segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Analfabetismo: o esquecimento conveniente

Falando em Educação, logo nos vem à cabeça o ensino formal. Lógico que o analfabetismo ainda é grave no Brasil, com um contingente de 14,1 milhões de brasileiros que não sabem ler ou escrever. Mas quais são as providências tomadas? Os candidatos aos mais variados cargos, nessas eleições – e sempre - só falam em Escolas Técnicas, tentando ”tapar o sol com a peneira”. Escola técnica inclusive é um assunto que discutimos anteriormente, aqui no blog. Mas fica a pergunta que não quer calar: por que será que ninguém fala nestes milhões de brasileiros abandonados ao analfabetismo. Será que eles são cidadãos sem prestígio ou não são merecedores de atenção? Alguém acha que podemos levar isso por muito mais tempo? Acho que está no inconsciente das pessoas que, sim, podemos abandoná-los, como já vem acontecendo a tanto tempo. Soluções imediatistas, sem uma estrutura voltada para o futuro, são as preferenciais entre os candidatos, porque isso os ajuda a serem eleitos. Portanto, falam coisas que o povo quer ouvir, já que o povo analfabeto (totalmente ou funcionalmente) não saberia definir a solução ideal para sua própria situação. Aliás, fica ótimo manter feliz um povo que não sabe, por exemplo, o que é sigilo fiscal, mas que almeja ter um emprego de curto prazo, sem futuro, sem garantia, sem nada. Isso se vier a ter o tal emprego...
Os atuais escândalos – novos, que substituem os antigos e logo são substituídos por outros, mais novos ainda - só afetam as classes dominantes, que não elegem ninguém. O que fazer então? Sem educar o povo, não há mudança possível. Educar é viável se houver vontade política para uma mudança radical. A Coréia do Sul conseguiu, em poucas décadas e hoje tem 1,7% de analfabetos de uma população de 48 milhões e, pasme 83,8% da população de nível superior. O nosso Brasil vai ter que correr muito atrás do prejuízo.
Nosso país também sofre do “analfabetismo cultural”. Mesmo pessoas alfabetizadas, por não disporem de equipamentos culturais não tem como participar da cultura, seja fazendo cultura, seja consumindo a mesma. Só 9,1% dos municípios têm cinema no Brasil. Acho isso um escândalo, pois seria o mínimo de cultura a ser oferecida a população, pois não estamos falando de teatro ou exposições. O que é grave, diga-se de passagem, é que estes brasileiros não sentem falta da cultura por não terem sido apresentados a ela. Só sentimos necessidade daquilo para o qual temos esquemas – e isso é Piaget. Nossos esquemas são ativados se formos expostos ao problema. Políticos não fazem promessas nessa área porque ela é ignorada. Assim fica muito fácil. Torna-se um círculo vicioso. E quem sabe da sua existência usa e abusa (da cultura).
É muito importante lembrar que o pensamento sensório-motor desenvolve-se pela ação; já o pensamento simbólico, caracterísco dos 2/6meses aos 4/5anos, necessita das imagens como leituras, cinema e teatro para seu desenvolvimento. Logo, estamos deixando toda uma população sem imaginação, que é típica do período simbólico. Este período vai ser de extrema importância na formação do pensamento abstrato que nossa população nem de longe chega a alcançar. O povo tem direito ao desenvolvimento integral de sua inteligência.
Acho muito interessante um candidato afirmar “é preciso transformar cultura em direito básico”, por que, ao que tudo indica no Brasil isso não funciona. Educação básica já é obrigatória, mas mesmo assim temos essa quantidade enorme de analfabetos vivendo a vida pela metade – quando chega a isso! Onde está o erro? Quem deve ser punido? A alfabetização saiu de moda? Vamos levar a sério o nosso povo. ALFABETIZAR URGENTE deve ser a meta de qualquer governante de responsabilidade.
Porque educadores não são ouvidos? Porque educação não dá voto. Vamos criar um mutirão pela EDUCAÇÃO. Vamos assustar os candidatos; eles têm que ouvir nosso clamor. Meu pai, Lauro de Oliveira Lima, grita há quase 50 anos (hoje com 90 anos continua com esperança de mudanças). Será que todos são surdos? Está na hora de os educadores entrarem em ação, pois somos os grandes formadores de opinião. Temos a cátedra. Porque não questionamos mais os nossos políticos? Através de nossos alunos e pais?
Uma sugestão seria usar alguns minutos antes das novelas em todas as emissoras, para alfabetizar. Seriam, por exemplo, 5 minutos diários que, com uma boa metodologia, iriam produzir um efeito gigantesco. Não seria formal, mas seria real. Depois, os alfabetizados iriam procurar as escolas de seus municípios para receber o diploma formal de “alfabetizados”. Acho que só inovando é que iremos resolver problemas atávicos do nosso sistema.
Não existe desenvolvimento sustentável sem educação. Como vamos atravessar um novo século com problemas colocados embaixo do tapete desde os séculos anteriores?!
Parece que cada governante, seja ele municipal, estadual ou federal empurra para os outros nossos problemas com educação e cultura. Se tivéssemos um ranking sério, verificando quem efetivamente sabe ler e escrever, feito com pesquisas em cada município para saber quem liquidou com o analfabetismo acho que as prefeituras iam correr atrás. Isso, como em outras áreas (regulação de água e saneamento, por exemplo), daria ou não acesso a verbas federais, de acordo com a pontuação no ranking. Mexendo no bolso dos gestores públicos, geralmente eles se mexem, mas no caso em pauta, acho que nunca acontecerá, porque ninguém quer saber dos pobres analfabetos que ficam fora do mundo das oportunidades, e inseridos apenas dentro das estatísticas, como números que ninguém quer ver.
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