segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ainda sobre a confusão da VEJA


Ainda sobre o confuso material divulgado em VEJA (no. 2164) sobre o Construtivismo, gostaria de acrescentar para meus leitores algumas comparações entre o Método Tradicional e o Método Psicogenético, contestando a mesma comparação que foi descrita naquela matéria.
São elas:

ALFABETIZAÇÃO
- Pedagogia tradicional
Reproduzindo o texto do autor: "As crianças são apresentadas as letras do alfabeto e seus sons. Em seguida formam silabas ate chegar às primeiras palavras e ao seu significado".
- Método Psicogenético
No método baseado em Piaget, as crianças são apresentadas a rótulos de produtos que conhecem baseados em seu universo vocabular; depois, após adquirirem a tábua de dupla entrada, começam a desmembrar estas gestalts em sílabas para formarem palavras e a seguir, frases. O autor fala em associação, teoria totalmente ultrapassada em psicologia (Ver correntes epistemológicas). Contato visual – Piaget destaca com ênfase que não se aprende pela percepção, logo o jornalista comete novamente um erro grave contra a teoria Piagetiana.

Matemática
- Método tradicional
Apresentação do conceito com exercícios de fixação.
- Método Psicogenético
Para Piaget a criança só aprende aquilo para o qual tem esquemas. O autor não deve saber o que é um esquema de assimilação. Não adianta propor para uma criança sem conservação do número, problemas que contenham este conceito Esta é uma descoberta de Piaget. A fixação era feita para que a criança decorasse o que não aprendia. Sabe-se hoje, após os estudos de Piaget, que para que o conceito da matemática se instale, temos uma estrutura mental para recebe-la (ver, por ex. ,“A Construção do numero na criança” de autoria de Piaget).
Quanto as situações práticas, também estão baseadas até o período das operações concretas (7/8/9/10/11 anos). Após este período, podem ser propostas abstrações aos adolescentes, pois eles devem ter alcançado as operações abstratas ou formais.


Português
Tradicional- “O aluno aprende as regras de ortografia e gramática, como a definicão de aumentativo e diminutivo e seus usos”. Isto é uma definição e não uma explicação. Como é que a criança vai aprender? Dessa forma é que estamos vendo nosso país como o penúltimo dentro do hanking de avaliação mundial em Educação. Qual atiragem de nossos periódicos e livros?
Método Psicogenético- Não é por repetição nem por exaustão que as crianças são apresentadas a conceitos lingüísticos, mas com variação de textos e muita leitura para que generalize o conceito apresentado. Todos os conceitos são apresentados às crianças através de uma situação problema que ela deve resolver no seu nível, sem a preocupação de acertar ou errar. Cada criança dá a sua solução e depois deve o professor, em dinâmica de grupo, mostrar as outras soluções encontradas pela turma, o que gera uma generalização.


Conclusão:

É no mínimo curioso que uma pessoa que desconhece a teoria de Piaget afirme que “os alunos decidem o que vão aprender baseados em sua realidade”. Confundiu tudo. A criança aprende aquilo para o qual tem esquema, e isto o jornalista não entendeu. Uma escola piagetiana tem um planejamento rigorosamente seqüenciado para acompanhar o desenvolvimento mental das crianças/adolescentes. A teoria de Piaget está baseada na diretividade, e isso é uma coisa que confunde aqueles que não estudaram suas teorias. Pode ser que esteja se confundindo quando falamos em criatividade, mas a mesma está na solução dos problemas e não em não resolve-los.

Outra grave confusão exposta no artigo de VEJA deve estar relacionada à frase célebre do Professor Oliveira Lima: “O professor não ensina, ajuda o aluno a aprender”. Traduzindo: o aluno só aprende se tiver as estruturas mentais para aquele conteúdo, mas o professor tem que estudar as teorias piagetianas para saber do que estamos falando. Nenhum conteúdo “revelante” fica de fora dos planejamentos de uma escola piagetiana .

Ainda estamos longe de um sistema educacional todo baseado nestas teorias piagetianas, pois necessitaríamos de vontade política para que houvesse uma mudança de paradigma na formação de nossos professores. O Professor Lauro Oliveira Lima escreveu seus primeiros livros há mais de 40 anos e o golpe militar não o deixou fazer o trabalho que tinha iniciado no Ministério da Educação. Hoje, talvez, possivelmente teríamos um país concorrendo com os grandes da Educação, como a Filândia por exemplo.

Esperamos ter esclarecido as pessoas que realmente queiram saber sobre as teorias de Piaget. Ficamos decepcionados que uma revista como VEJA não trate os assuntos cientificamente. Fico imaginando que, certamente, nos assuntos que desconhecemos, devemos estar sendo também enganados de maneira grosseira, bebendo de uma fonte contaminada por valores equivocados que são expostos à guisa de verdades, desinformando mais do que agregando conhecimento.

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