Estimular o desenvolvimento da inteligência das crianças é a base da pedagogia piagetiana, que dispensa os currículos e métodos tradicionais de aprendizado. Na escola piagetiana as crianças se divertem descobrindo ou inventando (física ou matemática). O currículo é determinado pelo nível de desenvolvimento através das provas piagetianas (conservação do numero, substância peso, volume, etc...). O segredo do sucesso das crianças piagetianas não está na inteligência “inata”, pois essa não existe para Piaget, mas nos estímulos que recebe na hora certa para provocar o seu desenvolvimento. Inato para Piaget são apenas os reflexos, que dão inicio ao movimento de desenvolvimento (a priori funcional).
Todos os interessados em que crianças ou adolescentes não se tornem um poço de decoreba estão procurando no epistemólogo suíço Jean Piaget o respaldo para a formulação de suas metodologias. Em vez de adotar o processo de memorização, exercícios e adestramento, os piagetianos centram seu trabalho na estimulação do processo mental. O planejamento deve ter rigorosa seqüência lógica, visando atender a criança/adolescente, respeitando seu desenvolvimento. Na “A Chave do Tamanho” (escola piagetiana que funciona no Rio de Janeiro há quase quarenta anos) adotamos estes princípios, baseados em Piaget, através do Método Psicogenético criado pelo Prof. Lauro de Oliveira Lima, já apresentado no seu livro “Escola Secundária Moderna” editado pela primeira vez em 1962. É um método que se organiza sucessivamente, de acordo com o estádio de desenvolvimento mental da criança e do adolescente (psicogênese). Enfim, é a criança que determina como o professor deverá apresentar as situações didáticas, já que, em cada estádio, o aluno apresenta diferentes esquemas de assimilação e, portanto, maneiras diferentes de aprender. As crianças devem ser distribuídas em seus grupos de acordo com suas estruturas mentais, não sendo valorizada a idade cronológica como fonte de nivelamento. Os testes ou provas piagetianas servem para indicar em qual grupo a criança deve ser inserida.
Como o método psicogenético funciona na prática no dia a dia.
Para entender o Método Psicogenético, é preciso ter em mente as três correntes de pensamento que orientam os métodos educacionais. Uma é o “Inatismo”, que reza que as crianças já vem inteligentes, o que está descartado do ponto de vista cientifico, pois nem o ato de mamar é inato, sendo realmente uma aprendizagem. A criança nasce com o reflexo de sugar, mas tem que aprender a mamar. Aliás, quanto mais inteligente na escala zoológica, menos coisas inatas faz o animal. Esta corrente tem escolas que esperam que a criança apresente seu comportamento inteligente vindo de sua carga genética. A outra corrente, muito aplicada nos EUA e nas escolas ditas tradicionais é o “Behaviorismo”, que defende o principio de que não há praticamente nada inato na criança e tudo virá de seu contato com o meio ambiente. Daí alguns seguidores desta corrente a chamarem de tábua rasa ou caixa negra. Essas escolas estão baseadas em exercícios (repetição), onde os mestres consideram que treinando as crianças, elas conseguem adquirir o conhecimento, o que não se apresenta como uma verdade já que com o passar do tempo, logo tudo será esquecido. São também usadas as coisas decoradas, múltiplas escolhas, decoreba da tabuada e fórmulas matemáticas. Piaget é o introdutor do “Interacionismo”, que significa que todo o contingente interno (neurônico) e os vindos do meio se influenciam, numa complexidade crescente, construindo a inteligência. Não existe uma criança pouco inteligente e sim pouco estimulada, se não houver, é lógico, algum problema biológico (síndrome que afete o seu desenvolvimento). As crianças, se não forem estimuladas, podem atrasar cada fase de seu desenvolvimento. Por exemplo, as crianças muito assistidas na 1ª infância ficam atrasadas sensório motor (0 a 2 anos) e se elas são colocadas para resolver pequenos problemas se desenvolvem, por estimularem as ligações neurônicas. Na 2ª fase se não ouvirem historias, televisão, conversas, desenhos animados, teatro, isto é, se não ficarem expostas ao pensamento imagético, não desenvolvem o período simbólico (2anos a 4/5anos). Isso acontece em todas as fases do desenvolvimento.
Concluímos assim que é necessário propor situações-problema para que as crianças fiquem inteligentes, com todas as suas possibilidades desenvolvidas. Todos os conteúdos são então trabalhados em forma de situações-problema e os alunos devem tomar consciência dos mecanismos que utilizaram para resolvê-las.
É muito importante a gradação destas atividades para que a criança possa perceber com seus esquemas o que estamos pedindo. Avaliação não é feita pelos resultados, mas pelos mecanismos mentais que foram utilizados. Todas as atividades são propostas em dinâmica de grupo para que ocorra a socialização das crianças. A ultima fase do desenvolvimento só ocorre se o sujeito estiver inserido no grupo (abstrações).
Para Piaget a grande alavanca do desenvolvimento mental e do equilíbrio emocional é, justamente, a socialização – a capacidade de cooperação (moral). Os professores são chamados pelos nomes ou simplesmente por “prô” e são os encarregados de incentivar a solidariedade entre as crianças para que superem o confinamento afetivo a que quase toda criança está sujeita dentro de sua família. Os professores piagetianos, durante o treinamento, são orientados a não dizer a palavra “não” para seus alunos, durante seu trabalho com as crianças. O “não” já é muito desgastado dentro das famílias e o professor deve sempre oferecer uma alternativa positiva (“é tempo de....”). As crianças estão assistidas durante todo o tempo que estão na escola. Não temos o chamado “tempo de RECREIO”, porque é nesses momentos que as crianças estão entregues à própria sorte. Na escola piagetiana é “ tempo de pátio”, onde os professores promovem atividades como jogos de bola, deslocamentos, etc...
Todas as atividades são dirigidas (diretividade); a forma como a criança realiza a atividade é que a deixa livre. Não existe um resultado esperado como certo, pois a resposta dada pela criança corresponde a seu nível mental. As regras são colocadas para as crianças de forma heteronômica (vem de fora), para que as crianças aprendam a conviver em sociedade e possam em seguida construir suas próprias regras, para elas mesmas e para seus companheiros de brinquedo. As crianças gostam de regras. Querem saber quais são as normas para obedecê-las. Todo material da escola é coletivo, inclusive as mesas. Não trabalhamos com carteiras individuais.
Os pais, numa escola tão diferenciada, também são assistidos, ficando a cargo da escola orientá-los através de reuniões e circulares pedagógicas, que ajude-os a manter a mesma direção dada pela escola. Uma escola piagetiana é uma escola pela Inteligência.
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