sábado, 23 de abril de 2011

O insanamente politicamente correto


Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.
Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa.
 A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".
Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.
Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
 É Villa Lobos, cacete!
 Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê .
 Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê.
 A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.
 Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos.
 Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil.
 Ninguém  mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens

Recebi este material e, como educadora, resolvi comentar pelo absurdo que representa. Já tivemos um conselho de educação querendo proibir as obras de Lobato por racismo, e agora as musicas cantadas há décadas pelas crianças estão sendo modificadas por total falta de sensibilidade quanto a seu conteúdo.
As crianças sempre cantaram as musicas com seu teor original e isso não gerou nenhum comportamento agressivo por parte delas. O simbolismo que é usado nas letras das musicas não provoca um comportamento. O que provoca comportamentos é o procedural (Ação). Vamos deixar as crianças cantarem suas musicas sem interferência dos adultos, que já estão cheios de preconceitos.
Estas músicas são tradicionais de nosso cancioneiro infantil. Se provocassem mudança de comportamento já teríamos varias gerações deformadas pelas musicas. Não devemos também esquecer que as crianças não analisam as letras como os adultos. Elas vêem a totalidade, sem analise detalhada. Logo, mesmo que a letra fosse fazer algum mal a elas, estaria fora do seu entendimento. As crianças são totalmente imunes a esse tipo de interferência no comportamento, e cuidados desse tipo são totalmente desnecessários. Ainda bem.

2 comentários:

Silvia Maria disse...

Eu e todos os meus amigos brincávamos de polícia e ladrão (ninguém queria ser polícia kkkk), cantávamos "atirei o pau no gato", "o cravo brigou com a rosa" e outras coisas...
Curioso... não tenho um amigo maltratador de animais, nenhum amigo assaltante de banco e nenhum amigo espancador de mulheres...
Ah! Eu pulava corda cantando: "lá em cima do piano/ tinha um copo de veneno/ quem bebeu morreu... e nunca tentei suicídio...

Professor Stone disse...

Acabei de conhecer seu Blog, e dei muita risadas com seu texto. Sou professor de Educação Física e trabalhei muito com a cultura popular e até hoje todos os meus ex-alunos nenhum foi para o hospício nem para cadeia. Estarei colocando esse texto no meu blog.
Parabés e Deus te abençoe (professorstone.blogspot.com)