Acho ótimo que, em alguns casos, prevaleça a idéia de que “falem mal, mas falem de mim”. No caso de Monteiro Lobato, mesmo quem fala mal ajuda a divulgar a obra do maior autor infantil brasileiro e corrobora com a idéia prevalente de que nada justifica essa polêmica toda que querem levantar.
Uma coisa que é importante ressaltar é que um grande número desses que falam mal, desconhecem completamente o desenvolvimento cognitivo das crianças e a maioria dos detratores tem uma visão adulta de sua obra e não conseguem mais fazer um julgamento límpido de uma criança porque seus filtros mentais estão bastante entupidos com crenças e valores que formam idéia pré-concebida errônea.
Na “A Chave do Tamanho”, escola piagetiana sediada no Rio de Janeiro, trabalhamos a 40 anos com a obra de Lobato, formando gerações e mais gerações sem ter formado, em momento algum, pessoas racistas nem muito menos adeptos da “Ku Klux Klan” – abominável sociedade racista fundada em 1865. Precisamos estudar o pensamento infantil para saber como as crianças olham o mundo. Com até mais ou menos 2 anos e 6 meses, elas dão vida as coisas (ela olha um lápis rolando empurrado por um adulto e diz que o lápis “quis” rodar). Em seguida, torna-se artificialista e confirma sempre que alguém construiu as montanhas e que o mar não vai até a porta de sua casa porque não quer, etc. E por aí vai o pensamento causal. Esses exemplos dão bem a diferença do pensamento da criança e do adulto que tenha se desenvolvido.
Quanto aos preconceitos, eles começam a surgir por volta dos 4/5 anos de idade, e o principal fator de fixação é a família, pelo forte teor afetivo que carrega. Não pensem que uma criança, lendo um texto, torna-se racista, ou deixa de ser racista, se o texto sugerir o contrário. Ela se torna racista vendo seu pai ou sua mãe xingando uma pessoa de maneira racista (seja lá a raça que for). Deixem as crianças em paz, senhoras e senhores que não educaram ninguém e acham que tudo sabem. As crianças são bem mais sábias e não precisam que sua atenção seja chamada para esse ou aquele fator. O importante para elas é ler muito. O que o MEC deveria fazer era bibliotecas maravilhosas e funcionais em cada escola, com gente que saiba atuar nesse espaço.
As crianças devem ler de tudo e discutir o que leram. E antes de mais nada, as crianças – e por conseqüência, o povo brasileiro – precisam ser alfabetizadas, e bem alfabetizadas. E como isso não acontece, fica a pergunta: por que toda essa polêmica não gira em torno da falta de alfabetização para os 14 milhões de brasileiros que estão completamente excluídos do bem estar proporcionado pelo progresso? Não alfabetizar sim, cria um fato que acaba se tornando em um modelo de racismo. Aqueles que são analfabetos são discriminados, e muito. E por que uns tem o direito a ler e outros não? Passamos da discriminação pela cor para a discriminação pelo poder aquisitivo.
Um manual de orientação aos professores deveria ser um manual didático abordando os seguintes temas:
1. Como ensinar a Ler.
2. Fazer as crianças gostarem de ler;
3. Como organizar uma pequena biblioteca;
4. Como organizar uma ficha de leitura para as crianças responderem;
E outras tantas regras que poderíamos citar. Mas o MEC esta como sempre sem FOCO. Segue as ondas. Isso não dá certo. Tem que ter diretrizes, planejamento estratégico para a Educação. O problema de fazer um manual didático é que tem que saber psicogenética e didática.
Sem saber PSICOGENÉTICA, estas pessoas não podem dar PALPITES sobre o que criança pode ou não fazer, ler ou realizar. Não sabendo o nível das crianças eles não conseguem que as crianças se alfabetizem e ninguém fica alarmado com isso. É “politicamente incorreto” as crianças do Brasil freqüentando uma “escola” e não aprenderem a ler?
Acho que ficar falando em Lobato preconceituoso e bom porque é questão de opinião (intuições), já que a argumentação cientifica não aparece. Quantas paginas tem a obra de Lobato? Quantas frases? Quantas estas pessoas consideraram racistas? Vamos procurar em todos os literatos para ver o que encontramos de “politicamente incorreto”?
Cansei. Deixem as crianças brasileiras com seu grande autor debaixo do braço. E engraçado e que ele nem é tão lido como querem fazer crer. Vejam as tiragens! Lobato passou vários anos sem reedições. Nos que adotamos na nossa escola sabemos que precisávamos copiar para que as crianças tivessem seu livro para a leitura que fazem. Estão sendo retomadas as reedições agora. Quais serão os interesses para que ele não seja bem acolhido pelo MEC?
A Escola A Chave do Tamanho continuara a ser um berço da leitura de Lobato e propagadora de que ele é um dos maiores autores, nacional e internacionalmente. Falta ainda um grande reconhecimento da obra deste autor fenomenal.
Acorda Brasil! Temos um grande autor dentro de nosso território e nem sabemos ou usamos.
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