Porque as famílias não apóiam a saída das crianças para fora dos muros da escola? Qual o significado que as pesquisas de campo que as crianças e adolescentes devem realizar tem para os pais para serem tão difíceis no Brasil? Nos países mais desenvolvidos, é fácil observar que os alunos têm um grande percentual de suas atividades fora dos muros da escola, indo a museus, exposições, cinemas, parques, industrias e visitando suas cidades como um todo. No caso do Japão, visitam o seu país, viajando com seus professores em várias excursões, que podem perfazer cerca de 50 dias fora dos muros da escola.
Estas atividades são geralmente organizadas pelas escolas, grupos sociais, igrejas e escoteiros com o objetivo de mostrar às crianças e adolescentes o mundo que os cerca. E quais os objetivos? Em primeiro lugar está a socialização das crianças e em seguida a autonomia, já que eles normalmente circulam com os pais ou responsáveis, sem terem que se cuidar ou observar sozinhos seus descolamentos, não tendo portanto, no dia a dia, a necessidade de tomar decisões. As crianças e adolescentes tem muita dificuldade de lidar com o sistema monetário de seus países, ficando sem saber o custo de transporte, alimentação e outros itens que sempre são resolvidos pelos adultos. Quando as crianças têm contato com a moeda, utilizam sempre as notas de valores altos por não terem idéia se o dinheiro dá ou não para o que querem adquirir. E veja que são às vezes adolescentes que, do ponto de vista escolar, já estão em séries avançadas, mas que não sabem contas simples, apenas porque não lidarem rotineiramente com o dinheiro. Vemos crianças muito pequenas nas feiras livres fazerem troco e recebendo pagamentos para seus pais (feirantes) com desenvoltura. É a experiência física. Lidam com o dinheiro constantemente.
As atividades fora do ambiente escolar são de grande importância para que seja desenvolvida a percepção do espaço, tempo e a causalidade, já que todos os seus caminhos são sempre guiados, não tendo em nenhum momento que cuidarem de suas próprias coisas, prestarem atenção ou escolher o que vão fazer ou comer. Estão sempre sendo conduzidos e cuidados por adultos super-protetores. Com o grupo (colegas e professores) eles têm oportunidade de fazer a chamada tomada de decisões. As crianças e adolescentes precisam, aos poucos, aprender a tomar pequenas decisões que serão de crucial importância para o futuro de cada um deles, e isso só acontecerá se exercitarem com seus educadores, em situações reais. Quem não tomou pequenas decisões não aprendeu. E como é uma construção, há um momento ideal para iniciar o processo, evitando-se que as dificuldades surjam tardiamente. Como pode um adolescente entrar na fase adulta sem essas experiências? O mundo não pára para que eles aprendam. Como um adulto sem experiência em tomada de decisões atingira a fase adulta, onde a todo o momento surgem essas situações? As crianças em geral não conhecem sua cidade nem os monumentos mais destacados, não conhecem os museus e não participam efetivamente das ações culturais que estão a sua volta. Devemos lembrar que eles não conhecem os meios de produção e por vezes nem aos supermercados são levados, pois são considerados inúteis nesta tarefa doméstica. Muitas vezes são taxados de promotores de gastos desnecessários, o que é um erro que pode criar um adulto desorientado nessa área pela simples falta de contato com a realidade doméstica de abastecimento usual. As crianças e adolescentes não sabem os produtos que são consumidos em suas casas, ficando apenas aos adultos esta decisão. Mesmo os adolescentes não sabem qual o gasto de sua casa quanto à luz, gás ou telefone. As crianças poderiam saber preços, valor calórico, peso, volume, fabricação... quanta experiência é desperdiçada numa atividade que poderia ser simples e até prazerosa para todos os envolvidos nela. Mas os adultos acham que estão protegendo as crianças, limitando-as nas suas experiências.
As crianças e adolescente são levados a festinhas, cinemas e shopping, como se isso fosse toda a vida social possível. Eles vivem em seus condomínios sem controle objetivo e sem atividades, entregues a sua própria sorte. Os pais e responsáveis deveriam promover visitas as casas um dos outros e passeios onde reunissem um grupo de colegas para que a socialização possa ocorrer. O homem não é um animal social, mas pode e deve tornar-se. Por isso é tão complexa a socialização. Indivíduos com o pensamento inatista acham que as crianças naturalmente vão procurar os outros para conviverem. Para um interacionista como Piaget estas relações devem ser construídas gradativamente, em níveis crescentes.
Fica então para as escolas, a missão de promover estas saídas dos seus muros, para que seus alunos, orientados e em grupos, possam perceber sua cidade e seu pais, para depois perceber o mundo. Temos a obrigação de mostrar a eles como funciona o mundo ao seu redor.
Acho interessante e ineficaz que algumas organizações falem ou promovam debates sobre questões ecológicas para as crianças e adolescentes, sem que eles conheçam os problemas relativos ao tema ou tenham visto uma comunidade com esgoto a céu aberto, por exemplo. Não podemos esquecer que para eles, isso não existe, já que em suas casas não se tem idéia sobre este problema. Será que as crianças das classes mais favorecidas sabem que muitas e muitas casas pelo Brasil afora não possuem água encanada? Luz? Ou Gás? E estamos falando em poluição, biodiversidade, reutilização, preservação, queimadas, extinção de animais, etc... Mas o que será isso, que ele não vê em livros e que, no máximo, chega ao seu conhecimento através de filminhos do Youtube. Vamos mostrar as crianças o mundo REAL, senão eles vão achar que essas coisa são apenas virtuais e que não acontecem no mundo em que eles vivem. Como vão acreditar que a água do planeta vai acabar se não for preservada, se eles acham que a água vem para sua casa quase que por milagre (é abrir a torneira e ela está lá!).
Não devemos esquecer que Piaget diz que aprendemos pela leitura da experiência. Vamos levá-los a conhecer o mundo, com questionários para perguntarem e pensarem sobre os assuntos que estão estudando nas salas de aula. As aulas devem refletir a realidade. Não podemos trabalhar teorias fugindo da realidade.
Os jovens também não conhecem os meios de transporte de sua cidade. Vivem a maioria em seus carros particulares (crianças da classe media), já que as crianças das classes menos favorecidas não vão a nenhuma programa cultural (cinema ou shopping). Seus pais acham desnecessárias atividades culturais e suas escolas não promovem estas experiências.
Sugiro então que as escolas promovam sistematicamente atividades fora dos muros da escola para generalizar a educação dos jovens. A educação não é feita só de conteúdos escolares. O MUNDO também tem que ser ensinado às crianças e adolescentes.
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