sexta-feira, 23 de março de 2012

Seguindo as Regras


O desespero de ter que tomar uma decisão sem saber como
   Fui cortar o cabelo. Peguei uma revista e fiquei aguardando enquanto o cabeleireiro fazia seu trabalho. De repente, uma entrada retumbante no salão: pai, mãe e duas crianças. A mais velha tinha uns 4 anos e a mais nova não mais do que dois anos. A mais velha gritava, chorava, esperneava e dizia o tempo todo que não queria cortar o cabelo. Enquanto isso, os pais se desgastavam dando explicações lógicas sobre as enormes vantagens de cortar o cabelo. Entre os vários argumentos um deles era de que não doía! E para provar isso ela, a mãe, iria cortar também, etc, etc. Mas nada demovia a criança de continuar seu escândalo. Num gesto desesperado, o pai prometeu que, quando saíssem do salão, iriam a uma loja de brinquedos e ela poderia comprar o que desejasse. E nada...
   Já perdendo a paciência, o pai entra em campo novamente com a afirmação de que, se ela não cortar o cabelo, vai para o castigo quando chegar em casa. E ... nada. Segue o escândalo, agora dois tons acima!
   Fiquei observando que todas as pessoas presentes no salão, clientes da casa, começam a ficar nervosas vendo aquela cena, mas os profissionais se mantêm distantes do conflito. Tudo descambando para um estresse total, num local e numa situação onde isso não seria realmente necessário ou conveniente.
   Tendo acabado meu corte de cabelo, aproximei-me da família e me apresentei. Perguntei se poderia auxiliá-los no problema e o pai imediatamente aceitou a ajuda. A mãe ainda ficou olhando com dúvidas quanto ao “milagre” que eu queria fazer, quando ela já tinha tentado de tudo.
   Expliquei a eles que a questão ali era de decisão. A criança estava sofrendo muito por não ter elementos para tomar uma decisão e eles, por serem um casal jovem, estavam inseguros frente a solução que iriam dar para aquilo. Ficavam explicando, explicando, e não decidiam realmente nada. Repassavam a responsabilidade para quem estava menos preparada para decidir, ou seja, a própria criança.
   Sugeri então que dessem uma ordem firme, colocando a criança no colo de um dos pais e sinalizando claramente a ação. O pai se colocou como agente ativo e, não dando nenhuma opção, deu ordem para iniciar o corte do cabelo. A criança rapidamente parou de chorar e o corte de cabelo pode ser feito, passando a ser alvo da curiosidade da própria criança.
   Conversei com a mãe sobre as Regras, explicando que até os 7/8 anos de idade, as ordens tem que vir de fora (Heteronomia) e que a criança fica insegura se tiver que decidir. Falei também que não prometessem brinquedos ou coisas semelhantes como premiação por algo que a criança teria que fazer por ser necessário. Presente devem ser oferecidos nas datas específicas onde fazem sentido, como aniversários, Natal, Páscoa, etc. Enfim, conversamos objetivamente sobre a questão.
   Caso resolvido, família feliz e agora entendendo como as crianças ficam felizes quando as ordens são dadas com calma e determinação. O mais interessante é que os profissionais do salão disseram que situações como essa são uma constante porque os pais não dão ordens e as crianças fazem sempre aquele escândalo para cortar o cabelo.
   Como orientação final, seja sempre firme quando a situação exigir, para proporcionar segurança as crianças. Se elas sentirem que seus pais ou os adultos que as acompanham estão seguros, terão a maior tranquilidade em seguir as orientações decididas por eles.

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