sábado, 21 de julho de 2012

Um Produto chamado Educação



Fico pensando sempre em como as pessoas entendem “Educação”. Não é um exercício intelectual puro, mas uma busca para entender a percepção do outro e tentar convence-lo da importância fundamental desse conceito nos dias de hoje. Sempre foi importante “ter Educação”, mas a apropriação do conhecimento, da maneira certa, é questão de sobrevivência hoje. E não consigo saber com absoluta certeza de as famílias consideram Educação um investimento ou um custo, mas sei que essa definição é de grande importância para a escolha que vão fazer.
Quando as famílias estão escolhendo um bem de consumo, querem o que há de mais especial e individual. A “grife” mais cara e mais exclusiva é a preferida, para que o comprador não seja confundido com o consumidor dos produtos vendidos em massa. Escolhem as lojas onde poucos podem comprar, deixando as lojas populares para a população mais simples. Não querem ser rotulados como consumidores comuns. E uma bolsa exclusiva é altamente bem vista por seus pares, o que justifica a busca, o empenho na escolha e o gasto exacerbado.
Quando a escolha é feita com relação a escola, a coisa muda de figura. As escolhas são feitas pela quantidade, e não pela qualidade. Querem o preço menor possível, abrindo mão de qualquer coisa que não seja o “básico”. Uma oferta incompleta do ponto de vista metodológico não é muito importante, desde que esteja num preço “bom”. E me pergunto por que é que isso acontece?
Tenho a impressão de que, em se tratando de Educação – uma mercadoria abstrata – escapa ao comprador a noção clara do que quer comprar. Quando se trata de um objeto, sendo esse concreto, mede-se o resultado imediato em termos de custo  x benefício e tudo fica mais fácil. O resultado obtido pela compra, em termos de satisfação, é imediato. Seria preciso uma enorme capacidade de abstração para “ver” o resultado da Educação ao longo do desenvolvimento de uma criança, sendo mais fácil se apegar ao vestibular como meta para saber se a escola teve bons resultados. Mas na verdade, o que a sociedade precisaria fazer, quando fatos dramáticos ocorrem na vida de relação de uma comunidade era perguntar de onde vieram os jovens envolvidos? Em que escolas foram educados? Que orientações tiveram?
De que escolas vieram os jovens que espancaram, recentemente, uma empregada doméstica na Barra da Tijuca (RJ) “pensando que era uma prostituta”? Em que estabelecimento de ensino foram educados os jovens que, em Brasília, atearam fogo a um índio pataxó que dormia num ponto de ônibus da capital federal? E por aí seguem inúmeros casos similares. Não se fala em escola quando um jovem alcoolizado ou drogado bate com um carro e mata várias pessoas. Ninguém questiona se eles tiveram uma escola que se preocupou com o desenvolvimento da moral, por exemplo.
Parece que a escola está vinculada apenas a “ensinar conteúdos”. Conteúdo é apenas a infraestrutura, mas o que há de verdadeiramente importante numa escola é sua ideologia e sua metodologia.

Cabe aqui perguntar: a escola é boa e só as crianças não notam?  Ou será que n.a maioria das vezes elas são preparadas para dar satisfação aos pais (um dos clientes) e não à criança... a cliente principal. Ouvi numa festa de aniversário, recentemente, alguns pais comentando que seus filhos estavam tendo aulas particulares “em todas as matérias”, e que mães e avós se descabelavam para orientar as tarefas de casa. Ora, é incompreensível as pessoas acharem que a escola está fazendo seu papel, quando não conseguem ensinar, realmente, as crianças – que precisam de tantas “ajudas”  da família e de outros profissionais. Nenhum outro profissional necessita que outro colega faça novamente aquilo que ele já fez – ou então não é realmente um profissional. O engenheiro ou o arquiteto fazem uma planta e ... está bem feita. O máximo que pode haver é uma substituição de profissionais quando o cliente não fica satisfeito com a concepção do projeto. Em Educação, já é diferente segundo a gente pode constatar, na medida em que os profissionais de educação contratados fazem um trabalho tão inadequado que eles mesmos não aceitam, na hora da prova de avaliação. Para consertar, entram outros professores que irão tentar fazer a criança alcançar aquilo que já teria alcançado, se realmente o ensino fosse bom. Chato é ver que muitos pais acham que o defeito é, em última análise, de seus próprios filhos. E que as escolas que “reprovam muito” são as melhores, porque são escolas “fortes”. E o pior é que essa lenga-lenga vai pelo ano afora, e quando chega o final do ano, todo aquele conteúdo é esquecido, porque na verdade não tinha a menor importância.
Entendo a angústia dos pais, principalmente porque sei que não sabem exatamente o que é desenvolvimento da inteligência nem tão pouco os níveis cognitivos de seus filhos. Mas não entendo os que se intitulam educadores, que teriam a obrigação de saber porque faz parte do currículo de seus cursos de formação. Todo professor deve saber o que seu aluno entende, para então estabelecer o que vai propor em sala de aula.
No meu entender, vai levar muito tempo ainda para que a sociedade entenda o que realmente é “educar uma criança” e qual deve ser o modelo sustentável de escola.

Um comentário:

Isaias disse...

Baita texto! Só pude ler com um ano de atraso, mas deixo aqui meus parabéns. Gostei muito.