segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Com que escola eu vou?

            Em Educação, temos que considerar sempre duas vertentes que deveriam convergir para um resultado de excelência ao final do processo: a Escola e a Família. As famílias escolhem as escolas de acordo com diretrizes gerais, normalmente não definidas com clareza e por vezes sem critério algum – salvo os mais fúteis, como no caso de considerações sobre o status que o estabelecimento pode dar e o prédio onde está instalada. Poucos são os casos onde são levados em consideração critérios mais profundos, até porque a grande maioria dos pais e mães não dispõe de conhecimento para tal. Parece muito crítico, mas a experiência de anos na direção de escola me dá condições para fazer essa análise radical.
            Não tomem os pais essas palavras como uma crítica direta, porque entendo perfeitamente que a falta de conhecimento na matéria nos leva a decisões possíveis, e não às desejáveis. Isso vale muitas vezes para alimentação, médicos, enfim...
            Mas quais são os critérios que levam a família a determinar em que escola seus filhos irão estudar? Uma pesquisadora americana, Su Yeong Kim, da Universidade do Texas, classificou as famílias em quatro grupos (relapsas, apoiadoras, autoritárias e tiranas). São designações dadas a famílias americanas, e fiquei me perguntando se no Brasil temos outros tipos de pais ou se seguimos o mesmo modelo. Cheguei a algumas conclusões sobre a tipologia dos pais, conforme abaixo:
- Relapsos – aquele que não sabe o que está ocorrendo com seu filho e espera, sempre, ver resultados para depois analisar o que aconteceu. Não sabe sob que interferências a criança está vivendo e não nota os progressos que vão acontecendo. Não deixa que as crianças tentem resolver seus problemas, até porque acham que elas não têm problemas. É desorganizado, não sabendo o que quer da escola e muito menos onde quer chegar ao final do processo.
- Apoiadores – aquele que está junto, colaborando para o progresso do filho e analisando a cada momento o processo, não deixando para o final. Permite que a criança faça escolhas e entende cada progresso como uma etapa que foi vencida. Acompanha, de verdade. Entende a curiosidade da criança e sabe que ela precisa de leveza para poder aprender. Não faz pressão. É organizado, mas muitas vezes perde o foco, pois a criança não tem o mesmo ritmo de forma constante.

- Autoritário – decide tudo. Olha e imediatamente faz pré-correções, sem deixar margem para variações pelo caminho. Não pensa muito no presente porque tem um futuro pré-planejado de acordo com suas convicções. Não leva em consideração qualquer argumento da criança e principalmente não compreende o ritmo próprio de cada uma. Por não entender o momento individual, diminui a criança frente a seus pares. Toma as decisões sozinho, sem levar em conta o (a) parceiro (a). É organizado e metódico, levando a criança a reboque.

- Tirano (ou Tigre) – Não tem o menor compromisso com a felicidade no presente, decide o que acha melhor e faz do filho uma máquina de aprender. Muito severo, não considera que a criança tem necessidade de lazer e faz tudo pela excelência. Não consegue perceber que a criança pode ser. Não consegue perceber que a criança pode ser responsável. Chama toda responsabilidade para si, também toma decisões sozinho e não ve no parceiro um auxilio para as tomadas de decisões. Organizado demais sem levar em consideração que a criança esta em desenvolvimento;


-Submisso – aqueles que não mandam em seus filhos. Mesmo quando a criança não tem condições para decidir alguma coisa, acham que ela tem que ser ouvida. Quando as coisas desandam, não sabem identificar de onde veio o erro. Tem crianças que parecem “reizinhos”, mandando nos pais e, por consequência, em toda a família. Geralmente são pais inseguros que mudam de opinião a qualquer momento. Não tem muito compromisso com o futuro e querem o “aqui e agora”. Como quem dita as normas são as crianças, não conseguem se organizar nunca.

- Colaborador - Aquele que decide, mas observa atentamente o filho para ver os acertos e erros e faz as correções rapidamente. Manda na criança, mas sabe acompanha-la a cada etapa do desenvolvimento para não errar quanto as decisões. Segue o ritmo da criança e observa suas habilidades. Aos poucos vai dando autonomia para que a criança aprenda a dividir com seus parceiros de brinquedos. É muito amoroso, mas firme quanto as ordens dadas. Organizado, levando em consideração a criança;

            Quando os pais misturam as suas características a coisa tende a ficar problemática – um ponto acima do que estamos acostumados a ver. Querem ser do tipo “colaborador” em casa e ao mesmo tempo ter uma “escola autoritária” onde seus filhos estudem – ou vice-e-versa. Isso não dá certo, é claro, porque a mistura inevitável causa uma enorme confusão nas crianças. Elas não ficam sabendo o que realmente a família espera deles.
            Temos também a mistura entre os próprios pais, quando a mãe pensa de uma maneira e o pai de outra, antagônica, e não combinam como educar a criança. Há ainda uma variável onde os avós interagem diretamente, participando de forma ativa na formação de seus netos e agindo nem sempre de forma harmônica com aquilo que os pais estão tentando implementar.
            O fato é que, seja lá como forem os pais, é preciso que a educação dos filhos seja orientada de uma maneira clara. Pense em que tipo de pai você gostaria de ter e que pai você pode ser. Fazer um acordo dentro de casa é fundamental para não gerar insegurança na criança em seu processo de desenvolvimento. Seu filho deverá saber o que você quer e o que espera dele. Naturalmente, isso não precisa ser dito, mas precisa ser “sentido” por ele. Deve haver uma combinação explícita sobre isso entre os pais e familiares que venham a ter contato e influência sobre a criança.
            É claro que é a partir do tipo de família a que você pertence que será tomada a decisão da escolha da escola. E existem escolas para todos os tipos de família, é claro. A situação tende a ficar grave quando a família tem um ideal que a escola não acompanha, gerando todo tipo de desconforto e naturalmente, prejuízo para a criança. Quando você sair em busca da escola de seus filhos, analise o modelo de sua família, dos componentes da mesma, e veja o que mais se adequa às suas convicções, sem esquecer que em casa o mesmo padrão deve ser seguido. Senão a confusão é total.

            A parceria escola/família é essencial, sempre.

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