sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

CRIANCAS PREOCUPADAS



Lendo matéria da revista ÉPOCA, mais uma preocupação pedagógica me vem à cabeça. Crianças com uma nova síndrome - Transtorno Ansioso da Infância e Adolescência! E os números são alarmantes, porque é grande o percentual de atingidos entre 5 e 16 anos -de 9% a 15% dessa faixa etária.
O que esta acontecendo na nossa sociedade? Como estão os diagnósticos?
Apresentam-se então 3 posições diferentes a serem consideradas:

1. Crianças terceirizadas (abandono)
2. Crianças super-protegidas
3.  DNA.

 Quem tem razão, não sabemos, mas podemos analisar perfeitamente o que esta ocorrendo.

1º.)  Os pais realmente não estão preparados para a paternidade e a sociedade vem exigindo muito deles quanto a sobrevivência da família em um nível razoável. Ter que adquirir bens de consumo tira os pais totalmente do foco de educar sua prole. Família muito pequena é outro fator a ser considerado. As crianças não têm ambiente familiar e ficam em contato permanente com os adultos, o que desgasta totalmente a relação entre eles.
2º.) Ao sentirem que estão abandonando as crianças, os pais fazem uma super-proteção para garantir o crescimento saudável de seus filhos, paradoxalmente impedindo que eles cresçam e se desenvolvam da melhor maneira. Fazem tudo para evitar que eles se exponham e procuram evitar  que  tenham perigos à sua volta. Querem manter seus filhos como bebês até a fase adulta, achando que assim evitam o surgimento de conflitos de geração.
3º.) A condição de a síndrome já estar presente no DNA é a mais fácil de ser admitida, até porque não há nada a ser feito nesse caso. É aquela história do “Filho de peixe, peixinho é”, o que em psicologia é pouco ou quase nada determinado. Vejam os filhos adotivos que ficam com as mesmas características da família, sem que haja qualquer interferência do DNA. Sabemos que a personalidade é a resultante de uma interação do meio com o individuo (Piaget).
Que existe o problema, não há dúvida,  mas em muitos casos eles podem estar mal diagnosticados, o que torna  difícil o tratamento.
Pais ansiosos geram filhos ansiosos pelo ambiente que criam em seus lares. Eles não tem paciência de dar o tempo necessário para a criança se vestir, comer, brincar, ler, fazer os deveres de casa. Eles querem um adulto em miniatura e quando isso não ocorre, ficam decepcionados e passam para a criança esta frustração. A criança acaba chegando a conclusão de que não consegue fazer as coisas como é determinado por seus pais. Percebe que eles não gostam da maneira como elas fazem as coisas. E pior ainda, não conseguem fazer de outra forma. Isso desagua naturalmente na frustração e na ansiedade.
A falta de desenvolvimento para o exercício de algumas atividades é tratado como ansiedade de forma equivocada Por exemplo, até os 10/11/12 anos, a criança não tem a noção de tempo totalmente desenvolvida, e isso provoca em viagens aquela série de perguntas como: “Quanto tempo falta para chegar?”, “Demora muito ainda para chegar?”. Para ela não tem sentido você dizer que falta uma ou duas horas. Para os adolescentes com esta noção de temporalidade bastaria essa informação, mas para as crianças pequenas, mesmo que saibam ver as horas no relógio, não o entendimento do “tempo” propriamente dito. Outra noção tardia é a de velocidade, que envolve tempo e espaço. Tudo, para ela, demora muito a chegar. Por isso é tão importante que os pais entendam que não adianta dar um castigo de a criança ficar algum tempo sem determinada fonte de satisfação. Eles, logo após o castigo, perguntam se já passou o tempo.
As atividades nas escolas devem durar de 5 a 10 minutos cada uma e irem mudando para que a criança acompanhe com interesse. Após 10/11 anos já podemos ter atividades de ate  20 minutos. Mais do que esse tempo, as crianças perdem o interesse e se desorganizam, chegando até a dormir em aulas muito longas. Os professores que não conhecem as teorias de Piaget, correm o risco de não despertarem o interesse das crianças e adolescentes e julgarem que os jovens tem síndromes de atenção - TDHA ou TDA.
As crianças que ficam muito preocupadas com os adultos são crianças que não tem companheiros de brinquedo e vivem entre os adultos sentindo, ouvindo e participando de seus problemas. Muitas vezes as mães fazem de suas crianças seus companheiros, não deixando as crianças conviverem nas sociedades infantis como deveriam. As crianças precisam de outras crianças para brincar. Os adultos são os piores companheiros para as crianças. Devem estar atentos e cuidando, nunca tentando ser criança.  As atividades dos adultos devem ser as de ouvir as crianças/adolescentes, contar historias e promover brincadeiras sempre com outras crianças. Promover encontros com amigos em suas casas é uma ótima prática para permitir que seus filhos brinquem muito. É importante derrubar o mito de que existe “criança exemplar”, porque isso é um modelo artificial criado por elas para serem aprovadas pelos adultos com quem convivem.
 A ansiedade, como qualquer fator emocional, interfere no raciocínio. Essa é uma das razões porque manter o equilíbrio emocional das crianças é  tão importante.  Para que isso aconteça, é preciso que os pais sejam equilibrados, Eventualmente são necessárias terapias para os pais, porque estes estando bem podem agir de maneira concreta para que seus filhos mantenham-se bem, ou mesmo revertendo um desequilíbrio instalado na família. A família com o passar do tempo,tornou-se um núcleo muito pequeno e, às vezes, doentio
Por outro lado as escolas não se desenvolverem e não mudaram seus métodos atuando no século XXI com metodologias aplicadas do século XV  ao XIX . A expectativa dos pais quanto às escolas é a mesma de seus avós. No entanto, os filhos de hoje são globais, internéticos, digitais e multifuncionaisvitrola e um disco de cera (você pai do século XXI sabe do que estou falando?).  A criança pega e tenta colocar em funcionamento como se olhasse um inseto esquisito... e no entanto essa tecnologia foi inventada tão somente a 30 anos.... Como é que a escola, sem mudar, vai atender as angustias e a solidão de crianças filhas únicas, pais muito ocupados, tecnologias de ponta, conceitos virtuais?
O esforço que deveria estar sendo feito, exaustivamente, seria para que os métodos mudassem e se tornassem viáveis para educar estas novas gerações. E temos que saber que é um processo que precisa ser rápido, pois as crianças nascem, como todos da espécie, na idade da pedra. E tem que atingir  o nível de sua sociedade, cada vez mais desenvolvida e acelerada.
Os medos que aparecem nas crianças podem ser analisados à luz das teorias piagetianas. Até os 2/3 anos, as crianças tem medo de perder o afeto, não só de seus pais mas também de seus cuidadores. A saída de uma babá que estava com ele há muito tempo, por exemplo, pode causar um desastre quando os pais não foram presentes e tenham repassado todos os cuidados a esta pessoa. Depois dos  3 anos, já com o pensamento simbólico em ação, surgem os medos imaginários (lobo embaixo da cama, escuridão) mas surgem também os “amigos imaginários” e o jogo simbólico, que pode resolver muitos dos medos que aparecem. Os pais deveriam dar  importância a estes medos, que são reais, ao invés de dizer “isso não é nada” ou “isso não existe”. Preste atenção às  suas crianças e  estes medos vão aos poucos desaparecendo, bem como as angústias decorrentes.Quando necessário, acompanhe a criança no escuro e acenda as luzes para que ela se sinta segura. Não traduza o medo dela pelo seu. Você  pode não ter medo, mas o dela é real (fase do desenvolvimento). Depois dos 6/7/8 anos, a criança está entrando no pensamento concreto e já entende os medos do imaginário, surgindo então os medos reais. Se machucar, ir mal na escola ou ser vítima de desastres naturais. São preocupações dos adultos que são sugeridas às crianças e elas, como não tem controle sobre as situações, ficam com medo. Não podemos esquecer que estes medos vem da pressão adulta sobre as crianças. O que significa ir mal  na escola? Para os pais significa tirar notas ruins que, na maioria das vezes, não significam aprendizagem. Será que a escola está atendendo as expectativas das crianças? Muitas vezes não está!
Não podemos pensar que a vida das crianças é fácil. Crescer é muito difícil e requer um grande esforço. Cabe aos pais e professores promoverem a alavanca para o desenvolvimento geral. Criança precisa de ajuda e principalmente de afeto. Caso contrário ...

Beta

Um comentário:

Edgar disse...

Edgar, pai da Ana Beatriz, 1º ano

Beta, que prazer ler seus comentários e ensinos. Seu texto é pertinente, objetivo e verdadeiro. Acrescento que a escola vigente nesse tempo, em sua maioria, vislumbra a educação como negócio e assim visa somente ao lucro incorporando discurso politicamente correto, que não confronta os pais, e um "pacote" de ações "pedagógicas" que em nada abrange a psique infantil. Mas ainda assim concordo que são os pais a principal fonte dos transtornos emocionais. O dificil é para nos pais admitir que precisamos reaprender muito do que nos foi ensinado e mais ainda refletir constantemente sobre as razões e consequencias de nossas ações. Alem do amor é imprescindivel a descoberta da consciencia.