Abandonar (Dicionário Priberam | http://www.priberam.pt)
abandonar
v. tr.
1. Deixar ao desamparo; deixar só.
2. Não fazer caso de.
3. Renunciar a.
4. Fugir de, retirar-se de.
5. Deixar o lugar em que o dever obriga a estar.
6. Soltar, largar.
v. pron.
7. Dar-se, entregar-se.
8. Desleixar-se, não cuidar de si.
Abandonar, como se vê, é mais do que apenas largar de lado. E largar de lado já é uma coisa muito triste, quando largamos de lado outros seres humanos – geralmente aqueles que, de alguma forma, foram nossos afetos.
Abandonar é um ato de covardia, de desprezo, de irresponsabilidade, de desamor. Ao abandonar algo ou alguém, estamos criando uma situação que servirá de modelo àqueles que, no futuro, irão também nos abandonar.
Os principais abandonados de nossa sociedade são aqueles que chegaram a 3ª. Idade e isso constitue uma situação crítica em vários sentidos. Em temos de Moral, estamos falando de algo que não deveria acontecer de jeito nenhum. Em termos de humanidade, de uma prática comum em tempos idos, que já deveria ter sido abolida pelo desenvolvimento da humanidade, mas que ainda é comum. Curiosamente, embora as crianças sejam também abandonadas, existe muito mais solidariedade para com elas. Foi o caso da criança recém-nascida que, depois de parida, foi lançada pela mãe dentro de um saco plástico para dentro de uma casa vizinha. E sobreviveu depois de 12 horas de luta. Foi resgatada pelos Bombeiros, e a polícia quase imediatamente descobriu que a mãe era uma adolescente que morava numa casa vizinha, tinha escondido a gravidez e feito o parto sozinha.
O fato é que a criança sobreviveu e milhares de cartas e emails estão chegando ao Conselho Tutelar da cidade com pedidos de adoção. Muito bom.
Mas tente pegar um idoso e, mesmo sem colocá-lo num saco plástico, largá-lo na rua. O que você acha que acontece numa situação como essa? Nada! Esse idoso ficará ali, largado, sem que ninguém se aproxime sequer para saber se está vivo ou morto. Até que algum serviço venha recolhê-lo ... pode ser tarde demais. Estamos falando aqui de uma situação drástica, extrema. Mas e quando o mesmo acontece de forma velada?
A longevidade da humanidade vem aumentando sempre, e no Brasil não poderia ser diferente, tendo em conta os avanços da medicina e o acesso que a população vem tendo a medicamentos e atendimento preventivo em muitas áreas. Hoje, a expectativa de vida dos brasileiros que nasceram a partir de 2009 é de 73,1 anos, de acordo com o IBGE, um crescimento de 10,6 anos em comparação com 1980. Ora, isso é um elemento que precisa ser incorporado aos nossos processos de desenvolvimento, até porque TODOS NÓS seremos idosos em algum momento.
Algo que é de fácil observação é o “medo” que os jovens têm dos “velhos”. Não são treinados em momento algum para estar juntos, dar carinho, ouvir o que eles têm a dizer, trocar idéias, conviver... Isso é claramente reflexo da maneira que seus pais se comportam com relação a questão. Estão replicando um modelo e irão replicá-lo muito mais vezes, chegando até a rejeição desses mesmos pais em algum momento – porque estarão velhos!
Não foi criado, em nossa sociedade, um comportamento que dê acolhida a estes que tiveram o “azar” de chegarem vivos a uma idade muito avançada. E por idade avançada, entenda-se o que quiser. A idéia prevalente é a de que vida é juventude, saúde, disposição, alegria. A mídia estimula, mantém um estereótipo do que é bom e exclui o idoso de praticamente qualquer modalidade de prazer. Algumas famílias me parecem ficar tristes por seus idosos não terem Alzheimer, porque na medida em que estivessem de posse de um dignóstico assim, poderiam justificadamente interná-lo sem remorsos e sem qualquer avaliação negativa, por menor que fosse, de seus pares. E estariam livres do peso que representam aqueles que chegaram saudáveis à 3ª. Idade. Um idoso doente pode se tiver recursos, ficar em um bom asilo, com acompanhante. Se não tiver recursos, fica largado à própria sorte. Só não deve “incomodar” os parentes.
Mas o que passa pela cabeça do idoso plenamente capaz, com seus sentidos alertas, com sua mente captando os movimentos do meio, as interações sociais, as emoções ao seu redor? Bem, claro está que terá a mesma percepção que aqueles com menos idade. Se reagirá ou não, isso vai depender muito de sua personalidade e de sua autoestima nesse momento da vida, mas certamente vai se perguntar sobre o que fazer numa situação como essa. Será que filhos, netos, sobrinhos e outros parentes não tem tempo para dar um pouco de atenção para mim? Será que só eu, idoso, sinto falta dos familiares? Será que essas criaturas que eu gerei, criei, amei, eduquei, presenteei, curei, embalei, hoje não tem a menor vontade de sequer se aproximar de mim? Não sentem falta de seus velhinhos?
Vamos ter que pensar muito bem em como nossa sociedade vem educando seus membros, e qual o nível de moral dos jovens que deixam de lado tanta experiência acumulada para sempre começar do zero. Com toda sua experiência cultural ou prática, os idosos seriam um banco de dados formidável a ser acessado constantemente em prol da evolução da sociedade. E estão sendo desperdiçados. Quantos erros deixariam de ser cometidos de maneira contínua simplesmente porque aqueles que já viveram a experiência poderiam relatar, sabiamente, seus passos e descompassos ao longo da vida. Para que começar do zero sempre?! Podemos fazer um trabalho cumulativo aproveitando todas as experiências vividas por pessoas que experimentaram muito ao longo de suas longas vidas. E o melhor, nunca vi um idoso que se recuse a contar sua vida. No mais das vezes, ninguém quer mesmo é ouvir o que ele tem a dizer.
A forma como educamos nossos filhos, vai gerar o mesmo desamor que temos pelas gerações passadas. Nossos filhos sabem do abandono e farão o mesmo conosco. Será que não podemos educar esta geração para o amor com aqueles que tanto serviram no passado? O abandono pode ser de diversas formas, moral, espiritual e físico, mas todos tem a mesma característica: não quero ver o “problema”! Este “problema” não é meu!
Será que eles não merecem nem uma atenção dos familiares mais próximos? Onde estão os filhos, netos e parentes? Todos trabalhando, estudando, correndo numa sociedade sem limites para onde? Para ficarem Idosos. Estes jovens de hoje serão os idosos de amanha e se não forem mudadas as regras afetivas acontecerá com eles aquilo que estão fazendo com seus pais e avós.
Na moral da cooperação, quando atingimos as operações formais, surge a forma mais rica de doação. É quando doamos sem esperar nada em troca. O difícil é a sociedade como um todo atingir esta modalidade de moral. Geralmente o grupo básico fica na “moral do dever” que é representada pelo “olho por olho, dente por dente” (característica das crianças de 6/7 e 8 anos + ou-). Nossa sociedade está voltada para a troca e não para a doação. Acho ate que papai Noel é simbolizado por um velhinho por causa de sua forma de doação. É o único que doa sem esperar nada dos outros, nem um simples muito obrigado. Os velhinhos são assim. Se doam sem nada querer em troca. Não estão mais ligados em objetos materiais, coisas boas ou ruins. Simplesmente em gestos, palavras e carinho.
Nesta época de festas fico imaginando quantos velhinhos ficam sozinhos e o por que de tanta solidão? Muitos têm grandes famílias e não precisariam estar largados, mas já não são tão ativos e podem dar “trabalho”.
Um idoso é uma nova forma de ser criança e precisa somente dos cuidados básicos e de AMOR. Mesmo quem não sabe amar pode fazer um exercício para aprender com o idoso mais próximo de sua vida. Amar sempre traz resultados assustadores de calma, bem estar e tranqüilidade.
Vamos fazer uma campanha para AMAR OS IDOSOS.
Beta
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