quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Como fazer para seu filho comer bem




   Uma das tarefas mais difíceis e desgastantes para a família pode ser a de fazer as crianças comerem. Evidentemente, ninguém pode fazer uma criança comer a força, despejando “goela abaixo” o alimento, como se tentou fazer, sem sucesso, durante muito tempo. Se não acontecia exatamente assim, pelo menos essa era a ameaça que se ouvia durante as refeições. Mas o que fazer quando surge essa dificuldade?
   Em primeiro lugar, desde a mais tenra idade não fique “enfiando” comida na boca da criança. Inverta a situação e espere que ela reclame (choro, movimentos molares) pedindo alimento. Todos os que cuidam da criança devem saber essa regra e cuidar para que a criança não esteja constantemente satisfeita. Em segundo lugar, e também fator determinante, ofereça alimentos dos mais diversos sabores e cores. Não misture alimentos de vários sabores e permita à criança degustar, para que ela possa definir do que gosta ou não. Sopa, por exemplo, é um dos problemas clássicos nessa relação, porque não tem um sabor definido, específico, o que gera uma série de problemas de rejeição como pode ser visto nas inúmeras charges da Mafalda, por exemplo. A sopa deve ter um sabor individual, e você deve ir fazendo sopas de um legume de cada vez, acompanhando a receptividade da criança. Não acredite que a percepção dela é igual a dos adultos que a cercam. Certamente, a criança poderá gostar de coisas que talvez ninguém mais da casa goste. Deixe-a provar. Quando  começar a comer as famosas “papinhas”, coloque tudo separado no prato para que ela veja as cores dos alimentos (vermelho, verde, laranja) e faça suas associações. Cores são muito importantes nos pratos das crianças e devem ser muito usadas, porque são estimulantes. Outra coisa importante é que a criança está crescendo e os alimentos devem evoluir com esse desenvolvimento. Se você der sempre alimentos batidos (liquidificados) ela não vai exercitar a mastigação e não vai reconhecer a textura dos alimentos, perdendo grande parte da experiência que no futuro vai ser determinante na alimentação.
   Vale também a regra de que, na alimentação, como na vida, quem cuida não deve fazer tudo da atividade, porque vai eliminar a necessidade de o outro fazer. Deixe que a criança coma sozinha, mesmo que suje tudo, que jogue alimentos fora do prato e dê a impressão de que a refeição está sendo desperdiçada, porque ela precisa aprender e o melhor meio de aprender é fazendo. Jean Piaget diz: “no começo esta a ação”. Tão logo a criança queira sentar, já pode receber a colher na sua mão para utiliza-la como ferramenta para o ato de comer. Como o primeiro esquema organizado é a boca, ela certamente vai levar tudo nessa direção e por conta disso já poderá se alimentar. A fome vai gerar fontes de conhecimento, alto interesse e desenvolvimento. Quem estiver perto da criança, acompanhando seu desenvolvimento ao cuidar dela, vai ver a passagem que fará dos alimentos líquidos, pelos pastosos, chegando por fim aos sólidos, naturalmente. Deixe sua criança experimentar tudo, e assim ela vai conhecer os alimentos, fazer suas opções, determinar seus gostos e ampliar seu espectro de possibilidades nutricionais.
   Importante também não fazer do momento da alimentação uma “guerra”, permitindo  que seja apenas o que é: uma função normal do organismo. No Período Intuitivo, aos 5/6/7 anos, as crianças começam a pensar na quantidade de alimento, fazendo muitas vezes a opção pela quantidade em detrimento da qualidade. Quando você achar que ela está comendo demais, espalhe o alimento no prato, porque ela, não tendo a conservação da substância, acha que tem muita comida ali. Se ela tem dificuldade para comer, junte tudo no centro do prato, porque ela achará que tem pouca comida e vai se dispor a ingerir o que for oferecido com menos resistência.
    Enfim, alimentar a criança é mais fácil do que parece, mas exige a participação da família. Ajuda muito também a criança comer junto com outras crianças. Não proíba alimentos, porque eles se tornam imediatamente objeto de desejo. Deixe que ela prove de tudo. O problema da proibição é que, em algum momento, ela verá crianças comendo coisas que você proibiu, e certamente vai tentar comer também, mesmo que escondida. Ofereça coisas diferentes, desde muito cedo. Não deixe de organizar pelo menos uma refeição por dia  com toda a família, porque essa é uma hora importante tanto para a alimentação quanto para o relacionamento entre todos, proporcionando trocas, encontros, conversas, atualização de novidades. E importante prestar atenção a tudo o que está sendo falado nesses momentos.
Por último, fica uma recomendação crucial: não deixe seu filho fazer as refeições na televisão, no quarto ou no computador, porque esses não são ambientes adequados para criar o hábito de alimentar-se. A mesa traz organização necessária aos seus filhos. Arrume a mesa com cuidado e peça a ajuda deles nessa organização. Também é importante ter alimentos variados numa refeição para que eles possam ter uma experiência alimentar renovada. Os alimentos oferecidos devem ser únicos para toda a família. Oferecer alimentos específicos que a criança quer, visando agradá-la, é um desserviço ao processo. Para aproveitar a boa vontade que as crianças tem naturalmente, peça a colaboração delas para ajudar na cozinha. Elas gostam muito disso, descobrem outro mundo e exploram com prazer as possibilidades.
E fica aqui uma observação que ajuda muito: quando a criança não comer no horário da refeição normal, não substitua esta por guloseimas para mante-la alimentada. Esse tipo de comportamento cria um hábito diferenciado que você gostaria de normatizar. Você estará jogando contra os bons hábitos de seu filho se fizer isso.

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