sexta-feira, 20 de junho de 2014

Transição delicada

O que desperta alegria nas crianças é muito simples...

          Com a Lei de Diretrizes e Bases do Ensino (LDB), o Brasil misturou várias fases do desenvolvimento mental dos alunos, e agora temos simbólicos, intuitivos, operatórios (concretos e abstratos) dentro de um mesmo sistema. São crianças e adolescentes com pensamento inteiramente diferente e com essa mistura, a transição fica apenas na forma de abordagem das crianças. Na Educação Infantil, as crianças têm direito a desenhar, pintar, brincar de tudo e usufruir da felicidade, se as coisas forem bem trabalhadas. Quando entram no Fundamental – que agora é mais cedo – são impactadas por ações torturantes logo de cara. Não tem brincadeira! Esqueçam as tintas, os pincéis, os lápis de cor! Cadeiras individuais enfileiradas são o modelo de agrupamento, num ambiente em que se exige o silêncio para que se concentrem em quadros-negros cheios de matérias que devem ser copiadas (copiadas!!!). Se isso não for ”lido” como um suplício pelos alunos é porque há algo errado.
Por que a escola tem que ser triste e silenciosa? Não deveria ser sempre “infantil”. Não deveria ser baseada no JOGO?  
As crianças vão viver em sociedade, e devem aprender a conviver desde cedo com o outro. Só aprendemos fazendo, e não é isso que praticamos ao preparar a criança para a vida. A Dinâmica de Grupo é a Didática da vida moderna, mas insistimos em “educar para o passado”.
Num modelo de escola moderno, o professor deveria sair do foco e deixar que as crianças vivam sem suas “sociedades infantis”, trabalhando em dinâmica de grupo e construindo o conhecimento. O professor seria um orientador e não um “guia do saber enciclopédico”. Não podemos deixar que as crianças e os adolescentes percam uma parte tão importante da vida, a expressão artística, até porque o desenho, por exemplo, faz com que ela entenda o mundo, a realidade e a causalidade. Para que se tenha ideia da importância disso, é através do desenho que podemos saber o nível das crianças e daí estruturarmos as ações necessárias quando for o caso.
No processo educacional, precisamos estar atentos não só ao desenho, mas também à pintura, a modelagem, a construção e a dramatização, que são formas de representação que vão se perdendo ao longo do tempo em nosso atual modelo de ensinar. Perder essas formas de expressão é perder uma parte importante do desenvolvimento humano que vai, no futuro, gerar um indivíduo dotado de cultura. Cinema, exposições, viagens não são interessantes para quem não aprendeu a dar importância a arte. E isso acontece sistematicamente, podendo ser observado em pessoas que tem formação acadêmica ampla e ... nenhuma cultura. Vida é mais do que conhecimento... é tudo isso junto, em um conjunto equilibrado.
  Pais precisam proporcionar aos seus filhos um desenvolvimento global equilibrado. Focar apenas nos conteúdos em grande parte é perda de tempo, até porque a maior parte dele vai ser esquecido ao longo do tempo por absoluta falta de utilidade. Mas interesse cultural não se perde.
Dentro daquilo que chamamos de Educação, existem os passeios, visitas a outras cidades, viagens mais longas e contato com outras culturas. Essa parte da experiência é duradoura, inesquecível mesmo, enquanto a parte da Escola tem sido aquela obrigação chata, aprendendo coisas de forma pouco natural e depois, por consequência, fazendo provas estressantes que não medem nada. Não é a toa que a Escola pode ser considerada uma coisa terrível que justifica, em muitos casos, a mentira do “estou passando mal” para evitar, pelo menos por um dia, o contato. E o mais curioso é acharmos normal tudo isso. Ver o mal-estar causado na criança e achar que a culpa é dela. Inferir que, ao não querer ir para a Escola, a criança quer é vagabundear... quando na verdade ela está usando todo seu instinto de sobrevivência nessa hora.
Onde está a felicidade que todo pai deseja para seu filho? Provavelmente, a grande maioria dos pais não sabe realmente o que é essa felicidade. Vivendo muitas vezes apenas para o trabalho que não gostam, num mundo competitivo e com compensações apenas financeiras, não conseguem enxergar a essência da felicidade para si – e o que dizer para os seus filhos.
Deixe seu filho ser feliz, sabendo que não adianta encher a criança de presentes. Isso pode compensar muita coisa para os pais, mas não acrescenta grande coisa para a criança. Ela brinca com outras crianças e já tem ali um momento de felicidade espetacular. O que desperta a alegria nelas é muito simples.
Ser feliz é difícil e é o longo caminho que aprendemos na infância. Não prive seus filhos disso, para que não sejam adultos ineptos nessa matéria essencial.

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