Esse foi um filme que me chamou a atenção e ficou gravado na minha memória, pela dramaticidade de tomar uma decisão que pode definir a vida de quem amamos. Como pode uma mãe ter que fazer uma escolha entre seus filhos, decidindo seu futuro? Mesmo que, em certas circunstâncias isso seja inevitável, ainda assim é cruel.
A vida nos coloca em situações surpreendentes, para as quais não estamos preparados pelo inusitado das mesmas. Escolher uma escola é uma daquelas coisas que podem atingir um nível de complexidade muito grande, e considero essa uma situação tão séria que já escrevi anteriormente uma artigo sobre isso. Mas volto ao tema porque tem um significado especial para mim, como educadora, e acredito que para muitos que estão envolvidos com a criação dos filhos.Existe um período do ano em que o movimento de busca da nova escola se torna um assunto prioritário. Mas a discussão geralmente gira em torno do preço da escola, e não de outros elementos que, no final das contas, são os mais importantes. Para a grande maioria, escola é CUSTO e não INVESTIMENTO, o que significa que em princípio, a decisão final fica comprometida com valores que a longo prazo são os menos importantes.
Tenho em mente que o Estado deveria oferecer ensino gratuito para toda a sociedade, com a mesma qualidade, focado no desenvolvimento de nossas crianças e adolescentes, mas é fácil constatar que isso não aconteceu, não acontece e está longe de acontecer, infelizmente. E vamos desperdiçando essa enorme massa de capital intelectual ano a ano, geração a geração. Para conseguir algum diferencial, famílias fazem esforços sobre-humanos para optar pela qualidade e não pelo preço. A decisão é difícil, frente as limitações impostas por um sem número de ocorrências, mas o que fica claro no médio e longo prazo é que Educação é o melhor investimento que podemos fazer em nossos filhos. E a Escola é o canal para ver acontecer, num futuro não muito distante, o acerto da decisão.
Por que tantas famílias preferem apresentar um belo carro enquanto seus filhos frequentam uma escola de qualidade duvidosa e preços módicos? Um símbolo de status em detrimento do futuro dos filhos... Visto sobre esse aspecto, é inacreditável, não é mesmo?
Meus pais, ao longo de toda a vida, foram muito enfáticos ao afirmar para seus sete filhos, que não teríamos herança alguma salvo a escolaridade e qualquer coisa que quiséssemos estudar. Mesmo para os filhos já adultos, e até casados e pais de filhos, eles sempre fizeram questão de pagar os estudos tais como universidade, pós graduações, cursos de aperfeiçoamento e tudo o que fosse nos levar a um patamar superior em termos culturais e intelectuais. Não deram carros ou apartamentos a ninguém, mesmo porque a vida sempre foi difícil e em uma determinada fase, terrivelmente problemática, com as perseguições do regime militar impedindo que meu pai conseguisse um emprego mesmo medianamente remunerado. Mas, ao final todos foram bem criados e bem educados.
Hoje, papai é bem velhinho (completou 90 anos em 2011). Mamãe faleceu há 30 anos. Ele tem certeza de que fez o que achou certo e que todos os filhos hoje, estão com suas vidas organizadas e intelectualmente ativos e produtivos. E frente a esse exemplo, fico me perguntando porque o mundo mudou tanto de lá para cá, tendo a esperança que os valores dele sejam retomados em algum momento pela sociedade - sim, porque não foi só ele e minha mãe que tiveram atitudes como essa. O fato é que fica patente que, para obter melhores resultados em termos de oferecer um futuro melhor para nossos filhos, precisamos escolher o melhor em termos educacionais, mesmo que deixemos de comer em restaurantes da moda ou possuirmos “o carro”.
E a “Escolha de Sofia”? Bem, a história me voltou a mente quando vi uma família composta de mãe e dois filhos, sendo submetida a esse dilema. A mãe só vai poder pagar a escola de um dos filhos, e terá que matricular o outro em uma escola pública, que como se sabe, é um caos lastimável. Claro está que existem as chamadas “escolas de referência”, mas essas não contam porque certamente são pouquíssimas e não absorvem o contingente enorme que bate a porta em desespero. Inclusive, nessas escolas, há o sorteio de vagas previamente destinadas a professores e funcionários. O problema dessa mãe é ter que matricular um dos filhos em uma escola pública inaceitável para uma pessoa de classe média, que tenha conseguido manter as crianças em uma escola particular até aqui.
Quem, por qualquer motivo tenha visitado uma escola pública, tem uma idéia do que eu estou falando. Imagine o olhar de alguém que já teve condições de pagar por escolas de nível A para seus filhos. Atendimento deficiente, falta de informações consistentes, tratamento sem qualidade … a antítese do que se prega como padrão de atendimento em qualquer organização séria. E aí, a pessoa que sempre teve alguma possibilidade de pagar … fica sem chão. E com razão. E fica a pergunta: por que os menos favorecidos financeiramente tem que passar por uma situação como essa? Quando é que as escolas públicas vão ser suficientemente boas para todos - sejam pessoas com poder aquisitivo alto, sejam pessoas sem condições de pagar? O fato é que hoje, sem dúvida, quem pode pagar tem uma educação diferenciada para melhor, enquanto não restam alternativas para os demais - que são a maioria esmagadora da população brasileira. Por que um empresário pode montar uma escola de alto nível, enquanto o Estado, com todo o dinheiro arrecadado, não consegue fazer o mesmo, dispondo de recursos estratosférios.
Vendo essa mãe, que vai ter que tomar essa decisão a curto prazo (as aulas daqui a pouco começam!), fiquei pensando sobre tudo isso. Qual dos dois filhos será o escolhido para o sacrifício? Quem deverá ser colocado nas mãos do Estado? Essas perguntas, feitas de maneira geral, cabem em muitos casos porque com um mercado que oscila por tendências cada vez mais peculiares, profissionais bem remunerados de toda uma vida, podem ser vitimados por mudanças inesperadas e ter seus rendimentos levados ao mínimo necessário para a sobrevivência. Ou até menos. E no processo, o enxugamento atinge a todos os centros de custo da casa. Uns optam por vender a casa de campo ou praia. Outros em vender o carro de luxo e comprar um mais modesto. Outros deixam de pagar o condominio ou até cortam o plano de saúde. Mas todos analisam a mensalidade da escola como algo que pode ser resolvido colocando o filho na escola pública … e aí a coisa se torna muito séria. Considero que a idéia do Senador Cristovam Buarque faz todo sentido nessa hora: obrigatoriedade de filhos de políticos estudarem nas escolas públicas! Pode ser utopia, mas é excelente idéia, porque essa classe estaria totalmente atenta ao problema, como nunca antes esteve. Ninguém gostaria de oferecer aos seus filhos um arremedo de educação!
Enfim, o sofrimento dessa e de tantas outras mães conscientes, mas sem condições financeiras de arcar com os custos da educação, poderia ser mitigado. Quanto custa estudar no Brasil? Depende. Se você estiver entre os 20% mais ricos da população, vai chegar ao fim de 20 anos de colégio e faculdade com uma formação de aproximadamente R$ 250 mil. Isso significa cerca de R$ 1 mil por mês. Nessa conta entram o dinheiro que você tira do próprio bolso para pagar as mensalidades e a contribuição que o governo faz (com investimento em universidades estatais e deduções de imposto). Agora, se você fizer parte dos outros 80%, sua educação receberá um investimento bem menor: o equivalente a R$ 116 por mês. Esse é o total gasto pelo país por aluno para manter as escolas públicas, onde não se passa muito tempo. Em média, essa parte da população completa só 5 anos de estudo formal, geralmente entre os 7 e os 11 anos de idade.
Qual a sugestão e solução para nossos problemas educacionais? As sugestões do Prof. Lauro de Oliveira Lima estão em mais de 30 livros escritos durante mais de 40 anos. Será que algum dia nossos dirigentes da área de educação vão se dar ao trabalho de ler?
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