terça-feira, 28 de junho de 2011

Quem transgride realmente?

Quando estamos estudando a Construção  da Moral e da Ética ficamos sempre centrados nas crianças e não costumamos ir a fonte de onde deve ter surgido aquele  comportamento  certo ou indesejado.
As crianças começam a perceber a moral muito cedo, aos 3/4 anos, passando a notar a existência de regras. A família não costuma trabalhar com elas, até porque as crianças nesta fase despertam muito interesse (são engraçadas) e com isso muitos comportamentos são aceitos para depois serem reprimidos, o que não dá certo. Até os 7/8anos as crianças dependem da ética dos adultos, e ai fica o problema.  Muitos destes adultos seguem regras morais, obedecendo porque estão sendo vigiados pelas leis da sociedade e não por uma ética interior. E as crianças vêem estas contradições aparecerem o tempo todo nos comportamentos das pessoas que estão a seu lado. Temos que ensinar moral e cobrar ética dos adultos para podermos construir a mesma estrutura em seus filhos e alunos. Os professores têm este comportamento ético frente a seus alunos? Quando ameaçam, o que vocês acham que esta acontecendo? Falta de ética. As regras morais servem para todos? Deixam as crianças se expressarem para que não tenham que fingir? Estão voltados a levar as crianças da pura heteronomia (regras vem de fora) para a autonomia (criarem as regras)? Não, o professor quer sempre mandar e isso ele acha que é autoridade, mas na verdade é autoritarismo. Ele quer ser o chefe e não o líder, já que a liderança é  emergencial. Quando ele não é o melhor, a liderança passa de mão. No ensino médio, o professor deveria estar totalmente fora do grupo para  ver acontecer a liderança entre  seus alunos, verificando se criou homens livres. Mas ao contrário, está no quadro-negro colocando conteúdos e ridicularizando os que não conseguem acompanhá-lo, trazendo revolta e bullying. As crianças aprendem tudo, principalmente comportamentos. A grande maioria de nossos alunos guarda na lembrança um professor, e olhe lá. Muitas vezes só tem recordações tristes da escola. Outro dia meu filho que está no ensino médio me surpreendeu, no Facebook (estão todos em rede), dizendo que estava saindo da prisão ia ao banho de sol e já voltaria para a tortura. Fiquei assustada e comentando com um grande amigo que também viu o que ele dizia, comunicou a audiência em geral (já que os adolescentes acham que estão falando para um pequeno grupo e não para o mundo), que este garoto não estava em Bangu I,II ou III. Estava na escola. Mas que escolas são estas onde  os jovens se sentem prisioneiros?  Será que não tem outra forma de fazer escola? Tem sim. Só falta vontade política para fazê-la. Os jovens precisam gostar de ir a escola. Estas escolas onde se dá AULA EXPOSITIVA em pleno século XXI, como se estivéssemos no século XIX, não é mais possível. Achei triste a vivência de meu filho, mas vendo uma charge do Quino (Mafalda),  onde o Filipe sai de casa com uma mochila, que “transforma” em colchonete usando a imaginação dá para entender o que estou dizendo. Outras charges desse brilhante cartunista reproduzem a visão de crianças que, em sua imaginação, transformam a escola em um forno crematório, sua professora em agente da SS nazista, etc. Logo o problema não e só do meu filho. Muitas crianças e adolescentes devem ter esta visão de seu ambiente escolar. Não podemos continuar como policiais que gerenciam a moral das crianças. Temos que ter ética, para que nossos alunos venham a construí-la. Sejamos parceiros do conhecimento de nossos alunos. O que desejam os pais para os filhos? Ate uma certa idade 7/8/9 anos dizem eles que é a felicidade, e depois descambam para a produtividade de qualquer forma. Os pais que estavam preocupados com bem-estar passam a ficar preocupados com desempenho. A escola faz o papel do bem-estar até a primeira infância (jardim da infância) e depois visa apenas o desempenho (conteúdos).
Martin Seligman, em um artigo para a revista “American Psychology” diz: ”Sou inteiramente a favor do bom desempenho, do sucesso, da disciplina e da alfabetização literária  e numérica. Mas imagine se as escolas pudessem, alem disso, oferecer a seus alunos os princípios e as limitações para a busca do bem-estar. Teríamos  indivíduos e famílias mais felizes, melhores instituições e um mundo melhor.”
Temos então que concluir que os pais querem das escolas todas as punições que eles não conseguem impor. Porque eles não conseguem dizer o NÃO? Estão ocupados demais em ganhar dinheiro e não sentem que faz parte do “ser pai” educar seus filhos. Quando a criança transgride uma regra é geralmente apoiada pela família. Por exemplo: quando a criança telefona do banheiro da escola usando seu celular, geralmente não é para nenhum colega e sim para seus pais. E eles atendem! Se ninguém atendesse ao telefone como eles  falariam? Quando as crianças ou adolescentes são flagrados cometendo um delito, seus pais correm para socorrê-los dizendo que são simples crianças, mesmo os jovens já tendo 13/14/18 anos. Será que não deveriam passar por tomada de consciência dos seus atos? Os pais não deixam. E isso vai repercutir em atos cada vez mais graves na vida adulta.
As escolas têm que sofrer reformulações urgentes para fazer parcerias com as famílias, ajudando-as a educar seus filhos em conjunto. A escola tem que ser um ambiente alegre e feliz. Temos que trazer as crianças e adolescentes realmente para dentro da escola. Conseguir fazer o aluno gostar da escola e de seus professores deveria ser uma meta a ser perseguida intensamente.

2 comentários:

Felipe B disse...

Beta,

boa noite.

Entendo e concordo com seus pontos, mas creio que a escola tenha também o papel de não promover uma demolição subliminar de certas regras morais, ainda que por falta de atenção ao detalhe.

Hoje, na festa junina, tivemos a surpresa triste de ver crianças cantando em alto e bm som o seguinte refrão de uma música(?) escohida pela professora para a apresentação da quadrilha:

"O jeito é, dar uma fugida com você. Se você quer saber o que vai acontecer. Primeiro a gente foge depois a gente vê".

Cantem rápido e vejam o resultado fonético. Não apenas não é adequado ao contexto de uma festa junina (pagode e sertanejo são necessários, existindo tantas canções juninas tradicionais?), familiar, como também promove um trocdilho de conotação sexual, de gosto duvidoso.

Ver as crianças repetindo esse refrão ao longo de um mês (e quem sabe por quanto tempo mais), estimulados pelas próprias professoras não me parece ser produtivo sob o ponto de vista educativo.

Da mesma forma que essa música entrou no convivio dos pequenos alunos, a coreografia (reproduzida pela professora durante a apresentação) também não apresenta características que as façam entender melhor as raizes folclóricas da festa.

Acredito ser necessário uma conversa com as professoras quanto ao teor de suas preferências estéticas pessoais, que são passadas às crianças de forma subliminar. E, infelizmente, também de forma explícita, atreladas as atividades escolares.

Cordialmente,

Felipe Barcellos, jornalista e criador de imagens.
Pai das alunas Lia e Dora.

Beta disse...

Caro Felipe, bom dia
Em primeiro lugar, explico a demora em responder. Fui às coordenadoras para saber mais exatamente o que aconteceu e tomar pé da situação através da visão geral, e não da minha em particular, democratizando assim a informação.
Em segundo lugar, agradeço sua atitude participativa, porque isso é altamente desejável, entrelaçando concepções e aperfeiçoando sempre o processo educacional, missão maior de todos nós, pais e educadores.
Quanto a questão em si, referente ao tipo de música cantada e a coreografia realizada, gostaria de trazer dois ou três aspectos da criação de uma festa típica e o motivo porque podem acontecer, em certos casos, sensações como a sua.
Mobilizar crianças pequenas para uma festa onde a música, a fantasia e o movimento são agradáveis e motivantes é uma coisa relativamente fácil. No entanto, depois do Operatório Concreto, as coisas vão ficando mais difíceis, até porque a conotação da festa tem uma rejeição preconceituosa da parte de pré-adolescentes e adolescentes. Coisas como "ridículo" ou "maior mico" são ouvidas constantemente como adjetivos para esse tipo de festa. Assim, para quebrar essa resistência, é preciso criar uma linha de negociação, onde cedemos até um certo ponto e bloqueamos outros tantos. Nessa negociação, o professor traz uma série de sugestões e músicas e acata as sugestões dos seus alunos, formando assim um ambiente democrático, estimulando a discussão e obtendo um resultado de maioria por uma determinada música.
De fato, a música é de duplo sentido, mas mesmo subliminar, sua ação danosa sobre os pequenos é nula, tendo em conta que só se consegue ver aquilo para o que temos esquema. Muito já se discutiu sobre a "erotização infantil", quando isso na verdade não existe. Nos adolescentes, essa pretensa compreensão do duplo sentido da música tenta estabelecer um rito de passagem, demonstrando que eles já saíram da infância e estão se tornando adultos. É um esforço do indivíduo para entrar no mundo que eles consideram livre de restrições, etc.
Os professores, portanto, não impõem suas "preferências estéticas pessoais e nem pretendem, portanto, passa-las às crianças, caso contrário não seria educadores e por consequência não estariam trabalhando na Chave do Tamanho. Explicitamente, fazem um trabalho de mobilização para que os adolescentes participem ativamente de uma festa que, por preconceitos diversos, seria extinta do repertório de opções deles, impedindo-os de conhecerem uma manifestação cultural importante.
Se houver mais alguma questão que você gostaria de discutir, peço que entre em contato comigo diretamente para dirimir qualquer dúvida a respeito, além, é claro de contribuir com seus comentários no blog, o que sempre é desejável e estimulante para o debate.
Beta