Que os empregos, tal como conhecemos, estão acabando … todo mundo já sabe. Pode não ter visto, pode não ter sentido ainda no seu círculo de relações, mas já tem certeza de que o “bom emprego” do futuro não tem mais nenhuma relação com aquilo que conhecemos. A coisa vai acontecendo no mundo todo, mas as providências para se adequar a uma nova realidade ainda são poucas - praticamente nada - e fico me perguntando se vamos esperar o caos se instalar para então começarmos a fazer alguma coisa.
Dados recentes (30 de abril de 2018) do relatório produzido pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), batizado de “Mulheres e Homens na Economia Informal” informam que os empregos informais já representam mais de 60% das vagas em todo o mundo. No total, são mais de 2 bilhões de pessoas sem contratos fixos ou carteiras assinadas. Os dados não consideram pessoas fora do mercado de trabalho.
No texto da pesquisa, é citado que: “A informalidade se altera fortemente quando observadas as condições socioeconômicas dos países. Enquanto nas economias mais ricas, a média de vagas informais fica em 18,3%, nas em desenvolvimento e de menor renda o índice salta para 79%. Ou seja, um trabalhador vivendo em uma nação com economias mais frágeis têm quatro vezes mais chances de ficar em um posto informal do que aqueles em áreas com melhores indicadores.”
O final do relatório fala dos perigos do crescimento da informalidade como base de sustentação de uma nação e recomenda “facilitar a transição para postos formais, garantindo direitos e seguridade social; promover a sustentabilidade de empresas que oferecem vagas de qualidade; e prevenir processos que sirvam como vetores de estímulo ao crescimento de empregos informais”. Mas há mais coisas a serem feitas. Muito mais.
No âmbito das ações individuais, temos sempre em conta que queremos o melhor para nossos filhos, mas a base de uma economia sustentável passa pelo desenvolvimento das gerações para que possam enfrentar os desafios que se colocam pela frente com inteligência, criatividade, capacidade de solução de problemas, abertura para novos possíveis. E não é o que vemos na Educação que é oferecida. Burocrática, estática, desmotivante, sem inspiração ou capaz de gerar o mínimo de motivação, o modelo de Escola que temos nos leva “para trás” e não para o futuro. Mas é no futuro que está a realidade de nossos filhos.
Precisamos urgentemente educar para a CRIATIVIDADE, mas estamos no contrafluxo disso. Os pais e responsáveis ainda continuam buscando os sistemas de ensino cheios de conteúdos atrasados que são ensinados em apostilas sem qualidade científica. Decorar a Tabela Periódica dos Elementos não vai levar a lugar algum. Desenvolver produtos com os elementos existentes, ou descobrir novos elementos, mudam tudo na história de vida de uma pessoa.
Os professores, pressionados pela máquina de moer carne da escola, foram formados em sua grande maioria por faculdades de “baixos teores”, não se atualizam, não querem grandes mudanças em seus programas de aula e tem uma má vontade enorme com a massa descomunal de conhecimentos que vai se apresentando a cada dia. É quase como virar as costas para o tsunami para não ver o que vem por aí. Mantendo os olhos na direção contrária … acreditamos que está tudo bem e que não vai acontecer nada. Até a onda chegar...
Curiosamente, o valor do modelo educacional estava exatamente em formar o cidadão para o “mundo conhecido”, baseando-se em modelos tradicionais de trabalho onde a “experiência” era muito valorizada. E entenda-se por “experiência” o fato de que o ideal era ter feito, durante muitos anos, a mesma coisa. Ter 30 anos de profissão valia muito no mercado de trabalho. Mas isso vem caindo em desuso, porque o que se pretende é que o indivíduo seja capaz de fazer mudanças a cada passo de sua carreira. O que era considerado como “irresponsabilidade” tornou-se um elemento fundamental no processo de evolução do indivíduo. E não temos mais regras fixas embora estejamos o tempo todo tentando manter aquilo que conhecemos como o “padrão”. Ser criativo é demandado, mas a base educacional não privilegia isso em momento algum. Para se avaliar a criatividade, é preciso ser, antes de mais nada, criativo. E isso está em falta.
As escolas tal como conhecemos, não tem a menor chance de formar profissionais para um mundo que sequer sabemos como será. Tal como desbravadores de mundos desconhecidos, temos que preparar nossos jovens com os meios para avançar, e não temos como dizer a direção. Os recursos são a inteligência e todos os seus desdobramentos possíveis. Essa é a mochila desses bravos do amanhã, porque se dermos nossas bússolas, mapas e convicções, falharemos em proporcionar uma jornada bem sucedida a eles.
A informalidade vem de vários fatores, como a falta de oportunidades básicas, falta de políticas públicas, falta de uma linha de ação e investimentos na formação, mas tem como ponto final, mesmo quando o indivíduo tem condições de arcar com custos de educação, saúde, segurança, mobilidade e todos os demais, a ortodoxia do modelo de educação que é “comprado”. Modelo que não avança, mas fica para trás de tudo o que hoje tem significado de sucesso na sociedade do amanhã.
E finalmente, chega-se ao ponto de avaliar qual o “valor” real que seu filho terá no futuro. Como não fazer com que ele esteja no caminho dos mais de 13 milhões de desempregados que hoje, em 2018, pululam por dois anos num ambiente de angústia e incerteza, que em muitos casos deságua na depressão?
Quando se vê o que a indústria tem a dizer sobre sua evolução, vamos entendendo um pouco mais sobre aptidões demandadas não no futuro, mas já, e que não são possibilidades concretas para a maioria. Como se sabe, um dos segmentos econômicos mais sensíveis às mudanças é a Indústria, sendo também o ambiente de melhores salários e condições de trabalho. Observar que chegamos à Indústria 4.0 é assustador em vários aspectos, porque o modelo é inteiramente novo. Uma das bases da nova indústria é “a organização do processo de produção baseada em tecnologia e dispositivos autônomos que se comunicam entre si ao longo da cadeia de valor”. Ou ainda “As diferenças entre indústria e serviços tornam-se menos relevantes conforme tecnologias digitais estão conectadas com produtos e serviços (híbridos), que não são nem bens nem serviços exclusivamente”.
Não temos mais um modelo “fechado” em nenhuma área econômica, científica, técnica… temos todas as possibilidades em aberto. Valor passa a ser estar em condições de navegar nos possíveis e não nos conhecidos caminhos. E é claro que tudo o mais que a sociedade precisa vai continuar existindo, mas perdendo capacidade de gerar riqueza. É só observar as profissões que vão desaparecendo lentamente, até sua total extinção. Ou outras que mantém o nome mas não tem mais nada a ver com o que já foram um dia. Ser um profissional gráfico na atualidade não tem relação alguma com o gráfico de vinte anos atrás. E isso vale para uma quantidade enorme de profissões.
Assim, é recomendável observar com atenção o que estão fazendo com seus filhos, sob seu consentimento. Se você não tem certeza do que fazer, procure quem saiba. Se estão entrunchando as crianças com conteúdos, há algo de errado aí. Se a criatividade não é foco na educação de seu filho, cuidado. Só restará lugar para o criativo nos tempos que virão - e isso não é uma profecia, mas sim uma certeza (aliás, das poucas que podemos ter). Tenha como padrão de avaliação a condição de que seu filho esteja sendo preparado para a solução de problemas, a grande ferramenta para enfrentar o desconhecido por oferecer novas formas para se viver.
Estar empregado será uma arte. Mas encontrar novas formas de trabalho e renda vai ser o grande desafio. A nova ordenação do mundo está por ser feita, e quem a fará são nossos filhos, netos e bisnetos. Vamos colaborar para que eles consigam ser mais do que repetidores de modelos ultrapassados, e que possam ser felizes, com qualidade de vida, em uma sociedade melhor.
O tempo para isso está se esgotando.
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