terça-feira, 5 de julho de 2011

A revolução redundante



Lendo e relendo artigos na internet, fico intrigada sobre qual o motivo da falta de elementos inovadores sobre Educação. Minha última surpresa foi com o material publicado em VEJA, onde Bill Gates aplaude o matemático do MIT, Sal Khan, que desenvolveu e mantém a KHAN ACADEMY e um site que oferece 2.400 vídeos sobre assuntos diversos, como Matemática, Ciências, Humanidades e exercícios preparatórios diversos. Seu mote é que, com esse acervo, está disponibilizando material “para você aprender o que quiser, quando quiser, no seu próprio ritmo”.
    Parece uma coisa revolucionária, mas é simplesmente a repetição do modelo de aula dada nas escolas tradicionais, com uma montanha de exercícios para passar de fase. Educação, como repito à exaustão, não é isso. Usar o computador com ferramenta educacional não é isso também. O que está sendo feito ali é criar um efeito multiplicador do ruim, e isso é grave, muito grave, principalmente quando tem o respaldo de um biliardário como Gates, “pai do Windows” e certamente um dos homens mais ricos e influentes do mundo. Mas como, ao que tudo indica, ninguém ainda sabe o que fazer com o poder extraordinário da internet, ocorre um surto de felicidade quando alguém se arrisca a lançar um produto que pareça fazer sentido.
    Nesse site (http://www.khanacademy.org), crianças e adolescentes encontram conteúdos que estão disponibilizados para qualquer um, a qualquer hora. A contraposição ao modelo vigente, segundo o texto, é de que ali as pessoas podem fazer seus horários, enquanto as escolas tem um modelo de dias e horas marcadas. Será que está achando que isso é a grande revolução educacional? Ao que tudo indica, sim, pois de resto não há diferença nenhuma: é conteúdo sendo “empurrado” de alguma forma, só que o aluno pode dizer a hora em que quer ser “adestrado”. Os exercícios são os mesmos que constam das atividades em sala de aula, e que podem ser encontrados nos livros didáticos mais tradicionais.
Ora, ora, ora,  “seu” Bill Gates. Não seria lógico imaginar que, dispondo de recursos tão poderosos quanto processadores I7, internet, multimídia, programas de produção gráfica 3D e tantos outros elementos tecnológicos (estamos falando de alguém do MIT, onde são criados os conceitos que depois se transformam em produtos pelos quais a maioria de nós vende a alma para poder comprar), pudessem ser montadas aulas maravilhosas? E que essas aulas deveriam ser minimamente interativas? Gostaria que entendessem que a ordem do dia é: nada de criança SÓZINHA no computador, porque para a criação, a falta de interatividade tira a função do mesmo. Ninguém, mas ninguém mesmo, vai trabalhar sozinho nesses tempos e nos tempos vindouros, pelo simples fato de que ninguém mais consegue ter 100% da competência necessária para enfrentar os desafios que vão se apresentando. O trabalho em equipe, colaborativo, cria as condições necessárias para a inovação. Nenhum de nós é mais inteligente do que todos nós! Isso é conhecido, mas ainda pouco praticado.
O que fica meio patético é essa festa que se faz em torno do “velho vestido de novo”. Na verdade, travestido, porque não é nem uma coisa nem outra e não acrescenta nada. A KHAN ACADEMY não é revolucionária, e não criou nada que possa se chamar digno de proporcionar EDUCAÇÃO.
O que há, na verdade, é a necessidade de discutirmos, incansavelmente, novas propostas para utilizar esse veículo fantástico que é a internet. Estamos usando um trator como se fosse uma enxada, perdendo o melhor que ele tem a nos oferecer. Colocar CONTEÚDO à disposição não é suficiente, se não criarmos modelos de uso para todo esse acervo formidável.
    Enquanto não fazemos isso, teremos o surgimento de muitos sites como o do matemático, usando recursos de avançada tecnologia para apresentar o mesmo de sempre, de outra forma. Isso é correr atrás do rabo. Isso é trabalhar com melhoria contínua, quando na verdade precisamos é de uma mudança de modelo estruturado. E uma outra coisa importante é que, quem vá fazer um trabalho educacional, tenha conhecimentos sólidos de pedagogia, psicologia, níveis de desenvolvimento mental, etc. Vocês já repararam como tem gente de todas as áreas opinando e criando coisas em Educação? Louvável, mas absolutamente inútil, na medida em que a grande maioria não sabe bem para onde está indo e o que quer ao final do processo, e por isso recria situações que não levam a lugar nenhum, ou pelo menos a nada de produtivo e eficiente.
    O site, em última análise, segundo pude constatar, “prepara as crianças para fazer exames”. Para quê, se esses vão acabar? Ninguém mais acredita nos resultados desses exames que são criados para dar forma a alguma coisa que não aconteceu. Ninguém mais acredita que, o fato de ter passado ou não em uma prova, determina se o indivíduo é capaz ou não, até porque as provas tratam de verificar apenas a capacidade mnemônica do indivíduo, ou seja, quanto conteúdo ele conseguiu decorar. A incongruência é grande, porque na hora que você procurar um médico, quer se consultar com que sabe o nome de todos os ossos do corpo humano ou com aquele que sabe analisar a situação e encontrar a solução? Erudito não é mais quem sabe declamar “Os Lusíadas” integralmente, mas sim quem pode criar um poema inédito e encantador.
    Ainda que repetitiva, insisto: temos que ensinar a PENSAR! Essa é a função mais nobre da inteligência.

Um comentário:

Guilherme Azevedo disse...

É exatamente isso que penso Beta. O mais importante é ensinar a pensar. Parabéns pelo artigo!
Guilherme