Muito se tem falado sobre “revolução tecnológica” associada a Educação. Inegável a contribuição, mas não decisiva. E, mais ainda, a introdução do computador nas escolas não garante a aprendizagem tão apregoada – e estamos falando dos níveis básicos de aprendizagem.
A primeira grande revolução no processo educacional, foi a escola propriamente dita, que surgir a mais de 2 mil anos atrás, e evoluiu pouco até nossos dias, por incrível que pareça. Alguns teóricos consideram que a segunda grande revolução foi o Livro, a partir daquilo que se tornou possível a partir do que foi realizado por Gutenberg e seu tipo móvel. A terceira grande revolução seriam as tecnologias digitais, mas isso até agora não esta bem explicado e continua sendo discutido na medida em que aprendizagem não é uma mera exposição de conteúdo. Há todo um caminho a ser seguido para que o indivíduo passe do sincrético, pelo analítico para o sintético.
Computadores, como as máquinas de uma forma geral, servem de suporte. Não mudam nada, a não ser a quantidade de informação disponível em tempo real, de forma organizada e pronta para consulta direta ou desdobrada por similitude. Isso é de extrema importância, mas não resolve o problema que é o de um aluno “assistir aula”. Que venham sempre os computadores, mas que se mude a maneira de dar aulas, porque o modelo atual já está vencido, e faz muito tempo.
Não é possível ainda hoje alguém pensar que uma aula expositiva atinge as crianças e adolescentes a ponto de elas, efetivamente, aprenderem algo. E o pior ainda é imaginar que, quando aprende, está desenvolvendo um conhecimento que dificilmente será utilizado algum dia para qualquer coisa de relevante em sua vida. Crises sucessivas vem assolando a instituição “escola” e, no mais das vezes, culpam-se os alunos. Coisas como “são vagabundos”, “não querem estudar”, “na minha época não era assim” são ditas em alto e bom tom para justificar o injustificável, que é exatamente ninguém aguentar, em são consciência, 55 minutos ouvindo alguém falar sem poder emitir opinião a respeito e muito menos gritar que aquilo é uma tortura! Já não é mais uma questão de “tomar providências” se elas forem meramente paliativas. Vamos ter que mexer na estrutura, de alguma maneira.
Numa empresa, quando há uma rejeição a determinado produto por ela produzido, tantos quantos forem os envolvidos entram em uma verdadeira ebulição de ideias, pesquisas, contratação de terceiros para análise do caso. Brainstormings são promovidos. Gente é mandada para todo lado para entender o que está acontecendo... tudo gira em torno da solução daquela questão que pode abalar os alicerces e a credibilidade de uma organização. Com Educação, no entanto, tudo anda na velocidade do pensamento de alguém que, tendo plantado, fica sentado esperando que a chuva caia para a lavoura florescer. E o que está em jogo é muito mais do que credibilidade empresarial ou perdas financeira. O que está para acontecer é um verdadeiro desastre social, cujos efeitos já sentimos de maneira intensa nos nossos dias, e que vamos ver explodir nos nossos colos em algum momento, não muito a frente.
Não vai adiantar dar tablets, notebooks, smarthphones ou o que quer que seja para nossos alunos se eles não estiverem em condições de fazer uso dos mesmos de maneira inteligente. Como bancos de dados portáteis, eles funcionam magistralmente nas mãos das crianças e adolescentes. Mas precisamos fazer com que eles usufruam dessa enorme capacidade de informação, que tem a internet, para realizarem novas sínteses, encontrarem novas soluções, enfim ...
Precisamos mudar a metodologia e o currículo. Aquela segunda revolução, que citei acima – O Livro – ainda não é utilizada adequadamente pelas escolas. Não deveriam ser material de uso individual, mas sim coletivo. A Escola deveria ser uma grande sala de leitura. Uma verdadeira indústria surgiu, a muito tempo atrás, para desmembrar obras na forma de pequenas apostilas feitas por máquinas xerox de vende-las aos alunos. Fragmentos de conhecimento são vendidos e proporcionam experiências quebradas para atender testes pífios. E querer formar uma cultura de inovação desse jeito fica parecendo brincadeira de mal gosto, é claro. Mas é assim que funciona.
Deveríamos tirar o quadro verde ou negro das salas de aula. Aliás, o aperfeiçoamento dessas ferramentas é incrível, na medida em que já existem lousas digitais que imprimem o que foi ali escrito para que possam ser reproduzidos em xerox e distribuídos aos alunos. E eu me pergunto para que!? Se tirarmos do professor a menor possibilidade dele escrever, certamente uma nova maneira de dar aula vai ter que ser utilizada. Mas acho que eles vão deixar que os alunos leiam, discutam, experimentem e aprendam. Professores não deveriam sequer falar em sala de aula. Quem deveria falar são os alunos, na medida em que eles são o motor da história.
Toda tecnologia pode e deve chegar a escola, mas sem a grife de entidade redentora da Educação. Não podemos perder a função fundamental da escola, que é a socialização. Como disse Lauro de Oliveira Lima em vários de seus livros: “O melhor professor de uma criança é outra criança”. Sempre, na história da humanidade, quem acabou de aprender sabe os caminhos, os atalhos e os obstáculos.
A ideia de Educação a Distância (EAD) está calcada em ser mais barata, mas no final das contas, o que se vê são aulas sim, baratas, mas sim, ruins. Já está comprovado que não aprendemos pela percepção pura e simples Aprendemos através da Ação, e não adiantam aulas cenograficamente perfeitas, transmitidas online ou pela televisão para cumprir esse papel. Sem ação, não há aprendizagem. E de nada adianta a alta capacidade de penetração dessa informação nos confins do planeta se os receptores não estiverem preparados para o melhor uso que possam fazer da mesma.
Uma escola não pode ser um repositório de corpos durante algumas horas por dia. Sim, porque a essência de nossos alunos não está ali, mas onde quer que sejam mais felizes. Porque não tornar a escola o lugar da felicidade? Nossos jovens estão dormindo em sala de aula porque fora dela, tudo é cor, ação, movimento, desafio, curiosidade... e na escola... o de sempre!
E se o prêmio por tanta dor é um diploma, fica tudo ainda mais sem sentido. Para os pequeninos, não faz a menor diferença. Para os adolescentes, tudo parece muito distante. Vida é aquilo que está acontecendo agora, e o que está acontecendo agora, não é vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário