quinta-feira, 28 de abril de 2011

As raízes do Bullying



Ninguém é preconceituoso... ou pelo menos não diz isso em público. É sabido que preconceito é coisa velada e talvez seja por esse motivo que achamos que não o temos ou ainda que a grande maioria não seja preconceituosa. Existem as leis que proíbem e hoje criou-se também a condição do politicamente correto, patrulhando de maneira intensiva as manifestações contrárias ao que se convencionou como certo para a vida em sociedade. No entanto, o íntimo de cada pessoa pode esconder uma rejeição a determinado tipo de comportamento, e aí a lei não pega.  Mas o comportamento permanece, mesmo que não manifesto de maneira ostensiva.
Os preconceitos são transmitidos às crianças, e elas, até os 4/5 anos de idade, vão formando sua concepção do mundo com base neles. Não conseguem ainda discutir a questão, mas pelo reforço que é dado no dia a dia pela família, vão acreditando cada vez mais firmemente que opiniões preconceituosas fornecidas são as opiniões corretas. Quantas vezes você já viu uma família, em tom de brincadeira, falar de preconceitos graves sem saber que estão formando, em suas crianças, verdades absolutas.
Já dissemos em outros artigos, e repetimos aqui para que isso fique muito claro, que a MORAL é desenvolvida, ou seja, não há um padrão pré-estabelecido que venha no DNA de seu filho ou filha. Assim como treinamos as crianças, inadvertidamente muitas vezes, a serem preconceituosas, podemos educá-las para não terem preconceitos. Adultos preconceituosos podem ser controlados, mas não vão mudar suas opiniões. Já as crianças podem não desenvolver preconceitos, se os pais e educadores tiverem em mente que não expondo as mesmas a valores distorcidos, estarão preparando cidadãos para um futuro livre dessas mazelas. Nos adultos, os preconceitos são muitas vezes camuflados e, são esses mesmos preconceitos que, quando vem à tona, dão origem ao tão falado bullying. E o bullying acontece sempre tomando por base um preconceito. Observe algumas das causas: gordo, alto, feio, tímido, baixo, voz fina, etc. São sempre valores diferentes daqueles estabelecidos por uma sociedade que preconiza modelos ideais. Essa é a razão pela qual o bullying não está centrado apenas nas escolas. Ele está presente em qualquer lugar que congregue pessoas, como condomínios, locais de trabalho, etc.  Entre os adultos, muitas vezes são tomados como “brincadeiras” – de mau gosto, mas apenas “brincadeiras”.  Com os jovens, que ainda não são muito bons em dissimulação, soa mais como violência mesmo.
Embora seja um fenômeno mundial, o bullying tem características próprias em cada país. No Brasil, ocorre dento da sala de aula, enquanto em outros países acontece nos corredores  e em pátios, fora das vistas dos professores. É claro que por acontecer fora de aula não é justificável que fique fora do controle dos educadores, mas no Brasil a coisa é feita sob as vistas dos mesmos, e parece que os mestres não vêem isso acontecer. Como pode ser isso? Só encontro resposta na hipótese de que, como eles não sabem lidar com o assunto e não o consideram como obrigação sua ... ignoram qualquer ocorrência desse tipo. Consideram-se transmissores de conhecimento e nada mais. Não estão ligados aos seus alunos por vínculos outros que não sejam os formais, impostos pelo sistema. Isso não é Educar. É preciso que sejam treinados, tanto quanto os pais, para identificar agredidos e agressores, agindo antes que a situação assuma proporções incontroláveis, como temos visto nesses últimos tempos.

Um exemplo de como observar e agir pode gerar excelentes resultados aconteceu na Noruega, nos anos 1980, quando foi identificado um alto índice de suicídios entre crianças que haviam sofrido bullying. Uma séria de ações integradas em um programa foram levadas a cabo, e esses índices caíram certa de 50%, segundo fontes do governo daquele país.
Onde houver gente reunida, haverá preconceito, e potencialmente o bullying. Isso se dá porque as pessoas não conseguem, em muitos casos, conviver com as diferenças naturais existentes na sociedade. Quando mais globalizamos, eliminando as barreiras de comunicação, maior a proximidade de múltiplas formas de viver, agir e pensar e todos ficam cada vez mais próximos, o que cria enormes dificuldades para aqueles que têm preconceitos.  Preconceituosos são pessoas que tiveram seu desenvolvimento compartimentalizado, e podem ter tido uma certa evolução cognitiva, mas tiveram seu desenvolvimento moral congelado. Preconceitos são modelos rígidos que se repetem. Não existe nenhuma flexibilidade no preconceito.
Existe uma maneira de trabalhar os preconceitos? Sim, existe. A forma mais efetiva é trabalhar com as crianças em Dinâmica de Grupo, colocando todas em contato com todas, através de técnicas estruturadas, quando elas vão descobrindo seus colegas sem nenhum tipo de distinção. Ali elas tomam consciência que não importa a cor, tipo, religião, sexo e isso abre possibilidades inúmeras. Surge então a colaboração e todos podem ajudar a todos.
Uma coisa que sempre preocupa é o fato de que as famílias de vítimas de bullying não notam que as crianças tem preconceitos, e isso se explica facilmente pelo fato de que ambos, crianças e pais, comungam os mesmos valores. Os pais, inadvertidamente ou não, passaram para seus filhos os preconceitos que eles carregam e entendem que isso é normal, porque é a base de seus próprios valores.
Como os pais não notam que existe alguma coisa errada se seu filho:
-chega a casa com uniforme rasgado;
-material rasgado, sujo ou faltando;
-nem um amigo telefona ou  convida o filho para sair ou estudar;
-parece triste ou desanimado;
-perde o interesse pelos estudos;
-não quer ir à escola;
-sempre antes de ir a escola esta com dores de cabeça ou de barriga;
-tem falta de apetite;
-tem baixa auto-estima (se acha feio, gordo etc.);
- tem insônia;
-crise de choro sem motivo aparente.
O que será que esta acontecendo com seu filho? Será  que tudo isso parece aos pais uma coisa normal? Não seria nenhum desses fatores um motivo para ir conversar na escola e fazer uma estratégia para resolver o problema que se abate sobre esta criança ou adolescente?
A escola precisa saber para poder providenciar junto com as famílias do agredido e dos agressores uma providencia imediata.
A escola deve começar trabalhando em grupo e discutindo os preconceitos para que as relações melhorem. Deve mostrar que esta sabendo e não concorda com o que esta acontecendo. Tem que ter cuidado para não expor ainda mais o agredido.
A família do agredido pode promover encontros com o controle de adultos entre as crianças e adolescentes para que sejam vistos em outra posição  e a escola pode e deve promover encontro entre as famílias sem a presença das vitimas.
Um programa consistente deve ser desenvolvido para a construção da moral para que os preconceitos diminuam e, por conseguinte o bullying.

Um comentário:

Dário Dech disse...

Muito boa a sua colocação sobre o bullying, as crianças aprendem com os pais e o preconceito é passado para os filhos mesmo que em forma de brincadeiras.
pretendo indicar seu blog no meu para que mais pessoas acessem.

abraços
Dário - Tucano in City