Em Educação, temos que considerar
sempre duas vertentes que deveriam convergir para um resultado de excelência ao
final do processo: a Escola e a Família. As famílias escolhem as escolas de
acordo com diretrizes gerais, normalmente não definidas com clareza e por vezes
sem critério algum – salvo os mais fúteis, como no caso de considerações sobre
o status que o estabelecimento pode dar e o prédio onde está instalada. Poucos
são os casos onde são levados em consideração critérios mais profundos, até
porque a grande maioria dos pais e mães não dispõe de conhecimento para tal.
Parece muito crítico, mas a experiência de anos na direção de escola me dá
condições para fazer essa análise radical.
Não tomem os pais essas palavras
como uma crítica direta, porque entendo perfeitamente que a falta de
conhecimento na matéria nos leva a decisões possíveis, e não às desejáveis.
Isso vale muitas vezes para alimentação, médicos, enfim...
Mas quais são os critérios que levam
a família a determinar em que escola seus filhos irão estudar? Uma pesquisadora
americana, Su Yeong Kim, da Universidade do Texas, classificou as famílias em
quatro grupos (relapsas, apoiadoras, autoritárias e tiranas). São designações
dadas a famílias americanas, e fiquei me perguntando se no Brasil temos outros
tipos de pais ou se seguimos o mesmo modelo. Cheguei a algumas conclusões sobre
a tipologia dos pais, conforme abaixo:
- Relapsos – aquele que não sabe o que
está ocorrendo com seu filho e espera, sempre, ver resultados para depois
analisar o que aconteceu. Não sabe sob que interferências a criança está
vivendo e não nota os progressos que vão acontecendo. Não deixa que as crianças
tentem resolver seus problemas, até porque acham que elas não têm problemas. É
desorganizado, não sabendo o que quer da escola e muito menos onde quer chegar
ao final do processo.
- Apoiadores – aquele que está junto,
colaborando para o progresso do filho e analisando a cada momento o processo,
não deixando para o final. Permite que a criança faça escolhas e entende cada
progresso como uma etapa que foi vencida. Acompanha, de verdade. Entende a
curiosidade da criança e sabe que ela precisa de leveza para poder aprender.
Não faz pressão. É organizado, mas muitas vezes perde o foco, pois a criança
não tem o mesmo ritmo de forma constante.
- Autoritário – decide tudo. Olha e
imediatamente faz pré-correções, sem deixar margem para variações pelo caminho.
Não pensa muito no presente porque tem um futuro pré-planejado de acordo com
suas convicções. Não leva em consideração qualquer argumento da criança e
principalmente não compreende o ritmo próprio de cada uma. Por não entender o momento
individual, diminui a criança frente a seus pares. Toma as decisões sozinho,
sem levar em conta o (a) parceiro (a). É organizado e metódico, levando a
criança a reboque.
- Tirano (ou Tigre) – Não tem o menor
compromisso com a felicidade no presente, decide o que acha melhor e faz do
filho uma máquina de aprender. Muito severo, não considera que a criança tem
necessidade de lazer e faz tudo pela excelência. Não consegue perceber que a
criança pode ser. Não consegue perceber que a criança pode ser responsável.
Chama toda responsabilidade para si, também toma decisões sozinho e não ve no
parceiro um auxilio para as tomadas de decisões. Organizado demais sem levar em
consideração que a criança esta em desenvolvimento;
-Submisso – aqueles que não mandam em
seus filhos. Mesmo quando a criança não tem condições para decidir alguma
coisa, acham que ela tem que ser ouvida. Quando as coisas desandam, não sabem
identificar de onde veio o erro. Tem crianças que parecem “reizinhos”, mandando
nos pais e, por consequência, em toda a família. Geralmente são pais inseguros
que mudam de opinião a qualquer momento. Não tem muito compromisso com o futuro
e querem o “aqui e agora”. Como quem dita as normas são as crianças, não
conseguem se organizar nunca.
- Colaborador - Aquele que decide, mas
observa atentamente o filho para ver os acertos e erros e faz as correções
rapidamente. Manda na criança, mas sabe acompanha-la a cada etapa do
desenvolvimento para não errar quanto as decisões. Segue o ritmo da criança e
observa suas habilidades. Aos poucos vai dando autonomia para que a criança
aprenda a dividir com seus parceiros de brinquedos. É muito amoroso, mas firme
quanto as ordens dadas. Organizado, levando em consideração a criança;
Quando os pais misturam as suas
características a coisa tende a ficar problemática – um ponto acima do que
estamos acostumados a ver. Querem ser do tipo “colaborador” em casa e ao mesmo
tempo ter uma “escola autoritária” onde seus filhos estudem – ou vice-e-versa.
Isso não dá certo, é claro, porque a mistura inevitável causa uma enorme
confusão nas crianças. Elas não ficam sabendo o que realmente a família espera
deles.
Temos também a mistura entre os
próprios pais, quando a mãe pensa de uma maneira e o pai de outra, antagônica,
e não combinam como educar a criança. Há ainda uma variável onde os avós
interagem diretamente, participando de forma ativa na formação de seus netos e
agindo nem sempre de forma harmônica com aquilo que os pais estão tentando
implementar.
O fato é que, seja lá como forem os
pais, é preciso que a educação dos filhos seja orientada de uma maneira clara.
Pense em que tipo de pai você gostaria de ter e que pai você pode ser. Fazer um
acordo dentro de casa é fundamental para não gerar insegurança na criança em
seu processo de desenvolvimento. Seu filho deverá saber o que você quer e o que
espera dele. Naturalmente, isso não precisa ser dito, mas precisa ser “sentido”
por ele. Deve haver uma combinação explícita sobre isso entre os pais e
familiares que venham a ter contato e influência sobre a criança.
É claro que é a partir do tipo de
família a que você pertence que será tomada a decisão da escolha da escola. E
existem escolas para todos os tipos de família, é claro. A situação tende a
ficar grave quando a família tem um ideal que a escola não acompanha, gerando
todo tipo de desconforto e naturalmente, prejuízo para a criança. Quando você
sair em busca da escola de seus filhos, analise o modelo de sua família, dos
componentes da mesma, e veja o que mais se adequa às suas convicções, sem
esquecer que em casa o mesmo padrão deve ser seguido. Senão a confusão é total.
A
parceria escola/família é essencial, sempre.
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