quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Como construir um bom aluno (II)


    Vamos discutir o que é um “bom aluno”. O que significa isso, como se criou essa imagem e por que devemos identificar “para quem” é “bom”. Sim, porque ser bom é questão de contexto, evidentemente, e isso equivale a dizer que o “bom soldado” é aquele que mais mata e obedece ordens cegamente, por exemplo. Ser um “bom prisioneiro” corresponde a figura do que tem menos intenção de fugir da prisão. Ser “bom” não necessariamente equivale a ser o melhor ou estar ajustado às demandas gerais, e sim atender a uma expectativa pontual, a um perfil de momento.
    Alunos que em pleno século XXI tiram boas notas num sistema que privilegia conteúdo... São realmente bons? São bons para quem? São bons para quê?
    Para a escola tradicional, o bom aluno é aquele que não dá trabalho e tira “boas notas”. Para os pais, é aquele que se sai bem nos exames que realiza e não se mete em "confusão". Mas isso realmente define um bom aluno?
    Uma das coisas que mais me impressiona é que ninguém nunca perguntou para os alunos o que é bom. Ninguém quer saber se eles realmente gostam da escola em que estudam, fazendo valer aquela expressão: “Vai ser duro, mas é o melhor para você”. Não se pergunta aos alunos o que acham das provas a que são submetidos, e se o s que tiram as melhores notas são realmente os melhores alunos de sua turma. Será que algum aluno sabe porque aquele que é quieto e não  socializado é considerado um “bom aluno”? Quem tira a melhor nota é o aluno melhor da turma mesmo? Alguma vez foi analisada a performance do professor, que não tem um sociograma para se guiar e avalia de maneira empírica seus alunos, determinando quem é bom e quem não é ao seu belprazer? Sim, porque um sociograma poderia indicar que lideranças surgem em diferentes atividades, sendo uma ferramenta poderosa para ativar competências.
Listo aqui algumas coisas que deveriam ser consideradas para que se pudesse determinar o que é um bom aluno:
1) a criança ou adolescente deverá gostar da escola e respeitá-la; a escola deverá ser o ponto de referência para os alunos;
2) deve ter amigos na escola com quem conviva também fora dela; seus amigos devem ir a sua casa para conhecer seu ambiente familiar;
 3) ter por parte dos pais e familiares uma cobrança saudável, que respeite as possibilidades reais da criança ou adolescente, numa avaliação que ultrapasse suas notas, mas que considere também de realização das atividades extra curriculares e de socialização;
4) Incentivo  aos alunos por parte dos professores, pais e familiares para que sejam valorizadas as áreas onde eles tem maior desempenho, deixando as áreas não tão bem desenvolvidas em um plano que possam ser avaliadas e trabalhadas, mas  sem stress;
5) escola, professores e pais devem tentar descobrir os interesses e capacidades de seus alunos/filhos, aquelas onde eles possam ser brilhantes, curiosos e interessados - todos tem estes quesitos que podem e devem ser explorados.
Em resumo ser um bom aluno depende muito mais da escola e familiares do que da própria criança ou adolescente. Toda criança/adolescente, diz o prof. Lauro de Oliveira Lima, "quer antes de ser um bom aluno, aprender e ser amado"; logo, se tivermos a disponibilidade de amá-los, teremos bons alunos com certeza.
É muito equivocada a idéia de formar um bom aluno; o melhor seria dizer que precisamos construir um bom aluno.
Os pais tem responsabilidade, segundo pesquisas internacionais, sobre cerca de 20% do desempenho apresentado pelo aluno. Em seguida, a qualidade da Escola entra como elemento essencial, sendo esse um caso complexo porque no mais das vezes, tem-se a impressão de que a escola sempre está certa, sempre tem razão... mas sabemos que não é assim. A Escola deverá atender às necessidades reais do aluno e ter uma metodologia que possa desenvolver ao máximo as suas capacidades, preocupando-se menos com conteúdos e mais com o desenvolvimento do ser humano. O que se vê, normalmente, é a concentração das atividades em cima de informação.
Os professores deveriam ter uma formação mais ampla, que ultrapasse a sua disciplina e alcance a área de Psicopedagogia, tendo condições de  reconhecer o nível de desenvolvimento mental de seus alunos, atingindo seus objetivos educacionais com maior precisão. A influência dos amigos e colegas de turma deve ser trabalhada através da Dinâmica de Grupo, evitando-se assim comportamentos dominantes e recessivos nas relações e valorizando a liderança emergencial, para que todos possam aprender a dar ordens e obedecê-las, melhorando o desenvolvimento afetivo dos alunos.
O chamado “talento” de cada aluno é muito discutível, já que todos podem chegar a um alto grau de desenvolvimento, não havendo diferenciação biológica (neurológica) de um aluno para o outro, sendo esta resultante da interação que cada um faz com o meio (Piaget). Para Piaget todos nascem com as mesmas possibilidades, que devem ser desenvolvidas, não aceitando ele o inatismo, onde alguns nascem com maiores condições que outros.
Portanto, ser um bom aluno é bem mais do que se pensa e bem menos complicado do que se imagina. A maneira de agir de educadores e pais será determinante para que, um dia, possamos vislumbrar um sistema de ensino onde todos serão bons alunos, na medida das suas possibilidades.

Beta
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