sexta-feira, 16 de julho de 2010
A PSICOPEDAGOGIA DEVERIA CHEGAR AOS CAMPOS DE FUTEBOL
É urgente que os dirigentes dos clubes de futebol comecem a ficar preocupados com seus atletas, já que com desenvolvimento cognitivo e afetivo comprometido o rendimento tenda a cair e as ações pessoais fiquem fora de controle. É natural que estes jovens, que saem de comunidades carentes, com muitas dificuldades econômicas – e em nosso país, isso significa também dificuldades educacionais - tenham seu desenvolvimento altamente comprometido.
Nosso sistema educacional está um caos, muito fraco e desorganizado quanto à transmissão de conteúdos e quanto ao desenvolvimento da moral. Nos currículos, nem surge como uma área a ser trabalhada. Os professores nem sabem do que estamos falando. Mas é necessário desenvolver a moral para vivermos em uma verdadeira democracia. É importante desenvolve-la em todos os nossos jovens, mas nos atletas é indiscutível a urgência, já que eles despertam a admiração tornando-se ídolos e modelos, que apresentam comportamentos que são copiados. Ídolos têm obrigação de apresentar um comportamento exemplar, para que seus fãs possam segui-los sem riscos para si e para os outros. Temos então que estabelecer um programa urgente nesse sentido, para diminuir os problemas que vêm aparecendo com estes jovens atletas.
Os crimes sempre existiram e vão continuar cada vez mais requintados e pavorosos se não trabalharmos a educação de nosso povo. Educação é a solução para vários tipos de problemas que vemos nos nossos dias. As posições do Brasil, nos índices mundiais de avaliação da Educação, estão muito baixas, mas eles apenas refletem o fato de que não ensinamos os conteúdos que deveriam ser apresentados, porém não dão uma visão real e global do desenvolvimento dos alunos. Vamos propor aos dirigentes de clubes de futebol que façam um grande encontro para discutir a estrutura de formação de seus atletas, bem como um programa onde seriam feitos trabalhos em dinâmica de grupo para discutirem temas ligados ao julgamento moral de situações vivenciais, que eles enfrentam em suas vidas.
As famílias desses jovens também deveriam ser assistidas, para compreenderem a mudança radical da classe social que ocorre pela mudança repentina do poder econômico de seus filhos, afilhados, sobrinhos. O trabalho deveria ser ligado à atividade profissional, já que desenvolvem um trabalho coletivo. Como podem jogar juntos sem respeitar os companheiros como deveriam?
É interessante assistir um jogo e ver como um atleta pode cometer uma falta e tentar verificar se o árbitro não percebeu o que evitaria a punição mesmo com a ocorrência de um ato irregular. Pela moral da cooperação ele não deveria cometê-la e uma vez cometida ele mesmo deveria apontar sua falta para ser punido e sabendo que isso prejudicará seu grupo de companheiros. Mas não é o que acontece, pois os jovens atletas tentam esconder suas faltas. Quando comentem uma falta grave, tentam dissimular e, às vezes, tentam simular faltas que não existiram para conseguir vantagens.
Todos estes exemplos são graves do ponto de vista do desenvolvimento moral. Temos que levar estes jovens ao período da moral da cooperação. Alguns deles não chegaram pelo que se vê dos seus atos durante os jogos, nem sequer a moral do dever, que as crianças adquirem normalmente por volta dos 7/8anos. Uma das características desta fase é achar que tem razão sempre, que as regras impostas estão sendo cobradas dele com mais rigor do que aos outros. É uma centração, o que quer dizer olhar só para si mesmo, não conseguindo ver o ponto de vista do outro. Piaget criou vários testes para observar os níveis desta centração, que caracteriza o pensamento intuitivo antes dos 7/8 anos de idade mental. Aos 6/7/8 anos inicia-se o pensamento concreto, já com lógica, substituindo o que antes era somente a lógica das ações. Todas as regras do jogo, embora conhecidas por todos, devem sempre ser rediscutidas para ver se existe alguma delas que eles acham mais ou menos importantes e qual a punição para quem as quebrar.
As regras constituem uma realidade social bem caracterizada, independente dos indivíduos. Devemos levar em conta que os indivíduos se adaptam pouco a pouco as regras e as observam de acordo com sua idade mental Temos que saber também se tomam consciência das regras, que tipo de obrigações resulta para cada um, sempre de acordo com a idade. A regra coletiva é, inicialmente, algo exterior ao individuo e, por conseqüência, sagrada. Observar o jogo é fazer uma tomada de consciência muito importante para que não evoquem cada um suas imagens preferidas, sem se importar com as do outro. Todos devem no final concluir que foi o mesmo jogo, podendo ser feitas algumas atividades de dinâmica de grupo para que isso seja comprovado. O grupo deveria atingir um estado de equilíbrio que seria o estado da cooperação, no qual os indivíduos, considerando-se como iguais, podem controlar-se mutuamente e atingir, assim, a objetividade. Desta forma o capitão do time, que seria a liderança emergencial, deveria ser escolhido pelo grupo a cada jogo como forma de avaliar e recolocar as qualidades de cada um em evidência. As habilidades individuais não devem se constituir num objetivo em si, mas num coletivo e a cooperação permanece ate nas intenções do grupo. Concluímos usando uma afirmação de Piaget onde ele diz: “A regra coletiva, em conseqüência, surgirá como produto tanto da aprovação recíproca de dois indivíduos como da autoridade de um sobre o outro”.
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Um comentário:
Oi Beta, esse teu comentário é de muitíssima importância. Creio que a CBF tem que lê-lo com muita firmeza e atuar com objetividade. Tenho absoluta certeza que disso pode depender nossas possibilidades de êxito em 2014 ou apenas que tenhamos uma nova decepção. Claro, não estamos dizendo aqui que vamos ganhar a Copa. Mas certamente se tomarmos em conta as tuas recomendações, faremos uma apresentação excelente. Não preciso lembrar que ninguém ficou insatisfeito com o time brasileiro em 1982 na Espanha, apesar de não termos conseguido o título.
Creio que é hora de convocar a todos os pais, mães, ex-pais e ex-mães, alunos e ex-alunos da Chave, que hoje estão presentes em todos os lugares do Brasil para agir, para ajudar. O processo de desenvolvimento do nosso país não pode ficar somente nas mãos do governo. Alguém duvida?
E quem mais capacitado a entender tuas “súplicas” a favor da educação, que todos nós que algum dia fizemos parte dessa grande obra que é a Chave do Tamanho? Obviamente há vários movimentos muito importantes no país nesse sentido, vários, mas ainda são poucos. Nossa ajuda, nossa participação é fundamental.
Como você bem sabe, Beta, tenho certeza absoluta que a educação não terá nenhuma chance se voltarmos ao caminho do capitalismo, ou neoliberalismo. De todos modos, independentemente que alguns de nós nos situemos politicamente de um lado ou de outro, todos, absolutamente todos no Brasil devemos ajudar no processo do seu desenvolvimento, principalmente no que diz respeito à educação.
Para começar, e voltando ao teu excelente comentário, aqui de muito longe rogo a que algum de nós, faça chegar essas palavras tuas, Beta, à CBF. E não é que devemos fazê-lo, é que temos de fazê-lo. E já !!
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