quarta-feira, 2 de julho de 2014

O mundo não acaba, mas sua profissão pode desaparecer


                É preocupante imaginar que sua profissão pode desaparecer. Se você não tem essa preocupação, é hora de começar a verificar se isso já não está acontecendo. Conheço vários casos de pessoas que não ficaram desempregadas nas últimas décadas, mas foram inviabilizadas por conta disso. Deixaram de ser relevantes e economicamente ativas simplesmente porque o que sabiam fazer não tinha mais qualquer importância. Os sintomas são claros e em primeiro lugar vem o declínio de quanto estão dispostos a pagar a você pelo seu conhecimento. Paulatinamente, você vê as consequências disso na perda do “status quo”, quando seu padrão de vida não pode mais ser mantido e aquilo que era plenamente aceitável no seu projeto de vida vai ficando distante, inalcançável. Em certo momento, até mesmo a sobrevivência entra em jogo. É sempre bom lembrar do caso dos datilógrafos, que eram essenciais no mundo dos negócios e que foram deixando de ter importância até o momento em que viram as próprias máquinas de escrever deixarem de ser fabricadas. E não estamos falando de um passado distante, mas das décadas de 1970 e 1980. Surgiram os digitadores, que pouco a pouco foram desaparecendo na medida em que todos iam dominando a técnica de escrever usando meio digital, tornando irrelevante a contratação dos mesmos. O interessante é que em vários casos não acontece o desaparecimento completo, mas simplesmente a perda de valor que acaba por tornar a atividade inviável.
                E isso vem acontecendo o tempo todo, só que se nos últimos vinte anos ficou claro que as coisas iam mudar, para os próximos vinte anos não temos mais nem sequer a ideia aproximada do que vai ser ter uma profissão. O que se sabe é que, seja qual for a profissão, vai precisar de criatividade, inteligência, energia, capacidade empreendedora, aceitação do grau de risco e velocidade de adaptação incomum. E se sabemos disso, porque continuamos ensinando coisas que não terão a menor relevância para as futuras gerações? Veja onde se posiciona sua profissão no ranking – qualquer ranking – nos dias de hoje e pense no que você espera para a formação de seu filho.
                É preciso parar de obrigar as crianças a decorarem coisas que estão armazenadas e disponibilizadas em repositórios de peta bytes de capacidade. Precisamos é que elas saibam como utiliza-las para criar uma nova realidade. Você consegue imaginar que seu filho possa almejar, num futuro muito próximo, uma profissão que dependa de decoreba? Qualquer coisa que esteja lidando com armazenamento de informações está hoje pronta e sendo abastecida por quantidades diárias que seriam impossíveis de decorar. Não estamos mais lidando com o valor do “conhecimento entruchado” mas sim do manejo de dados, da articulação de memórias digitais para a produção de valor.
                Qualquer nova profissão vai precisar de ideias novas, de criatividade para fazer de uma maneira melhor aquilo que atenda as demandas da humanidade. Repetir ou copiar o que já existe está fadado a perda de valor visível e consequentemente de remuneração condigna, e é claro que você não compraria alguma coisa que não tivesse a melhor condição de atende-lo. Pode ser que você esteja formando seu filho de uma tal maneira que, no futuro, você próprio evitaria contrata-lo por não ver valor naquilo que ele faz.
                Noto que pessoas que tiveram poucas oportunidades de estudo buscam para seus filhos modelos de ensino “tradicionais”, justamente porque não conseguiram entender  a dimensão dos próximos tempos e agarram-se àquilo que conhecem e que já foi um padrão consentido e aceito pela sociedade para “treinar” crianças para a vida que vinha pela frente. Os pais que não entendem o que é a criatividade e a inteligência não vêem valor nisso, mas a certeza que temos é que, se por algum longo tempo na história da humanidade você “era pago para fazer e não para pensar”, agora estamos no tempo em que os que vão realmente triunfar são aquelas “que são pagos para pensar e não para fazer”.
                As soluções estão sendo criadas para situações que não estavam no espectro de ocorrências na vida de uma pessoa, como por exemplo a comunicação. Li hoje que o ORKUT, uma rede social que fez um sucesso enorme entre brasileiros até algum tempo atrás, está para ser desativada pela Google, gigante mundial de buscas. Isso porque, em um momento da trajetória, surgiu outra rede que atendeu melhor aquilo que era demandado, o Facebook. Hoje, não estar no Facebook é quase um sacrilégio para quem tem uma vida social ativa, mas tem pouquíssimo tempo que está no ar, historicamente falando. E qual é a maior preocupação dessa rede? Que surja alguém que a suplante em eficiência, conveniência, comodidade, rapidez e privacidade, criando uma nova onda que arraste milhões de pessoas no mundo todo para uma nova maneira de interagir. E isso vale para redes de restaurantes, concessionárias de automóveis, hospitais, associações ... menos para a escola, que continua entrevada no seu modelo tradicional, com suas provas, sua avaliação individual, sua mecânica emperrada e obsoleta. Complicado imaginar que isso possa mudar, mas vai ser uma necessidade vital em mais algum tempo.
                Para Piaget, inteligência é a capacidade de resolver problemas, e isso é o futuro. Futuro esse que pertence às crianças, que tem o direito de poder optar. A responsabilidade pela omissão recairá sobre os ombros daqueles que utilizarem o recurso do avestruz, enfiando a cabeça no chão e evitando olhar para o que vem por aí.

                Há muito a ser feito na área de Educação (com E maiúsculo) e o tempo está acabando.

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