sexta-feira, 23 de março de 2018

Onde começa a corrupção?

   Corrupção começa em cima? Ou em baixo? De onde vem essa praga que nos assola por todos os lados, e que parece impossível de ser eliminada? Uma das coisas que mais vemos é a reclamação dirigida contra os políticos, contra os governos, sejam eles quais forem, mas ela não nasce ali. Pode até florescer, encontrar campo fértil para seu desenvolvimento pleno, mas aquele não é o estágio inicial. Na verdade, as mesmas pessoas que reclamam em altos brados contra a corrupção são, em princípio, as geradoras de autorizações explícitas, quando não promotoras e incentivadoras da corrupção. Essa "doença social" tem início em casa, quando uma criança é subornada para fazer alguma coisa - ou deixar de fazer alguma coisa, quando recebe um "prêmio" (outra maneira de dizer "propina") ... Ora, premiar não é crime, mas é preciso que haja uma relação de mérito x valor, caso contrário a coisa desanda desde cedo. Percebam que as crianças já não obedecem mais os pais ou outros adultos pela heteronomia (ordem vem de fora), sabendo que podem barganhar, na medida em que alguma coisa será oferecida em troca de sua obediência.
   Pais e adultos estão, geralmente, sem paciência para educar, de fato, as crianças, e assim nada é levado até o limite onde a conversa poderia gerar uma experiência positiva, que no final das contas vai ser o balizador do comportamento futuro dessas crianças. Um caso clássico de que não há mais envolvimento na tarefa de educar é a fácil observação de pais que "fingem" não estar vendo o comportamento antissocial de seus filhos nos mais variados ambientes. Crianças pisam no pé de uma pessoa próxima, e os pais "não viram". Derramam o conteúdo de seus copos nas mesas de restaurantes e lanchonetes, mas os pais continuam suas conversas ao celular... A sensação geral é que as crianças estão ficando insuportáveis e socialmente inadequadas no convívio. Em alguns casos, crianças são vistas gritando com seus pais enquanto eles parecem não ouvir, não tomando qualquer providência a respeito.
   Quando acontece de existir uma pessoa, como eu, que está sempre disposta a educar, e que chama a atenção da criança, os pais ficam em posição de desculpas, e ainda assim não fazem nada com relação a questão principal: o comportamento do filho. Ao que tudo indica, ficam envergonhados com o "comportamento alheio", quando o alheio é o resultado da criação dos próprios - no limite,  deles mesmos.
 Na Escola, a observação do comportamento dos alunos identifica claramente o que se passa em casa. Por exemplo, as crianças pequenas apresentam, muitas vezes, um comportamento agressivo para com a professora, e se analisarmos mais a fundo, veremos que elas tem o mesmo comportamento com relação às mães, que tem em muitos casos, mesmo quando tentam corrigir os pequenos, são desqualificadas pelos pais na frente das crianças. Todas essas leituras vão moldando um comportamento que não se encaixa naquilo que queremos para nossa sociedade e para a vida de relação. É urgente que se chegue a um acordo sério sobre como levar adiante um trabalho integrado de educação dos filhos.
Toda essa enorme quantidade de informações que vão sendo observadas pelas crianças, formam um filtro perverso que é usado pela vida toda, e que com o crescimento da criança, só se agravam, porque estão firmes na mente. Aí vemos os casos dos adolescentes descontrolados e adultos amorais… e não sabemos porque isso acontece.
A corrupção é silenciosamente instalada em nosso sistema de avaliação das relações, desde quando um aluno copia o trabalho da internet e recebe como estímulo para isso um sorriso matreiro dos pais, que sabem o que está acontecendo mas permitem essa “esperteza” porque o objetivo final é a nota e a promoção de ano. A corrupção vai tomando forma quando transformam a mentira em algo válido, como por exemplo, quando é dito para a criança “não comentar” na escola algo que foi falado no ambiente familiar. Quando se obtém um atestado falso de saúde para justificar a falta do aluno, imaginando que isso passa despercebido dele. Não se engane: tudo isso é corrupção, e o pior, um aprendizado espetacular sobre como praticá-la sem medo.
As crianças estarão com seus pais quando eles “cortam caminho” pelo acostamento das avenidas e estradas, quando eles jogam lixo nas ruas, quando passam por sinais fechados, andam sem cinto de segurança, param em vagas destinadas a pessoas com necessidades especiais. E a coisa fica mais grave quando ocorre a transgressão (estacionar em vaga para deficientes) e justificar que pode porque é rapidinho. Vá somando tudo isso e veja o curso avançado que está sendo oferecido à criança ao longo de sua formação. Os resultados, todos conhecemos e abominamos … mas é preciso não criar o operador.
Tenha cuidado, esteja atento ao que você ensina ao seu filho, porque o mundo, cada vez mais, não será de corruptos - e isso não é utopia! Até porque ninguém aguenta mais tanto parasitismo instalado no organismo que denominamos sociedade. Pode ser muito difícil corrigir um adulto corrupto, mas certamente é bem mais fácil não levarmos uma criança até essa condição abjeta.
No final das contas, produzimos nossa própria safra de corruptos, que em algum momento serão os sanguessugas de todos os esforços que coletivamente fazemos, em prol de seu enriquecimento pessoal. Forme seres que sejam bem sucedidos por mérito, por criatividade, por uso produtivo e íntegro da inteligência e com lastro moral para entender o mundo que teremos pela frente, e você verá como vai ser desnecessário sair gritando por aí “Fora … (escolha o nome para colocar aqui). Educar é uma coisa extenuante, mas vale a pena.
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Um comentário:

Daniel disse...
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