Tem “tiro que sai pela culatra”. Outros, acertam o alvo. O Dia Internacional da Mulher, a meu ver, é dos primeiros. Ainda precisamos disso??? Ainda temos que perguntar qual é o papel da mulher na nossa sociedade, depois de tantos e tantos avanços? O Dia Internacional da Mulher acaba sendo mais um preconceito do que uma homenagem, no final das contas. Reforça a imagem de fragilidade – que é inverídica. Dá a impressão de que algo está sendo “dado” às mulheres, quando na verdade foi conquistado a duras penas. Quem homenageia as mulheres? Os homens... mas para que, se somos todos iguais? Precisamos desse tipo de discriminação?
Algumas coisas perduram meio que sem sustentação, mas como foram instituídas legalmente, vão se repetindo sem que haja um sério questionamento quanto a sua existência e oportunidade. Senão vejamos. No dia 8 de março de 1857, portanto a exatos 154 anos, um grupo de mulheres operárias de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque fizeram uma grande greve exigindo melhores condições de trabalho. Foram reprimidas com violência. A fábrica foi trancada e incendiada. Aproximadamente 130 mulheres morreram carbonizadas. Mas foi somente em 1910, 53 anos depois do ocorrido, que durante uma Conferência na Dinamarca ficou decidido que o dia 8 de Março passaria a ser conhecido como o Dia Internacional da Mulher, em homenagem aquelas tecelãs assassinadas. E mais tarde, em 1975 ( 65 anos depois da conferência), a data foi oficializada pela ONU através de um decreto. Passou-se, portanto mais de um século (118 anos, mais precisamente), para que houvesse o reconhecimento tácito da barbárie bem como houvesse um posicionamento internacional a respeito desse ato simbólico de homenagem.
E assim tem sido a história das conquistas da mulher ao longo do tempo. Muita luta, pouco reconhecimento, mas resultados palpáveis e avanços incrementais. Num mundo onde prevalece a força física como forma de dominação, será sempre assim. Na verdade, a questão é que nesse mundo, a força física é usada para matar, dominar, subjugar, porque quando se trata de capacidades físicas outras, a mulher reconhecidamente tem uma condição superior, haja visto o fato de ser capaz de gerar um filho e continuar suas atividades normais. Se isso é ser frágil, o que é ser forte?
O que me chateia com essa comemoração é o fato de que nós, mulheres, não precisamos disso. Soa como a continuidade da discriminação, como um reducionismo que não faz sentido nos dias de hoje. O dia da Mulher... São todos os dias ! – como o são os dos homens também. Acho que, se quisermos isonomia, devemos criar também o Dia Internacional do Homem. Dessa maneira acaba-se com uma discriminação que só nos diminui e dá-se o mesmo valor aos dois gêneros, como deve ser.
As conquistas que as mulheres não obtiveram são resultado de subdesenvolvimento. Coisas como número de horas de trabalho doméstico feito por homens e mulheres coloca essas na condição de escravas, não sendo isso o que acontece nos países desenvolvidos. A cultura de cada sociedade é que vai, aos poucos, no processo de evolução, acabando com as diferenças. Por exemplo, na questão da escolaridade, a coisa torna-se gritante de forma oposta. Entre os homens o índice de analfabetismo é muito maior do que entre as mulheres, podendo chegar a 3 vezes mais. As mulheres chegam a universidade em maior número nos dias de hoje, segundo uma pesquisa sobre o mercado de trabalho no Estado do Rio de Janeiro. E veja que as mulheres tem contra si tudo o que é ligado a questão da reprodução, como gravidez precoce, falta de creches e coisas tais, que as impedem de trabalhar por motivos óbvios. A legislação a respeito ainda precisa de uma evolução grande para atender a essas questões. E ainda há um fator crucial nisso tudo: as tarefas do lar ainda são das mulheres, na sua grande maioria.
Minha preocupação de fato não é com o esforço e a capacidade das mulheres em conquistar seu espaço. Isso já está mais do que óbvio para todos. As mulheres estão ocupando seu espaço, não há dúvida. Estou mais preocupada com esse tipo de coisa que mais retarda do que adianta: homenagens pífias, gente querendo parecer politicamente correta que enche o ambiente jurídico de leis que mais atrapalham do que ajudam as mulheres e que ainda as colocam em posição de serem discriminadas, ao invés de apoiadas em sua luta diária.
As mulheres já alcançaram os postos de maior destaque no mundo tudo. Aqui no Brasil, temos agora uma mulher na Presidência da República! Coisa impensável há alguns poucos anos atrás. E essas mulheres não projetaram suas campanhas tomando por base o fato de serem mães, avós, tias ou qualquer outro laço familiar ou afetivo. Foram mulheres que se apresentaram oferecendo competência, capacidade e resultados esperados pela sociedade. Não precisamos desse “mimo”. Estamos, depois de séculos e séculos, conquistando nossa posição a duras penas.
Para que então o Dia Internacional da Mulher? Acho que melhor seria os homens começarem a trabalhar nas justificativas para criação do dia deles ... porque vão precisar muito em breve desse reconhecimento e homenagem, do jeito que estão se tornando iguais.
Chega de “dia da mulher”. Vamos em frente que estamos no caminho certo, principalmente quando determinamos que, de fato, somos todos iguais,
Beta
Nenhum comentário:
Postar um comentário