Por que existe uma raiva enorme por aqueles que fizeram uma opção sexual diferente da que se convencionou chamar “normal”? Esse é um comportamento que ainda não ficou claro, que é difícil de abordar mas que está se tornando obrigatório em uma mesa de debate entre escola e família, para que seja estudado com isenção e permita que os atingidos sejam ajudados – tanto agressores quanto vítimas.
Entendo que a questão MORAL está na base de tudo isso, tendo em conta que essas pessoas (jovens ou não) deixaram de desenvolver a moral da cooperação e ainda estão ligadas a moral do dever, e portanto cheio de preconceitos. O preconceito surge por volta dos 4/5 anos e só desaparecem se forem trabalhados através da Dinâmica de Grupo. Para que isso aconteça, são necessárias discussões sucessivas que promovam paulatinamente a mudança do pensamento infantil para o pensamento adulto. Curiosamente, a MORAL não tem um desenvolvimento natural, necessitando ser provocada para que um novo modelo se instale. O processo, quando bem sucedido é extremamente forte, com a criação dos valores que certamente tornam o convívio social possível em bases de respeito e harmonia, tanto que podemos verificar claramente quem se desenvolveu ou não por suas posições. Defensores dos direitos humanos, por exemplo, tem uma visão clara e lutam pelas suas idéias tanto quanto os defensores da tortura. No entanto, é difícil trabalhar a MORAL nas crianças, principalmente por causa da influência da família. Se, porventura, membros da família estão arraigados a valores morais atrasados, isso se reflete sobre a criança, que toma a informação como verdadeira, proveniente de fonte confiável (pais, avós) e mantém-se presa a esses valores. A escola tem papel fundamental nesse desenvolvimento, mas como nada vem sendo feito, o que vemos são jovens sem qualquer parâmetro MORAL mais elevado.
No recente caso de São Paulo, onde um grupo de adolescentes espancou pessoas sob a “justificativa” de que as mesmas eram homossexuais, a mídia informou, com certo ar de espanto nos textos e nos rostos dos apresentadores de telejornais, que os mesmos estudavam em escola de classe média alta, e que, portanto não deveriam praticar esses atos. E eu me pergunto qual o motivo dessa alegação. São essas escolas que preparam os jovens que entram nas universidades e promovem um “rodeio de gordas”... Ora, em nada difere um espancamento de um ato psicologicamente arrasador como o praticado em uma importante universidade estadual paulista em jovens mulheres acima do peso. Viver em sociedade é outra coisa, como sabemos, e demanda cooperação e socialização para tenhamos todos a chance de evoluir em conjunto.
Estou convencida, de que temos que pensar num programa de desenvolvimento da MORAL urgente, para ser implantado nas escolas, nos clubes, nas agremiações esportivas, onde quer que jovens se reúnam para conviver. Temos que trabalhar com os jovens, porque dificilmente conseguiremos reverter a posição dos adultos nesse aspecto.
Uma coisa que é fundamental para que toda essa discussão faça sentido é que os pais saibam – pelo menos saibam – que há uma relação direta entre o que pensam, fazem e praticam e aquilo que seus filhos têm como modelo. Quando os pais fazem o julgamento da ação de seus filhos a partir de quanto foi o prejuízo que ele causou do ponto de vista material, as coisas se complicam. A repressão ou o castigo passam a ter uma relação meramente econômica, e isso não ajuda em nada na reflexão das conseqüências dos atos por parte do jovem. Naturalmente, os pais que assim procedem estão fazendo um julgamento que não leva em conta nenhum valor moral, porque não vêem isso.
A escola tem uma missão maior, que é a de tratar das questões relativas a moral envolvida nos episódios durante a vida de relação. É preciso que possamos falar um tom acima da moral dos familiares, para que novos elementos sejam incorporados ao repertório dos jovens. Quando um pai deixa uma criança fazer o que quer, deixa o espaço livre para que elas façam o que eles gostariam, na verdade, de fazer. Todas as faltas cometidas pelas crianças devem ser avaliadas e discutidas para que ocorra uma tomada de consciência, única forma de se aprender de fato alguma coisa. Não é recomendável, na educação das crianças, deixar passar fatos sem a devida análise dos adultos que as cercam.
Crianças e adolescentes podem ser diretamente beneficiados pela escola pois é naquele ambiente que ela estará com seus pares, podendo avaliar constantemente os comportamentos, descubrir regras, trabalhar o cumprimento delas e desenvolver a noção de justiça. É de grande importância a Dinâmica de Grupo em todos esses casos, porque o professor pode colocar questões, observar o desenvolvimento da discussão e questionar os pontos de acordo com o desenrolar da discussão.
Crianças até os 11/12 anos precisam do adulto para fazer os julgamentos. Adolescentes precisam de discussões e questões muito bem colocadas pelos adultos para desenvolverem seu julgamento moral. O que precisa ficar claro é que a MORAL se desenvolve, não sendo, portanto inata. Não existem genes de alta moral ou de baixa moral.
A reflexão moral teórica consiste numa tomada de consciência progressiva da atividade moral propriamente dita. É importante que as ordens sejam compreendidas pela criança para que não sejam apenas uma relação autoritária provocando, infalivelmente, o aparecimento do realismo moral.
Devemos lembrar que aos 3/4 anos as crianças já conseguem diferenciar as faltas intencionais e as infrações involuntárias ao código das regras morais, então estes jovens de 16, 17e ate19 anos não sabiam o que estavam fazendo?
Temos que trabalhar para levar as crianças a cooperação, porque somente ela pode fazer a criança sair de seu estado inicial de egocentrismo inconsciente. A cooperação deve aparecer por volta dos 10/11/12 anos.
O adulto age quase sempre para reforçar na criança seu egocentrismo sob seu duplo aspecto intelectual e moral, muitas vezes inoportuno no desenvolvimento social das crianças. Por que fazem isso? Para ter a criança sobre seu jugo (eles querem ficar sempre mandando) e infelizmente a maioria dos pais são psicólogos medíocres e praticam a mais contestável das pedagogias morais. Os pais então querem pegar as crianças em faltas, ao invés de prevenir as catástrofes. Tem prazer de aplicar sanções e usar sua autoridade. Uma espécie de “sadismo” que faz com que eles “quebrem a vontade da criança” só para provar a ela que existe uma vontade superior (a deles). É grave que o prestigio da palavra predomine sobre qualquer experiência ativa e qualquer discussão livre, logo as crianças não aprendem. O bem, é obedecer a vontade do adulto. São conclusões baseadas no pensamento de Piaget sobre o desenvolvimento da MORAL.
Beta
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