sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Quando o melhor do pior é o bom...



“O professor e o único profissional 
cuja competência jamais é posta em questão.”
Lauro de Oliveira Lima

   Tenho observado que existem discussões que não são levadas adiante, mesmo tratando de coisas essenciais. Parece que o surto de exposição na mídia tem um tempo pré-determinado, e por mais grave que seja a coisa, ainda assim desaparece. E certas questões simplesmente não desaparecem das nossas necessidades do dia a dia.
A questão da educação é uma delas. Discute-se muito, mas irremediavelmente permanecemos rodando em círculos no mesmo contexto. O gigantismo do problema exigiria ações gigantescas também, tanto em termos de coragem política quanto em competência e recursos. Não é o que se vê. Normalmente, temos soluções pontuais que não se sustentam, e no dia seguinte, às sete horas da manhã, milhares de salas de aula e milhões de alunos e professores encontram-se para repetir a mesma jornada. A diferença é que agora, depois de muito tempo indiferentes aos resultados, estamos querendo saber, metricamente, como a coisa anda.
Fico me perguntando qual o “valor” que a sociedade realmente dá a Educação. Qual a visão prevalente? Nos muitos anos como gestora escolar, professora, pesquisadora, vi as mais variadas formas de análise da questão por parte de pais, responsáveis, professores, gestores e interessados no tema. Para muitos, educação é a coisa desejável, mas, como não se sabe exatamente como funciona, parece que pagando bastante algo melhor deve vir. Como com os carros, ninguém é obviamente obrigado a entender de mecânica, mas deve minimamente entender a engenharia do mesmo para fazer uma boa opção de compra. Comprar o carro porque ele é “bonitinho”, ou tem a cor que você gosta, é uma ótima maneira de embarcar num prejuízo certo. Veja na época que surgiu no Brasil o jipe Lada, produzido na União Soviética... Quem comprou, seja qual foi o motivo, conseguiu uma das maiores dores de cabeça que jamais imaginou. Mas muitos compraram, porque era bonito, parecia robusto, era feito para rodar na estepe russa, etc. Em educação, quantos pais colocam filhos em escolas porque as mesmas são bonitas, parecem limpas, ficam perto de casa e tem estacionamento próprio! Mas não querem nem saber o que vai acontecer com a criança ou adolescente lá dentro! No caso dos carros, você pode continuar com esse comportamento descomprometido de comprar o que lhe dá na telha, desde que tenha dinheiro para jogar fora. Mas com as crianças! ... Não ter um mínimo de conhecimento sobre o que vão fazer com elas em grande parte do dia soa como uma crueldade enorme. E mesmo tendo dinheiro para jogar fora, o que está em jogo aqui é se você tem mesmo coragem de, em sã consciência, jogar a vida do seu filho pela janela...
Ora, isso vale para a Educação vista sob o prisma da escola e vale também para a maneira como os órgãos governamentais lidam com a mesma, porque o reflexo dessas ações estará presente no processo educacional dos alunos via ação escolar. E vale ainda mais para todos os pais, que de alguma forma precisam saber avaliar a situação, porque ao final do processo, lá no funil da saída, você recebe seu filho sem condições de enfrentar o mercado e... não há mais nada a fazer.
Por exemplo, qual a sua análise a partir dos resultados do ENEM, que qualifica as escolas e fez um diagnóstico de que as melhores são aquelas que conseguem passar pelo menos a metade dos conhecimentos considerados necessários ao aluno? Como é que pode ser ótima, tendo conseguido ensinar metade do mínimo necessário? Qual a condição desse aluno para competir num mundo globalizado? É complicado, principalmente quando observamos que mundialmente, estamos na frente de apenas 18 países muito atrasados, mesmo com a nossa economia sendo uma das mais desenvolvidas do mundo.
A essa altura do campeonato, você já deve ter chegado à conclusão de que o Brasil está nivelando por baixo. E o pior, não podemos nos basear só em dados estatísticos como os oferecidos pelo ENEM, na medida em que as escolas mais tradicionais estão desenvolvendo esquemas para treinar seus alunos a resolver as provas desse exame. Ou seja, em prol da pontuação, ensina-se a fraude. Depois queremos um país sem corruptos, quando preparamos os mesmos na base, com atitudes como essa.
Realmente, nesse campo, o que temos que mudar é a metodologia, porque o nosso ENEM está medindo os melhores dos piores, quando na verdade precisamos equiparar nossas escolas com as do mundo todo, buscando o tal ponto de referência superior. As escolas brasileiras podem sair na frente se pararem de “ensinar coisas” e passarem a “ensinar a pensar” – por mais difícil que isso possa parecer para quem, ao longo de sua história, só tentou repassar conteúdos sem qualquer preocupação se eles tinham sido entendidos ou não. Mas, difícil ou não, é a nossa oportunidade de concorrer com o mundo.
Estamos de alguma forma, “perdendo” espaço para chineses, coreanos e indianos, porque eles estão preocupados com a Educação de uma maneira intensiva, coisa que não aconteceu ainda em nosso país. Estamos no discurso, quando já deveríamos estar na ação há muito tempo. O que temos feito, nos últimos tempos, é falar e avaliar, mas já está na hora de providenciarmos as mudanças. Cobrar por essas mudanças. Nas palavras de Matt Ridley:  “Em vez de listar problemas, a escola deveria ensinar a resolve-los” – e essa é uma boa idéia para nossos gestores educacionais.
Bom, a premissa fundamental é que, se os alunos não sabem é porque seus professores não ensinaram, e temos que atentar para essa questão. Os pais precisam criar meios objetivos para julgar o trabalho das escolas de seus filhos, porque estar simplesmente numa escola privada não é garantia alguma de bom ensino. Até os professores são os mesmos da escola pública e com a mesma formação. O sistema é um só, no final das contas.
Do ponto de vista das análises do setor, a primeira pergunta que surge é: “se não for o ENEM, vai ser o que?”. O ENEM não é ruim, até porque seus resultados estão viabilizando maiores oportunidades aos pobres, que podem concorrer com os alunos ricos que optam por fazer uma universidade pública e podiam se preparar melhor para o vestibular. Isso já dá crédito ao ENEM, mas não é o suficiente. A meu ver, acho que deveríamos adotar o padrão do exame internacional PISA, porque esse nos equipararia ao restante do mundo, ou seja, nos colocaria em check com os sistemas educacionais com quem teremos que disputar o tempo todo. E como sabemos que na atualidade estamos muito baixo nesse ranking, seria interessante vermos os esforços para subirmos essa ladeira.
A bem da verdade, temos que mudar todo o sistema, alterando o paradigma. Precisamos melhorar radicalmente a formação dos professores, preparando-os de maneira muito mais efetiva, tal como já foi feito em alguma época no Brasil. Muitos professores saem das faculdades sem ter, em todo o curso, lido um livro completo. Não conhecem, na sua esmagadora maioria, os educadores de seu país e a história da educação como um todo. O que será que estudaram? Fica a questão, porque muitas vezes as crianças têm uma cultura oferecida em casa muito maior do que a que é oferecida na escola.
Pais: perguntem, a guisa de referência para análise, quantos livros  a escola de seu filho solicitou para leitura essa ano. Ou quantos enigmas (problemas de lógica não relacionados com a matemática) foram propostos para que ele pense? Quantos trabalhos de grupo ele realizou? Essas são algumas questões que podem ser levantadas para proporcionar aos responsáveis uma visão do que estão fazendo com seus filhos.
Sem desenvolver a inteligência e a capacidade de pensar, seu filho é um sério candidato a ter um “emprego commoditie”, que será engolido em algum momento pela tecnologia, que vai evoluindo e substituindo a mão de obra que acha que entrar as 09h00 e sair as 17h00, tendo enrolado o dia todo, é o melhor dos mundos. Pense seriamente sobre isso, por amor a seus filhos, netos e pelo bem do Brasil.

Beta

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