quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um salto para trás - "homeschooling"


“Homeschooling” - você já ouviu falar disso? É o mesmo que “ensinar em casa”, ou coisa parecida. Isso já foi a única alternativa, a única maneira de as crianças obterem conhecimentos gerais, noções de matemática, de português, de geografia... Geralmente isso acontecia através de tutores ou de pais mais esclarecidos, mas certamente não poderia substituir um projeto educacional estruturado, tanto é assim que ao longo do tempo o que vimos foi a criação de um projeto de educação que inclusive tornou obrigatória, por lei, a presença da criança na escola.

O advento das cidades força a criação de um ambiente educacional onde a população possa formar as gerações futuras. Tenta-se padronizar o ensino, criam-se currículos, treinamentos de professores, etc. Nem tudo deu certo e hoje temos um sistema educacional muito ruim, mas ao invés de acabar com ele, devemos é lutar pela sua melhoria. Precisamos dar mais importância à Educação, sim. Com uma escola boa, sim. Com professores bem preparados, sim. Apagar o esforço da sociedade nesse sentido é voltar a uma sociedade que não tem mais espaço no mundo em que vivemos.

Foram feitas leis que obrigam as crianças a estarem por tempo determinado na escola. Por que alguns pais, ao invés de lutar por boas escolas para todos, preferem e lutam para educar seus filho em casa ? Educar é um exagero, porque o que eles estão fazendo e acreditam é em transmitir “conhecimentos” que decidiram ser  importantes para seus filhos. E o argumento é que querem que seus filhos sejam “os melhores”. Melhores com referência a que?

Mas, num modelo como esse, em que momento se dá o desenvolvimento MORAL das crianças? Sem socialização ela não se completa, porque esse desenvolvimento só se dá no encontro com os outros, em dinâmica de grupo. Estes  pais estão muito atrasados quanto a moral,  já que não enxergam a sociedade mas apenas seus filhos. Nós  temos que ver a sociedade como um todo.

Quando estes pais desobedecem  as  leis de forma tão declarada, estão ensinando a seus filhos que as leis não foram feitas para serem obedecidas. Por melhor que seja a intenção  deles, isso corrompe os valores na base da formação dessas crianças. E aí, no período em que seus filhos forem cursar uma universidade, querem que os mesmos entrem no sistema e respeitem as regras. E vai ser assim?  Claro que não.

Primeiro porque o que eles querem nessa fase é que os filhos tenham um diploma universitário, pois essa é uma exigência do mercado de trabalho. Mas que profissionais serão esses que entendem a alternativa a lei como uma possibilidade real?  Que não discutiram regras e valores durante sua formação. Seria mais coerente que seus pais não os levassem a trilhar também a universidade, optando por situações alternativas para ganhar a vida … e não  curvar-se ao sistema depois de tanta rejeição ao mesmo. Por que não radicalizam até o fim?

Gostaria de saber a formação desses pais que acham que conseguem ser melhores do que o sistema vigente em termos de educação. Certamente não serão especialistas, não tiveram treinamento, não estão focados nessa área. Podem até ser bem intencionados em suas propostas, mas se for para resolver um problema de baixa qualidade de ensino, porque não fundam uma escola e imprimem seus valores para serem aplicados por profissionais de verdade, treinados e estudados no assunto?

Um problema importante é que os pais que querem prescindir do sistema educacional - até o momento de aderir a ele - é que os mesmos não fazem a menor idéia de que as escolas não deveriam mais ser transmissoras de conhecimento, mas sim locais para o desenvolvimento pleno da inteligência. Saber coisas, mas não saber o que fazer com elas não é mais educar. E é isso que eles querem repetir, num modelo alternativo?

A luta por melhores escolas é grande e precisamos de todos os aliados para denunciar o que esta acontecendo em nosso sistema. Não precisamos de um modelo ultrapassado que, ainda por cima, seja a repetição de uma fórmula ineficiente.

Beta

3 comentários:

João disse...

Recomendo a leitura dessa notícia do "último segundo" http://tinyurl.com/5tenv3r

Eu apoio o homeschooling, sou completamente desfavorável à coletivização forçada do ensino.

Daniela, mãe da Lia e da Dora disse...

Beta, não tem a ver com o assunto do post mas achei que aqui seria um bom meio de contato: sobre a discussão de Monteiro Lobato e o racismo que foi abordada ligeiramente no último serão e está pegando fogo na Internet, encontrei um texto que achei bem sensato e interessante aqui: http://www.interney.net/blogs/lll/2011/02/20/monteiro_lobato_racismo/

A respeito do homeschooling eu acredito que para muitos pais o que está em jogo mais do que os conteúdos ensinados são os valores da sociedade em que vivem (e que a escola reflete). Se eles desaprovam veementemente esses valores, manter as crianças em casa na fase em que estão em formação e altamente suscetíveis a influências externas talvez pareça uma boa opção (ou em alguns casos a única opção). Sem discutir a validade dessa escolha, isso explicaria o fato de esses pais aprovarem a ida das crianças para universidades regulares, depois que elas já estão "fortalecidas" e formadas longe do que veem como más influências.

Marzo Piter disse...

Olá,

Sou formado no ensino público, estudei meu primeiro e segundo graus (ensino fundamental e médio, respectivamente) em escola estadual. Era uma escola modelo (creio que uma criação do governo Montoro, não sei ao certo) e os professores eram "de carreira" como se costumava dizer. Minha professora mais "nova" já contava com 15 anos na mesma escola (na cidade de Mauá, que por acaso, possui um dos piores IDH do estado de São Paulo). Naquela época as coisas eram muito diferentes e eu não reclamava da educação pois era boa e a única opção, segundo minha pouca referência no assunto, porém comparando com os dias atuais, aquela educação seria uma das melhores que o dinheiro pode comprar. Tenho duas filhas, uma no 7º ano e outra no 4º ano e estudam em colégio particular e o ensino, em termos de qualidade, é inferior ao que eu tinha há 20 - 25 anos atrás (tenho 34 anos atualmente). Antigamente sentia que existia um plano de estudos, uma preparação pedagógica,atualmente melhorou-se a técnica mas não a aplicação prática, infelizmente.Em relação à sua observação, realmente seria interessante lutarmos por um sistema de ensino de qualidade, mas até lá nossos filhos já se tornaram adultos e não veremos o resultado desta luta. À primeira vista, pode até parecer que estamos nos excluindo do sistema, mas fazendo isso, mudamos o mesmo, é a ferramenta que temos à mão para mudar o nosso ambiente com resultados rápidos e creio que é isso que precisamos, resultados rápidos e visíveis, se não para a maioria, pelo menos para aqueles que tanto amamos. Vendo os números de grandes potëncias, no tocante ao homeschooling, é impressionante, faculdades, nos Estados Unidos, estão à caça destes alunos, claro que não é um sistema que pode ser popularizado, isso é óbvio e nem conseguiremos ou queremos acabar com as instituições de ensino, até por que é uma minoria que quer isso, mas a difusão do homeschooling poderá melhorar muito o ensino de uma forma geral, será uma luta tão duradoura quanto a luta por melhores escolas, porém com algumas vitórias visíveis.