Os exames escolares são um grande causador de atritos entre pais e
filhos, isso a gente já sabe. Talvez
porque os pais escolham as escolas, os professores e o ritmo que as crianças
devem seguir esquecendo totalmente de verificar se é aquilo que seus filhos
precisam, querem ou estão aptos a realizar. E quando chega a hora do exame –
aquela verificação tradicional que tenta reproduzir outros check-points que a
vida vai estabelecer na vida das crianças – elas não se saem bem. E o mundo vem
abaixo! Cada exame é encarado como se fosse uma avaliação do que a criança vai
ser na vida, e isso não corresponde a realidade.
Vou analisar a questão sob a
ótica de duas linhas bem claras, embora várias questões possam ser levantadas a
partir da análise acima. A primeira é identificar se as crianças e adolescentes
“querem” o ritmo que lhes é imposto, ou seja, “forte” ou “fraco”, de acordo com
a visão da sociedade sobre o que é a formação. A pergunta é: “será que esses
exames medem alguma coisa realmente importante?”. Ou seja, as crianças estão
sendo convidadas a demonstrar o que realmente sabem ou coagidas a cumprir um
ritual imposto por seus responsáveis (sejam eles pais, educadores, órgãos
públicos ligados à Educação)? Praticamente nunca avaliamos a situação pelo
prisma de quem está sofrendo a pressão, porque a análise que prevalece é a que
é feita pelo lado dominador. É necessário entender que a vida de uma criança ou
de um adolescente não se resume somente a “prestar exames”, porque isso não se
traduz em felicidade. Se fugimos da dor e corremos para o prazer ... essa é uma
situação em que claramente o ser humano se vê compelido a fugir em desabalada
carreira. Como muitas coisas na vida, entendemos que o argumento de “fiz por
amor” é utilizado, com consequências menos úteis. Muitos pais utilizam-se daquele pressuposto
de que “vão dar aos seus filhos tudo o que não tiveram”, e isso não
necessariamente se faz por esse caminho, ou seja, pressionando seus filhos a se
saírem bem custe o que custar, em avaliações espúrias. E mais: você perguntou,
sinceramente, ao seu filho, o que ele realmente quer? Ou pelo menos tentou
entender isso quando ele disse, com os olhos brilhantes, o que realmente
queria? Embora você, pai, possa estar fazendo o que lhe parece melhor, doando-se
integralmente para que seu filho tenha um futuro maravilhoso, pode estar com o
foco equivocado quando pensa que isso se dará tão somente pelo sucesso
financeiro. Se a criança só tem como referência de valor as coisas materiais,
não terá isso no futuro para oferecer ou aspirar, e isso vai ser insuficiente
para enfrentar todas as demandas de uma vida integral.
A outra coisa que eu gostaria
que os pais considerassem é a análise do exame a que seu filho está sendo
submetido. Sempre que seu filho fizer uma prova, pegue uma cópia do mesmo e
veja como você se sai nas disciplinas em que você quer que ele seja um expert,
mesmo tão jovem. Se você, pai, tem nível universitário, veja como se sai em uma
área fora de sua especialização. Faça uma prova dessas sem compromisso, o que é
totalmente possível já que seu filho está no Ensino Fundamental ou Médio. Como
você já passou por essa fase, deve se perguntar como pode não se sair bem
agora? Alguma coisa está errada. Tente você fazer o ENEM (o exame está online)
e observe o que estamos querendo que os jovens saibam em todas as áreas, quando
às vezes nem especialistas o sabem. Por que criamos esse clima de tragédia,
quando as crianças não passam nesses exames que não fazem nenhum sentido. O que
é aferido? Verifica-se a inteligência ou a estratégia mental do indivíduo? Não,
usa-se apenas aquela parte do cérebro usada para armazenagem de dados e alguma
coisa da habilidade de repetir modelos, sendo isso o ponto alto desse momento e
uma inutilidade absoluta para o futuro. Tente você, com mais de 30 anos,
recitar (e o termo recitar se aplica) todos os afluentes do Rio Amazonas. Tenho
certeza de que você aprendeu isso, e inclusive foi testado a respeito. Mas pela
falta de uso da informação, foi apagada de sua memória. Hoje, o mais fácil é “googlar”
a pergunta e em poucos nanosegundos, obter a resposta completa. A questão
principal é o que fazer para manter a Amazônia e seus rios preservados, em uma
perspectiva sustentável.
Deveríamos propor algo sobre a
inteligência. Problemas que todas as pessoas inteligentes conseguissem resolver para depois estudarem
conteúdos de áreas a se especializarem. Nestes exames, tenho certeza que muitos
dos pais passariam. Ficamos atrelados a
antigas ideias, como por exemplo a de que os jovens tem que “saber coisas” ao
invés de saber pensar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário