terça-feira, 26 de julho de 2011

A Mãe Tigre e a Armadilha Educacional

O que causa tanto rebuliço com o livro da chinesa que se intitula “Mãe Tigre”, Amy Chua ? Fez um enorme estardalhaço nos EUA e agora, chegando ao Brasil, tem sido presença freqüente na mídia, que destaca pontos de vista radicais estabelecidos por ela como condições para educar suas filhas – e por conseqüência bons para toda a humanidade.
Na verdade, fica claro que chegamos a um impasse. Ninguém sabe mais como educar seus filhos, constatando que o que faziam não está dando certo e as novidades que aparecem também não oferecem resultados. Numa situação assim, as chamadas “receitas de bolo” são vistas com bons olhos por quem está perdido. Num dado momento, os pais entenderam que educar seus filhos era oferecer a eles tudo o que eles queriam. É comum ouvir pais dizerem que “darão a seus filhos tudo o que não tiveram”. Isso não funciona, como está claro para a maioria nos dias de hoje. Se você, pai, não teve as coisas que quer dar a seu filho e ainda assim estudou, tem seu trabalho e constituiu sua família ... o que o faz achar que dar tudo as crianças vai torná-lo mais feliz e bem desenvolvido?
As opiniões da Mãe Tigre são lidas com avidez por quem quer uma fórmula. Algumas coisas são boas e outras são muito ruins, sendo preciso separar o joio do trigo para poder usar o que é positivo para a formação de filhos vitoriosos. Uma coisa interessante é que a autora está investindo de fato em suas filhas. Embora estabeleça coisas certas e outras erradas nesse modelo que utiliza, ela está investindo e participando ativamente na educação de suas filhas. E aí fica a primeira questão: será que os pais, em geral, estão realmente investindo em seus filhos ou estão apenas gastando dinheiro para que alguém faça a sua parte. Os filhos se tornaram apenas um centro de custos no orçamento familiar ou são a janela para o futuro, que merece toda a nossa atenção e cuidado?
   É fundamental decidir de forma clara o que seus filhos vão realizar até os 14/15/16 anos de idade, pois estão na fase da heteronomia, não sabendo ainda decidir, e podem fazer escolhas erradas – com a carta de arrependimento posterior e inevitável. Mas, não proteger em demasia, é fundamental, o que não acontece com a autora que adota a postura de impor suas vontades para levar as filhas à perfeição. Suas propostas para isso são exageradas e típicas de quem não entende de Educação, como por exemplo querer que as meninas tenham o primeiro lugar em suas escolas, sem discutir a escola e o critério de notas... No entanto, investir na Educação e acompanhar o ensino na busca do melhor padrão que possa ser oferecido é importante.
   Diversificar o conhecimento ampliando a visão de mundo e das possibilidades oferecidas é um fator importante para o desenvolvimento, e isso ela coloca de lado quando não atribui valor algum à Educação Física e ao Teatro. Essa falta de percepção da abrangência na formação pode estar relacionada a um fator cultural já que na China, as filhas (mulheres em geral) não são valorizadas tradicionalmente, sendo necessário que se destaquem de maneira excepcional para terem alguma oportunidade. Coisas que tragam satisfação pessoal, prazer mesmo, não precisam ser valorizadas no âmbito da formação delas, segundo a crença vigente em um país que está abrindo as janelas para o mundo.
   Embora não haja qualquer justificativa teórica para o que a autora diz, ela está no caminho certo em quase tudo o que fez com as filhas. A auto-estima, tão discutida e estimulada pelos americanos, acabou sendo exagerada na dosagem dada por eles, quando permite que as crianças façam tudo o que querem a título de não desenvolverem frustrações, quando se sabe que não é possível viver sem essas frustrações, que acontecerão mais cedo ou mais tarde. O ego dos filhos da sociedade americana são inflados a tal ponto que eles perdem a capacidade de fazer uma auto-avaliação de seus comportamentos já que se consideram muito bons ou ótimos em tudo o que fazem. Acham que são bons cônjuges, bons pais, bons profissionais, tudo sem estudar ou fazer nada para que isso seja uma realidade.
   Os pais e alguns mestres ainda acreditam, piamente, que a inteligência é inata, o que atrapalha em muito o projeto de desenvolvimento das crianças. Se a inteligência fosse inata, não seria necessário fazer nada, apenas esperar que ela apareça e dê seus frutos. As pessoas mais esclarecidas, que sabem que não é inata, reconhecem a necessidade  de provocar situações para que a criança desenvolva a inteligência. A mãe-tigre está fazendo exatamente isso: forçando a situação para que suas filhas se desenvolvam, não esperando que as coisas simplesmente aconteçam. Interessante ressaltar que o Professor Lauro de Oliveira Lima diz isso a mais ou menos 45 anos em seus livros, e o Brasil ainda não viu a excelência de resultados que podem ser obtidos.
   Posso apontar, no entanto, um erro grave cometido pela autora, qual seja o de não deixar que suas filhas convivam com outras famílias, pois isso é essencial para que as crianças desenvolvam coisas como a liderança, por exemplo, que é fundamental em todas as carreiras em que irão atuar. Convívio social é determinante, pois só assim as crianças aprende as regras sociais e tem oportunidade de desenvolver seus sistemas de defesa.
   É preciso que fique claro que para educar nossos filhos, temos que ter em mente as fases de desenvolvimento mental, podendo criar a visão que queremos para eles. Não aceitem manuais com receitas. Cada criança é única e é o seu meio social que vai determinar o seu desenvolvimento de maneira marcante. Nunca acredite em nada INATO, quando se trata de desenvolvimento da inteligência, mas saiba que as combinatórias que seus filhos vão fazer ao longo da vida dependem muito de você, porque entre os fatores mais observados pelos seus filhos estarão sempre a sua conduta e seus comportamentos.

Beta

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