domingo, 3 de abril de 2011
Não nos esqueçamos do passado! Ele volta!
Quando, em 2005 eu e meu pai lemos o artigo do Zuenir Ventura, ficamos imaginando que o Golpe Militar tinha acabado mesmo, e a gora a luta era contra o tráfico. Ledo engano. Com tudo o que tem sido noticiado abundantemente nos jornais, revistas, rádios e televisões, além das discussões que estamos lendo na internet, a coisa ainda existe nos dois níveis.
Quando um Deputado – no caso o Bolsonaro – vai a público externar sua admiração pelo golpe de estado de 1964 de forma aberta, ficamos com a certeza de que nada acaba realmente. Os ovos do dragão ainda eclodem e das cinzas renascem figuras de triste memória e perigoso futuro.
Um oficial do Exército Brasileiro querer fazer um discurso com a temática da contra-revolução também é algo que nos deixa perplexos, porque na realidade não houve uma revolução que desse margem a uma ação do Exército naquela época. Os militares de então deram um golpe, e história está aí comprovando sempre esse fato. Depois de assumirem o poder, criaram Atos Institucionais, fecharam o Congresso e anularam praticamente todas as formas de representação popular.
É lógico que todos tem o direito de externar suas opiniões, mas um homem dito “público” tem a responsabilidade de pensar duas vezes antes de falar. Ele não pode desconhecer a Lei, como de resto todos os brasileiros. Nenhum ser humano está acima do bem e do mal, nem imune a Lei.
Nossa memória é muito curta e por isso temos que nos preocupar em chamar a atenção, sempre que possível ou necessário, para os fatos que a sociedade brasileira viveu na sua história recente. Ao invés de vermos pessoas valorizando um movimento militar que gerou tanta violência, dor, seqüelas morais e físicas, deveríamos estar vendo pessoas envergonhadas pelo que fizeram, como vi na Alemanha, que até os dias de hoje mantém um pensamento muito triste por tudo o que aconteceu durante a 2ª. Guerra Mundial. Gerações são lembradas o tempo todo do horror, para que não haja possibilidade de o mesmo se repetir apenas pelo descaso.
De minha parte, sinto-me duplamente agredida. Sou filha de um ex-preso político, Lauro de Oliveira Lima, que viu o regime militar quase destruir por completo sua vida e a vida de sua família, e que soergueu graças a uma imensa força interior e o apoio de sua esposa e família. Sou também diretora de escola (A Chave do Tamanho), e tive que fechar uma unidade carinhosamente construída no bairro de São Conrado, por não poder manter uma posição de confronto com o tráfico de drogas na Rocinha. Fechei uma escola modelo para a segurança de meus alunos, e vi por duas vezes na minha vida o quanto o poder pode ser destrutivo quando mal utilizado. E é isso que precisa ser ensinado sempre a nossos filhos.
Beta
(reproduzo abaixo o artigo que lemos em 2005 e que nos trouxe a essa matéria com as posições radicais do Deputado Bolsonaro)
ZUENIR VENTURA (Artigo)
A barbárie vai à escola
O educador Lauro de Oliveira Lima passou grande parte de seus 86 anos ensinando a ensinar, ou seja, desenvolvendo um sistema pedagógico, o "método psicogenético", para aplicar à educação brasileira, que ele acredita estar, do ponto de vista didático, na Idade Média, enquanto nos encontramos na era do satélite. Sem incorporar a contribuição das novas tecnologias, "o professorado brasileiro comporta-se ainda como o 'lector' medieval recitando pergaminhos. Não atingiu sequer a Galáxia de Gutemberg".
Discípulo do psicólogo suíço Jean Piaget, de quem divulgou as teorias, Oliveira Lima defende o princípio de que, em vez de ser "informador", o professor deve ser "orientador". "O professor não ensina; ajuda o aluno a aprender." Como seu mestre, ele estudou e pesquisou os processos do conhecimento e os mecanismos da inteligência humana como capacidade de resolver problemas.
Conheci Lauro nos anos 70, quando chefiava a redação da sucursal Rio da revista "Visão" e ele era um colaborador meio clandestino porque a ditadura militar considerava suas idéias subversivas. "Havia sempre uma ordem do Exército me proibindo de falar e escrever; logo eu, que sempre me achei inerme", ele lembra com bom humor, obrigando-me a ir ao dicionário para saber que inerme significa indefeso, desarmado, inofensivo.
Bem ou mal, Lauro resistiu à ditadura, fundou uma escola modelo, A Chave do Tamanho, que sua filha Ana Elisabeth dirige. Esta semana, depois de 33 anos, resolveram fechá-la e transferi-la de São Conrado para o Recreio. Não resistiram à ditadura do tráfico, com seus tiroteios, assaltos, extorsão e ameaças de bomba. "Nunca pensei que fosse viver para ver isso", diz Lauro, e sua filha acrescenta: "A ditadura militar a gente sabia que um dia ia acabar; a dos traficantes, não se sabe quando."
De fato, depois de exercerem sobre as favelas o domínio total — militar, econômico e político — os traficantes estão estendendo ao asfalto o seu poder, que é cada vez mais forte do que os poderes da República. O fechamento da escola dos Oliveira Lima, a exemplo do que já tinha acontecido há pouco com o Colégio Bahiense e do que pode vir a acontecer com outros estabelecimentos de ensino, é apenas mais um sinal de uma capitulação carregada de simbologia: no Rio, a inteligência, as idéias, o pensamento estão sendo definitivamente derrotados pela barbárie. E diante da impotência das autoridades, como se fosse um processo natural e irreversível.
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