sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O PAI pode estar atrasado



   No convívio com famílias, principalmente com as crianças, estou percebendo uma situação que me chama a atenção pelo inusitado: a perda de “prestígio” dos pais (os elementos masculinos dos casais). Será que nossa sociedade está se firmando como matriarcal?  Por exemplo, no dia das Mães, as crianças se mobilizam, vão para a escola felizes para as tarefas de preparar presentes que serão dados em festas cheias de emoção. Revistas e jornais se desdobram para fazer reportagens de alto conteúdo emocional, com fotos belíssimas de cenas repletas de amor, carinho, proteção, ternura, cuidados, etc.
   No dias dos Pais, a mesma mídia é muito mais contida. Os espaços são limitados, as matérias falam mais sobre aqueles pais que efetivamente agem como tal, dando a eles uma característica diferenciada. Ser PAI, na acepção do termo, parece ser uma situação especial, o que nos leva a imaginar que, na maioria, os homens não atendem, em média, a essa condição. Cheguei a ler uma matéria que  enaltecia o fato de alguns pais estarem “assumindo” seus filhos mesmo que tardiamente, indo aos cartórios de registro para alterar a documentação das crianças, que inicialmente estavam registradas somente em nome da mãe. Uma espécie de resgate da paternidade, mesmo que tardiamente.
Achei importante fazer essas colocações, ainda que sem juízo de valor nesse momento, principalmente para chamar a atenção para um fato que vai se repetindo e para o qual eu, como educadora e diretora de escola, tenho que estar atenta, visto que essas ocorrências estão no DNA da família, sempre em transformação.
   Nas separações de casais, fato corriqueiro nos dias de hoje, muitas vezes os pais se sentem desobrigados emocionalmente quanto a criação das crianças do ponto de vista afetivo. Suprem as carências básicas, dão pensão, fornecem elementos de sobrevivência e até condições de vida acima da média. As crianças ficam aos cuidados da mãe, que mantém o contato direto e o vínculo emocional com todo o processo de desenvolvimento da criança. Desse fato, vão surgindo novas leituras da parte daqueles que dependem dos adultos para sobreviver tanto física quanto emocionalmente – nossos filhos. Por conta de coisas assim, as mães muitas vezes tratam com menor intensidade e cuidado a imagem dos pais, distantes ou pela separação ou por condições de trabalho. Já presenciei vários casos em que a criança diz que não convive com os pais, embora more na mesma casa. Quando questionada sobre o assunto, a resposta é: “meu pai trabalha muito”. Essa é a leitura da criança, embora do ponto de vista social o acordo seja outro. O fato é que, a ausência do pai, torna a mãe o elemento chave de todo o processo de formação de uma criança.
   A questão é pensar em como isso altera toda a estrutura de vida futura e de relações familiares, porque certamente acontecerão eventos mais adiante que serão decorrência direta do processo ao longo do tempo. E lá na frente, não vai adiantar reclamar. Depois de construído... não haverá meios de reverter o quadro. Será uma opção trocar a criação do seu filho pelo trabalho? Por que fica com a mãe a responsabilidade de criar os filhos pelo menos até a adolescência?
   Sozinha nessa tarefa, ela faz um modelo sem contrapontos, sendo que posteriormente entra a figura paterna para criar os constrangimentos. Não é possível esquecer que, na adolescência, muito da personalidade já estará formada e, do ponto de vista do desenvolvimento mental, esses adolescentes já estarão entrando na fase final desse processo, que são as Abstrações.
   Em um determinado momento, os pais são normalmente requisitados para colocar ordem onde a mãe, por qualquer motivo, falhou. E normalmente isso não se dá através do afeto, mas sim pela repressão. Frente a isso, não é difícil entender porque as crianças e adolescentes desviam toda sua atenção para as mães. Por essas razões, discutir o papel da família é fundamental, porque ele vem sendo bastante modificado nos últimos tempos em virtude das transformações da própria sociedade.
Finalmente, os pais vão precisar fazer um grande esforço para continuar a ter um papel maior do que o de provedor. Vai ser preciso resgatar o afeto de seus filhos. E isso toma tempo, requer atenção e exige empenho. É um trabalho que não pode ser postergado, porque quando houver a intenção de assumir essa função, pode já ser tarde demais.

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