quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mãe ... uma mulher, mil papéis, muitas condições


Lendo, na revista VEJA (Edição 2226, de 20 de julho de 2011), a entrevista da filósofa francesa Elisabeth Batinder, que tratava do tema O MITO DE SER MÃE, gostei da abordagem e resolvi fazer algumas observações à luz das teorias de Jean Piaget.
Uma das colocações foi a de que: “O pensamento predominante no século XXI e de que há nobreza na dor do parto e que a boa mãe é sempre aquela que sofre”
   Esse é um preconceito que perdurou durante séculos, foi suplantado pela percepção de novos valores e principalmente pelo desenvolvimento da ciência – particularmente a médica – mas mesmo tendo se instaurada uma concepção de que esse sofrimento não levava a nada ... continua tendo adeptos até os dias de hoje, em pleno século XXI. Deve haver alguma relação com as práticas medievais, que  preconizavam o flagelo da carne como  prova de fé. O que em certo momento era obrigatório e sem opção, passou a ser encarado como desejável – por preconceito contra as mulheres – e a Igreja estimulou essa dor como ligação com o divino. Condição que as mulheres tinham que suportar por ... serem mulheres.
O dilema da maternidade é muito discutido e quer parecer que a mulher se santifica ao ter um filho. Temos que ter a coragem de dizer com todas as letras que tudo isso é um processo biológico necessário a continuidade da espécie e não um ato sobrenatural. A mãe pode não corresponder aos padrões que a sociedade quer dela. Esta senhora acaba de lançar um livro “O conflito: a Mulher e a Mãe” onde ela se manifesta de forma bastante polemica, conseguindo despertar a ira de feministas, ecologistas e acadêmicos. Ela vem tentando desconstruir o mito da mãe perfeita. Bate de frente com alguns dos dogmas e preconceitos que se colocam contra as cesarianas e chegam a glorificar o parto, até sem anestesia,  justificando o ato de sacrifício desde o primeiro ato (nascimento). A  evolução dos processos médicos   não é levada em  consideração.  Temos hoje métodos que conseguem proporcionar a maternidade com a maior tranqüilidade e, enquanto isso, ficam alguns grupos exigindo que as mulheres não façam estas opções, baseado que o sofrimento é necessário para  qualificá-la  como mãe.
Certas feministas politizam a maternidade e acabam exercendo uma enorme pressão sobre as mães para que busquem a perfeição. Estão contribuindo com isso para que elas regressem ao lar – um atraso”
Um grande equivoco, baseado na quantidade e não na qualidade do tempo que a mãe dispõe para seus filhos. Todos os adultos que tenham contato com as crianças devem ajudar na criação. Mesmo nas sociedades mais primitivas, como as indígenas, todos são responsáveis pelos filhos da tribo.
As mães brasileiras são as mais protetoras, cuidam dos filhotes até idade avançada. Os filhos não saem mais de suas casas para formarem as novas famílias e tratam sua família de origem como a definitiva. O sacrifício das mães é visto como natural em nossa sociedade, mantendo os filhos como verdadeiros “reizinhos” que tudo podem e tudo querem.
Muitas mulheres que não querem ter filhos são forçadas, pela sociedade, e tornam-se mães impacientes, frustradas  e medíocres citando Elisabeth Badinter. Isso acontece por causa dos mitos que levam a dizer que a mulher só se torna realizada com a maternidade. Falso.
Os movimentos feministas talvez tenham oprimido mais a mulher. Temos que deixá-la em liberdade para que possa tomar decisões,  muitas vezes tão importantes como essa de ter ou não filhos.
Temos então o problema de mulheres que, não tendo feito a opção pela maternidade, vivem o constrangimento de ter uma prole para agradar a sociedade ou seu companheiro ou marido.
Ser mãe não e uma extensão natural da natureza feminina. Todas as características atribuídas às mães podem estar nos pais também, depende da sociedade onde se desenvolvem. Carinho, ternura e compaixão devem aparecer em todas as criaturas humanas. As mulheres com alto nível de escolaridade, de acordo com Elisabeth Badinter, estão optando por não ter filhos já que estão muito engajadas no mercado de trabalho e o tempo exigido para a maternidade não cabe em seus compromissos.
Entre os preconceitos, vão surgindo alguns que são complexos. Por exemplo, mães que tem a intenção de adotar crianças, mas se recusam a assumir determinadas ofertas para adoção por considerarem que vem com uma carga sociológica pré-existente. As crianças serão aquilo que você vai construir e não o resultado de qualquer conjugação de fatores anteriores. Filho de peixe ... peixinho é... não é verdade para o ser humano.Ser uma boa mãe é manter eqüidistante seus desejos e os desejos de seus filhos, vivendo sua vida sua filha e deixando seus filhos viverem e se desenvolverem sem serem sufocados pela grande MÃE. Mães que oferecem uma dedicação  incondicional, baseada numa interpretação equivocada da psicanálise, conseguem efeitos desastrosos para seus filhos.
Embora até hoje estejamos vendo, como no Século XVIII, a proposta da família baseada no amor materno como preconizada por Rousseau, o fato é que a sociedade mudou muito. Em verdade, todos devem participar da criação das criança, tendo a escola hoje um papel fundamental.

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