quarta-feira, 8 de setembro de 2010

POR QUE NAO SE APRENDE CIENCIAS NA ESCOLA?

Todos os educadores ficam muito intrigados, sempre se perguntando por que os jovens além de não estudarem ciências na escola, não gostam delas? Acho que as respostas estão ligadas diretamente à metodologia que é utilizada. O método expositivo não proporciona aos jovens a idéia do que realmente é a ciência. O professor chega à frente da sala de aula e faz uma exposição, dando as definições do que será estudado, fazendo exatamente o contrário do preconizado pelo método cientifico, onde o aluno deveria levantar as hipóteses, experimentar testando todas para finalmente chegar a sua definição. Logo, o propósito destes professores é mostrar a seus alunos o quanto ele sabe e não oferecer meios para que eles aprendam a fazer ciência.

Vamos mudar esta relação. Numa escola baseada na Dinâmica de Grupo, quem tem que mostrar que sabe são os estudantes, através da pesquisa, do debate e da discussão. O caminho é mais longo, mas é bem mais eficiente. O conhecimento, uma fez construído é definitivo. Vamos esperar, pois para Piaget não existe a pressa (ele diz sempre que pressa é coisa de americano). Não importa o tempo que os alunos levem para concluir um pensamento, o importante é que concluam. Ele afirma isso para todas as conservações que descobriu no pensamento humano (comprimento, número, substância, peso, volume etc...). É muito importante salientar também que, para Piaget, não existe o erro e sim o nível em que a criança ou adolescente se encontra. Eles darão sempre uma resposta no seu nível de desenvolvimento mental e se ela não estiver dentro do padrão, isto quer dizer que ele ainda não teve nível para fazer uma acomodação (no sentido piagetiano do termo). Então o problema deve ser retomado, para que vá sendo amadurecido. Por isso o grupo é tão importante na aprendizagem, e como diz Lauro de Oliveira Lima, o melhor professor é aquele que acabou de aprender.

Todo o aprendizado da ciência deveria ser experimental. Não se pode, com o pensamento concreto que domina grande parte do ensino básico, perceber e concluir grandes teorias. É muito importante que os jovens conheçam, através de suas pesquisas, os cientistas e toda a historia das ciências, para ver o encadeamento longitudinal. Normalmente são oferecidos fatos soltos para as crianças, que não tem idéia de como aquele pensamento nasceu e a razão de ter nascido. Qual era a necessidade da época? Por que estavam fazendo aquelas pesquisas? Os professores deveriam ter um mínimo de conhecimento da epistemologia para poder lidar com cérebros tão desenvolvidos como os dos seres humanos. Mas não, eles são apenas treinados em faculdades obsoletas em técnicas pedagógicas ultrapassadas. Daí a mudança ter que vir na formação dos professores. Todos deveriam estudar ciências e matemática. Os cursos de formação de professores agregam justamente aqueles que estão fugindo das ciências exatas, em sua esmagadora maioria, até porque suas escolas eram iguais aquelas onde vão exercer sua função docente. É urgente rever estes currículos. Professor deveria ter a formação mais esmerada entre todas as funções, pois é ele que está à frente da formação das novas gerações. Será que ninguém se dá conta disso? Vão para o magistério em sua grande maioria os que não deram certo em outras profissões, aqueles que não queriam estudar ciências. Ou então para os que tem vocação para missionários. Não deveria ser nada disso. É uma profissão especial sim, para os bem formados, os melhores da sociedade, mais estudiosos e visionários.
Lauro de Oliveira Lima diz, com muita propriedade, que todo professor deveria ser leitor de ficção cientifica, pois seus alunos não vão viver, de forma nenhuma, no mundo de seu professor. Ele tem que saber projetar estes estudantes para o futuro. Lauro, como visionário que é, sem saber nada sobre a internet nos anos 70 disse em seu livro “Mutações em Educação segundo McLunhan” que teríamos uma rede mundial de informações e ela realmente surgiu. Como pode se antecipar tanto? A resposta é: pensando e se projetando no futuro.

Temos, pois, que dar ênfase ao ensino das ciências em nossas escolas, para que possamos ter um desenvolvimento sustentável em nosso país. Professores de ciências e afins: uni-vos! Vamos formar uma corrente para mudanças dos currículos de suas matérias. Vamos trabalhar a ciência de ponta e deixar para a internet o que já está ultrapassado. Vamos introduzir nossos alunos no mundo do conhecimento, que é o projeto para o século XXI.

Beta

Um comentário:

Odorico Ribeiro disse...

Oi Beta, peço desculpas a você em primeiro lugar mas também a todos que lemos o teu blog, mas sempre que eu possa vou repetir e repetir e repetir sobre a convocatoria necessaria a partir do teu chamado em pro da transformação na educação. Um chamado, um grito teu que já leva muitos anos.
Já não podemos nem devemos esperar mais. Perdoem minha injerência nesse asunto tão importante, pois sei que eu não sou a pessoa mais indicada. Mas eu modestamente já comecei a chatear e a bater nessa tecla, para te apoiar Beta. Todos devemos fazê-lo. Meu apoio é irrestrito e total. Já não posso disfarçar minha preocupação que você mesmo me despertou há tanto tempo. E todos, todos, temos de te apoiar. No teu artigo de ontem (A desconstrução do futuro) fiz um apelo que simplesmente vou repetir hoje, literalmente:
Oi Beta, é obvio que não é mais possível ficar assistindo a que só você lute pela verdadeira transformação da educação tão necesaria no Brasil de hoje. E mais ainda quando o próximo governo começará a ter nas mãos os primeiros dividendos do pré-sal. Vou repetir pela enésima vez que todos nós que de alguma maneira conhecemos teu esforço e o do Lauro (ex-professores da Chave, ex-pais, professores e pais atuais, alunos e ex-alunos), devemos juntarnos nessa cruzada e, por exemplo, enviar essas tuas palavras de hoje a todos os organismos possíveis, a todos os partidos possíveis, a todos os comunicadores, autoridades, ao MEC. E que isso se faça repetidas vezes. E que também se façam atos públicos, tais como marchas, festivais com a participação de artistas, etc. Talvez seja o momento de lembrarnos de campanhas como a das “eleições diretas já”. A educação tem uma solução! E ela está ao nosso lado, é só querer, é só ter vontade política. E a nós, Beta, nos toca te ajudar a que essa solução se propague fortemente através de uma campanha forte e irreversível. A nossa força é grande e depende só de nós. Queremos realmente a transformação da educação? Pois se a resposta é sim, vamos fazê-la. Mas terá que ser todos juntos, só a Beta, não dá. E esse grande movimento deve começar justamente na comunidade que conviveu e convive na Chave, que conhece bem as reais possibilidades de iniciar essa transformação. Só depende de nós.