sábado, 27 de outubro de 2012

Gênio ??? É melhor procurar na garrafa.

A humanidade sempre se impressiona com pessoas que tem um diferencial marcante do ponto de vista intelectual, rotulando-as como gênios. Nos nossos tempos, a mídia vem buscando exemplos disso e fazendo grande alarde sempre que encontra alguém com essas características. Gênios existem na vida real ou são apenas encontrados em garrafas? Um modelo que chama a atenção é o fato de que, nas Olimpíadas de Matemática, observadores ficam atentos a alguns dos jovens que participam e dão o título de gênios àqueles que resolvem alguns dos problemas propostos pela instituição organizadora – que tem a missão de propô-los durante o evento. Há alguém que acredite que esses jovens tem algum diferencial? A resposta é sim, milhares ... e isso é lastimável.

Piaget, grande epistemólogo suíço (estudioso do conhecimento) sempre disse que gênios não existem. Esses jovens tem o mesmo desenvolvimento de milhares de outros, mas foram treinados para apresentar resultados. Fica a pergunta: o que queremos realmente do desenvolvimento humano? Como é a vida desses jovens? É a vida que consideramos integral ou apenas o resultado da aplicação do lema “pratique, pratique, pratique”. O resultado final é o de um treinamento massacrante e não um desenvolvimento completo. Os problemas a que são expostos não trazem criatividade, mas apenas memória.
Os grandes campeões dessas maratonas têm sido os orientais, mestres nos treinamentos, que trabalham com reforço da disciplina, manutenção do foco, repetição que leve à “perfeição” na hora de executar um modelo de trabalho.  Mas será que expostos a tudo isso, esses jovens se tornam capazes de resolver problemas da vida diária? É um teste decisivo verificar como se comportam em sociedade, saem em busca de experiências, se tem amigos. Não sei como vivem, mas posso supor que vivem em função de apresentar resultados esperados por quem os treina.
Importante levar em consideração, quando analisamos a situação como um todo, é que a matemática e a vida não são “fórmulas” ou “problemas fechados”, e isso é uma verdade cada vez mais reconhecida, num mundo em transformação. Houve um tempo em que o contexto permitia excelência na repetição de um problema, de tal forma que experiência era o resultado de vinte anos de repetição. Mas numa sociedade que acorda de manhã e já não tem certeza de que o que valia ontem a noite ainda é válido... sem criatividade, flexibilidade, capacidade de adaptação fica muito difícil de tocar adiante. Classificar, seriar e ordenar são fundamentos da matemática que vão refletir na vida das crianças e jovens. Como será que esses meninos entendem Ética e Moral? Isso seria muito interessante de investigar, porque teríamos uma dimensão do desenvolvimento global desses jovens Não existem gênios “compartimentalizados”, e acredito que TODAS as crianças podem ser rotuladas como “gênios”.
No caso da mídia, fica a necessidade de criar um fato “especial” numa matéria, quando pegam um desses meninos e pedem demonstrações de habilidade matemática. Acho que se sentem confortáveis, mostrando uma educação antiga, onde saber coisas era mais importante do que saber utilizar os conhecimentos aprendidos. Temos que ensinar os meninos a aprender, sempre. Ensinar a viver em sociedade. E até deixar claro que ter um conhecimento grande sobre alguma coisa e não compartilhar com os outros é totalmente irrelevante do ponto de vista do desenvolvimento do mundo em que vivemos. Se todo esse esforço é feito somente para ganhar uma medalha, fica a pergunta: e daí?

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