Muitas coisas são discutíveis, mesmo num caso onde tudo parece indiscutível como esse, envolvendo o goleiro (ex?) do Clube de Regatas Flamengo, que teria mandado executar sua amante (ex?)... visando pretensamente a eliminação de um débito em conta corrente mensal na forma de pensão de alimentos.
Nessa data, tudo se encontra meio nebuloso ainda, embora por entre a névoa possam ser vistos elementos consistentes de que houve um crime bárbaro perpetrado por pessoas ligadas ao referido atleta, muito embora o corpo ainda não tenha aparecido.
Numa fase como a atual, Polícia, juristas, advogados, especialistas de vários setores estão esquadrinhando, interrogando, analisando e investigando. E por outro lado, está a imprensa especulando, formulando hipóteses, bisbilhotando tudo e todos e, ao final, publicando material multimídia que vai corroborando teses montadas sem consistência ainda, formando um julgamento prévio de todos os envolvidos e determinando, de uma maneira bastante conclusiva, a formação de opiniões na população que lê, ouve e assiste os noticiários. Isso não é bom, mas é assim que tem acontecido.
Mas o que gostaríamos de fazer, nesse artigo, é trazer à baila, aos estudiosos, sobre como pensam as pessoas com relação à MORAL. Discutir como é feito o julgamento moral. Sim, porque no final de tudo, um caso como o acima citado envolve questões morais do início ao fim - se é que haverá um fim.
A Inteligência se desenvolve como já sabemos, paulatinamente, através de diversos estádios que se iniciam no nascimento (sensório-motor), indo até a idade adulta (pensamento abstrato), passando pelo simbólico, intuitivo e operatório concreto. Tal qual a Inteligência, a MORAL também tem seu desenvolvimento, e este está diretamente comprometido com a questão social, podendo o sujeito adquirir as operações formais ou abstratas (alto nível cognitivo) e não chegar ao nível mais elevado da moral, curiosamente. Isso equivale a dizer que inteligência e a moral não seguem o mesmo desenvolvimento podendo sofrer compartimentalizações ao longo do caminho.
A criança começa sua formação moral pela ANOMIA, ou ausência de regras, e isso pode ser uma fase que, se não trabalhada, passe a ser o padrão moral para o resto da vida do indivíduo. Por exemplo, se um adulto tem uma formação moral que nunca teve por base o seguir regras sociais, só obedecendo leis físicas - das quais ele não pode se livrar, como é o caso da Lei da Gravidade) - ele estabelece que as leis do trânsito, bons costumes sociais, urbanidade, respeito, etc são coisas que não precisam ser seguidas por ele. Tornam-se cidadãos acima do bem e do mal.
E se por acaso o destino o provê de um talento especial, proporcionando condições para que ele se torne um ídolo rico, importante e venerado, ou um artista de sucesso, isso cria problemas sérios para toda a sociedade. Não ter a moral evoluída, como aqueles que estacionaram na ANOMIA, dá como resultado pessoas que se sentem mais importantes do que as outras, que chegam a uma agência bancária e exigem tratamento diferenciado e consideram que ninguém vai reclamar porque sabem que ele é mais importante e pronto.
Ora, as regras, as leis, as convenções são feitas para todos, independente de raça, sexo, credo ou idade e fica aquela pergunta: porque uns devem seguir e outros não? A resposta para isso é que adultos anomicos não percebem os outros e, conseqüentemente, não desenvolvem a socialização. Vivem olhando para seus próprios umbigos, e não percebem que dependem dos outros para viver a vida em sociedade.
Depois desse período, evoluímos para a HETERONOMIA, aonde as regras vêm de fora. Quando evoluem até aqui, as crianças transformam-se em adultos que precisam ser guiados por um chefe, sem o qual não sabem o que fazer. Precisa receber ordens o tempo todo, por não conseguir determinar com o seu grupo qual a melhor solução para os problemas que se apresentam. São essas pessoas que podem, recebendo uma ordem superior, agir da forma mais brutal possível, a exemplo dos soldados nazistas na 2a. Guerra Mundial. Em Nuremberg, uma das alegações que mais foram citadas foi a de que "eu estava seguindo ordens", quando perguntados sobre como puderam agir de maneira tão cruel e desumana. Não entrou no julgamento desse indivíduo heteronomico o fato de que estaria dizimando milhares de outros seres humanos, visando o extermínio de uma raça, como no caso dos soldados e oficiais lotados em campos de concentração e extermínio.
Esse é um dos modelos mais aceitos e praticados nas forças armadas de todo o mundo, historicamente. Criar indivíduos com esse nível de pensamento parece ser uma fórmula aceita sem restrições,
Para que se possa ter uma idéia de como a coisa funciona, as crianças ficam nesse período (Heteronomia) até por volta dos 9/10/11/12 anos. É só obedecer. É a moral do dever, onde se diz que é "olho por olho, dente por dente". É o período onde se localiza a vingança, onde tudo o que for feito deve ser vingado com um revide.
Finalmente, o sujeito consegue chegar ao nível de desenvolvimento máximo da moral, que é o da cooperação, atingindo assim a AUTONOMIA. Quem atinge esse nível, entende que as regras devem existir, podendo ser inventadas, modificadas e discutidas por ele e seu grupo. Sabem que para se viver em sociedade, tem que haver uma combinatória entre ceder, se modificar e às vezes, fazer o que não se quer, em prol dos outros. A pessoa torna-se generosa, “eu faço pelo outro mesmo que ele não faça por mim”. A AUTONOMIA é a democracia onde não pode haver votação, para que uns ganhem onde outros perdem. Deve sim haver unanimidade, consenso. Uns devem convencer os outros com a argumentação lógica.
Frente a essas informações, qual deve ser a seu ver, a moral deste jovem que tenta resolver seus problemas afetivos e financeiros sem levar em conta que, do outro lado, também existe uma pessoa? Que acha que a solução está em pagar alguém para fazer algo que ele acredita ser a forma adequada de resolver o problema - mesmo sendo isso a eliminação física de outro ser humano.
Curiosamente, para algumas pessoas o problema maior do caso que estamos discutindo desde o início desse artigo, teriam sido as atrocidades feitas com o corpo da vítima, depois de sua morte - conforme um dos depoimentos cita com requintes de detalhes macabros. Mas o problema concreto é o fato de tirar a vida de alguém. Vi algumas pessoas comparando o caso do goleiro com a de um famoso jogador de futebol que vitimou quatro pessoas em um acidente de trânsito, matando-as, e que por serem quatro os mortos, esse seria mais culpado que aquele.
Ora, do ponto de vista da moral, são circunstâncias totalmente diferenciadas. A questão da morte não é mais ou menos grave pela quantidade de pessoas mortas, mas sim pelas circunstâncias como ocorreram. No caso do goleiro, a indicação é de que a morte foi premeditada, organizada, determinada, combinada, precificada. As outras quatro mortes, citadas no caso do acidente de trânsito envolvendo o famoso artilheiro, configuram o resultado de um delito de trânsito, onde não havia a intenção objetiva de matar. Não se trata aqui de defender o artilheiro, mas de dar a dimensão dos episódios à luz da moral. Todos os dois mataram, mas as circunstâncias precisam ser levadas em consideração para que possam ser julgados com imparcialidade.
Seria importante também verificar qual a idade mental desses jovens que, devido ao sucesso profissional, tornaram-se poderosos por uma situação que não exige nível mental superior. Podem ser bons jogadores apenas estando num nível sensório motor ou intuitivo, o que não acarretaria no desenvolvimento de uma moral superior. Sendo assim, estão expostos a decisões de vida que dependeriam de cooperação, mas que eles resolvem como se controlassem todas as variáveis envolvidas, o que nunca é verdade, sabemos disso.
São crianças do ponto de vista intelectual. São raros os que têm um desenvolvimento intelectual/cognitivo compatível com o papel que desempenham junto a seus fãs e a partir de seu novo poder aquisitivo. São ídolos de grandes grupos sociais e não sabem como lidar com todo este poder.
Para lidar com o poder é preciso um grande desenvolvimento moral, para não se perder e acabar usando-o contra si mesmo. Concluindo, sabemos que sendo estudiosos da psicologia, entendemos que estes rapazes devem ser amparados e preparados para a fama, para que possam usá-la com sabedoria.
Os clubes deveriam investir em trabalhos de treinamento como fazem as grandes empresas, pois as empresas de futebol não são diferentes das demais.
DINÂMICA DE GRUPO não deveria nunca faltar no treinamento destes rapazes que tem um constante desafio que e trabalhar em equipe!
Um comentário:
Oi Beta, muitas pessoas pensam que o melhor investimento para o Brasil neste momento é organizar e endireitar totalmente o setor da educação, fazendo um esforço gigante nesse sentido. Pensou-se, então, em fazer um verdadeiro mutirão pela educação, clamando a todos a exigi-lo, independentemente de religião, raça, ou partido político.
A educação será boa para o Brasil sempre, em qualquer circunstancia e quem diga o contrario não terá o mais mínimo crédito. A maioria dos brasileiros entenderá essa necessidade, temos certeza.
Assim que lhe pedimos sua enorme ajuda em divulgar esse grito nacional conjuntamente com todo o povo brasileiro para promover um mutirão sobre a educação.
Estamos convencidos que os brasileiros, todos, devemos exigir um debate de alto nível nesse sentido. E não devemos exigi-lo somente para o governo estadual, para o governo local, ou o governo nacional. Não, essa nossa exigência deve ir dirigida também (e principalmente) aos meios de comunicação. Eles têm que ouvir e sentir a pressão de um povo que já sabe para quê devem ser os meios de comunicação, qual é sua missão na construção da nossa sociedade. Eles não estão aí, sustentados por nós, só para ser cada dia mais ricos e mostrar como é a vida pessoal de umas celebridades criadas por eles mesmos.
Talvez um bom começo será que todos nós (incluindo você, Beta) enviemos cartas nesse sentido a todos os blogueiros, todos os articulistas, mostrando essa necessidade para já. As camisetas dos estudantes devem dizer: mutirão da educação já !
Gritemos todos: mutirão da educação já !Enviemos esse clamor a todos nossos amigos e familiares e peçamos que eles também façam o mesmo. Temos todos que fazer a nossa parte independentemente de partidismos. Não caiamos numa guerra partidista exagerada que nos tire do nosso objetivo. A educação é bom para o Brasil seja qual for o nosso partido. Ponhamos cartazes nos nossos edifícios, nas escolas dos nossos familiares, nos nossos carros, nas nossas janelas e portas, nas igrejas, nos ônibus, tudo. E tenhamos certeza que muitos comunicadores sociais vão nos ouvir. Muitos dirigentes vão nos ouvir, muitos professores vão nos ouvir. O povo todo vai nos ouvir. Façamos já uma grande rede: mutirão da educação já !
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