segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Moral e a vida diária

O Complexo do Alemão é manchete diária, e o passo a passo de sua ocupação tem sido visto mundialmente por milhões de pessoas. Estou acompanhando atentamente todos os passos, e como moradora do Rio de Janeiro, formando minha opinião e desejando ver a situação resolvida da melhor maneira possível. Minha observação vai além do que diz a televisão, buscando saber qual a opinião que vai se formando nas redes sociais, em particular no Facebook. Essa rede social é composta por pessoas de bom nível social e intelectual, como é amplamente divulgado, mas constatei que, nesse extrato, o nível de moral tende a ser muito baixo.
Reparei uma alta manifestação de MORAL DO DEVER nos comentários que li, e só para lembrar aos meus leitores, esse nível de moral este presente nas crianças entre 7/8 anos, com a máxima de “olho por olho, dente por dente”. Muitos dos membros do Facebook, adultos, hoje profissionais liberais ou executivos que passaram pelos vários degraus educacionais oferecidos pelo sistema (fundamental, médio e universitário), certamente não tiveram sua moral desenvolvida no decorrer desses cursos. Provavelmente aconteceu o de sempre: isso não foi cuidado e portanto não aconteceu. Já disse mais de uma vez em matérias aqui no blog, que a MORAL não se desenvolve “naturalmente”, sendo um processo difícil mesmo quando estimulado. O exercício maior e mais complexo é se colocar no lugar do “outro”, enxergando a realidade do ponto de vista “dele”. Para viver isso, é preciso muita dinâmica de grupo, muita socialização, muita conversa, muita interação. Caso contrário, o que acontece é o indivíduo receber o conceito pronto, incorporá-lo e utilizá-lo nas mais diversas situações. Preconceitos, crenças e valores deturpados nascem daí – e todas as suas conseqüências.
É de se perguntar, numa hora dessas, como  as pessoas com um baixo nível de moral podem viver plenamente suas profissões, sejam elas quais forem. Provavelmente a resposta não incluirá nada de pleno, com prejuízos sérios para quem quer viver a vida num julgamento isolado de valores sem sentido.
Pessoas com baixo nível de moral tem a maior dificuldade para trabalhar em grupo, pois é preciso desenvolvimento moral para que haja cooperação – que está ligada ao mais alto nível de desenvolvimento. E sentimos, por conta disso, a falta de moral em todas as áreas da sociedade.
No futebol, por exemplo, os jogadores batem, simulam faltas, entregam o jogo, enfrentam os juízes, desacatam seus treinadores, desafiam a torcida. Isso para falar apenas dos elementos mais diretamente envolvidos com a indústria do futebol. E o sistema vai sendo contaminado. O valor do jogo vai sendo deixado de lado para que outros valores surjam, e sempre envolvendo uma moral baixa que estimula as variações menos louváveis de comportamento.
Tudo vai sendo tolerado até o ponto em que acontece o descrédito total das instituições e é aí que a cosia fica complicada. Uma pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas sinalizou que o nível de descrédito maior é o do Judiciário. O nível de crédito mais alto é o das Forças Armadas. Imagine você o julgamento moral de uma sociedade que não está dando valor ao desenvolvimento da Moral, e que é conduzida a pensar na força como o grande elemento de solução para todos os males. Por favor, pense no perigo que isso representa. O tecido social vai sendo esgarçado até o rompimento, e nesse momento a gente chama o “Capitão Nascimento”? E isso por si só resolve? Não, uma choque de força é pontual. Quem dá sustentação à sociedade é a moral. A moral do indivíduo, a moral da comunidade, da sociedade, do Estado. Senão ... o Capitão Nascimento vai cansar de tanto resolver problemas pontuais que não dão o rumo certo a sociedade.
Aceitar que o tráfico nasce e cresce sozinho é falta de visão. Ele se entranha quando pessoas de várias classes sociais consomem droga e financiam o seu crescimento. Os pais lenientes são sócios do tráfico. Os adolescentes viciados são sócios do tráfico. A pessoa que sabe que em seu edifício existe uma boca de distribuição de droga e não denuncia é sócia da boca. O alienado que não sabe do que estamos falando é sócio do tráfico. Por ação ou omissão, somos mais ou menos responsáveis. Quando vemos a coisa atingir a dimensão que chegou é que tomamos consciência que já foi longe demais. A solução que alguns dão é o extermínio puro e simples. “Passa bala neles”, dizem alguns. “Por que não mataram os traficantes em fuga?” perguntam outros. Houve uma certa indignação com o fato de a polícia e as forças armadas não terem aproveitado o momento da fuga dos bandidos da Vila Cruzeiro para o Morro do Alemão para arrasarem tudo com fogo total.
Cuidado meus amigos, a exposição no Facebook é grande. Parece que há no pensamento coletivo uma idéia de que somos vítimas, quando na verdade somos atores diretos desse drama que se desenrola sob nossos narizes. Vamos aproveitar a rede para discutir a questão sob todos os aspectos, sem deixar que nossos sistemas de proteção façam prevalecer a idéia de que eliminar a pobreza significa exterminar fisicamente os pobres – até porque isso não acontecerá numa sociedade capitalista com uma péssima distribuição da riqueza que produz. Viver em condomínio fechado não é a solução, porque acabamos todos criando pequenas prisões e sistemas de isolamento, o que ainda piora mais as coisas. Vamos pensar juntos em como aumentar as oportunidades dos indivíduos.
É urgente educar este povo e isso não significa apenas dar escolaridade, entendida como vários anos dentro de uma escola que nada representa. Precisamos educar com “letras maiúsculas”, ensinar a discutir, pensar com moral para analisar os fatos que estão a sua volta. A escola tem que se tornar um ambiente de crescimento intelectual e afetivo, onde os jovens queiram estar junto com seus educadores bem preparados, que por sua vez  também queiram estar educando de verdade estes jovens.
Este ambiente deve ser bonito, limpo e confortável. Direitos inalienáveis de todos os cidadãos.
O que chama  a atenção é ver jovens das classes mais abastadas considerando os outros jovens esses das favelas, como vagabundos e bandidos a priori.Por que será que isso acontece? É lógico que são preconceitos de uma classe social contra a outra. Temos bandidos e vagabundos em todas as classes sociais. Muitas vezes o jovem de classe media alta, que até os 20 anos não trabalha sendo mantido por seus pais, que financiam as festas, universidades e viagens, não acham que são vagabundos. O fato de ter toda a sua estrutura de vida custeada, inclusive as mordomias, fazem com que acreditem que estão em uma situação diferente. É o caso de fazermos uma revisão do significado da palavra “vagabundo”. O jovem que esta vendendo bala ou limpando os carros nos sinais é  considerado por ele como vagabundo ou bandido ...  mas eles estão trabalhando!!!! Por que esta qualificação? Seus pais os condicionaram a interpretar desta forma aqueles que são necessitados e que, por ausência de governo, estão nas ruas, sem escolas e alimentação, já que o salário de seus pais não dá para a sobrevivência da famíli.
O processo de transformação é longo e sistêmico, mas tem que começar. Vamos ensinar MORAL a todos os jovens de todas as classes sociais. Vamos tentar, através da moral que se estabeleça no mais alto nível, reduzir o fosso que separa a sociedade em guetos. Vamos resolver, através da moral, o alto custo social da distribuição de renda que nos dias de hoje é perversa, cruel e assassina.
 Vamos dar sentido maior à vida.
Beta

Um comentário:

Educação disse...

"O poder sem moral transforma-se em tirania." (Jaime Balmes)