endêmica, a Febre Amarela, de nosso país. Nos dias de hoje, vemos o analfabetismo como endêmico , mas o povo quer aprender, quer crescer. Então vamos ensinar, aproveitando que certamente não haverá uma revolta por causa disso. Revolta mesmo a gente sente quando percebe que milhares de brasileiros estão à margem da sociedade, excluídos daquilo que será o modelo de bem estar que o Século XXI tem a oferecer.
Para isso, o fundamental é ter uma metodologia moderna, rápida e eficiente. Ela já existe e se chama Método Psicogenético. Não vamos jogar essa vacina fora!!! Vamos salvar o Brasil!
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3 comentários:
Beta,
Este é um dos melhores textos que li aqui no seu blog. Aborda de forma clara e contundente questões essenciais para o presente e o futuro do nosso país.
Abraços,
Matilde
Gostei do artigo. Também acredito no papel transformador da educação. E quando estudo a história da educação e a própria história do país, fico refletindo justamente no período antes do Golpe 1964, as propostas de reformas na educação, as reformas urbanas, a reforma agrária. Período este, de grande atuação dos intelectuais, que foi amputada.Abraços - Prô João P.
Um dos melhores posts que já li.
Muito bom!
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