domingo, 9 de fevereiro de 2014

Virando a carteira da sala de aula de ponta-cabeça

Ensinar a remar é uma coisa, ensinar a navegar é outra. 
   Olhando com atenção a Educação em nosso país, fica a certeza da enorme dificuldade que teremos para fazer alguma mudança na sua estrutura. E isso não é nada bom, na medida que o problema é estrutural mesmo. Estive recentemente em uma reunião acadêmica, com a presença de professores jovens que apresentavam as mudanças que estão fazendo nas salas de aula em que lecionam, e fiquei preocupada porque eles acreditam realmente que estão inovando, provocando situações inéditas, criando situações promissoras.
   Meu pai, Lauro de Oliveira Lima, chamava isso de “festividade pedagógica”, um grande happening que, ao final das contas, não muda nada no sistema. Isso porque toda essa barulheira se dá sobre um sistema velho e que não tem mais jeito. Não prepara ninguém para o que vem por aí e mesmo para o que já está sendo esfregado na nossa cara nos dias de hoje.
   Baseados no que sempre foi praticado, professores fazem um circo enorme para ensinar o mesmo “conteúdo programático” ... sem questionar se esse conteúdo deve ser ensinado. Ou mesmo se devemos “ensinar” alguma coisa!? Professores, mesmo em nossos dias, ainda acham que são os transmissores de conteúdos e que os programas distribuídos pelo Ministério da Educação devem ser obedecidos. Fico olhando e pensando: “mas não é possível que ainda seja assim!”.
   A Escola, como aí está, deve ser implodida, sem ficar pedra sobre pedra. As crianças não aprendem o que é ensinado e os professores continuam na mesma direção, como se nada de mal vissem nisso. O efeito maior que deveria estar sendo minimamente observado é o de que TODAS as crianças apresentam algum grau de dificuldade na aprendizagem.... Não seria a Escola que tem dificuldade em ENSINAR?
   Acredito que já passou da hora de pararmos para analisar o problema, diagnosticar as causas. Já sabemos tudo o que acontece mas ficou faltando achar as soluções reais. E olha que temos muitas! Mas o fato é que ninguém, seja lá qual for a razão individual, quer mudar o sistema. Nossos gestores acham que podem fazer uma “colcha de retalhos” e continuar com essa agonia indefinidamente, enquanto é fato que os jovens NÃO GOSTAM DA ESCOLA. E ainda são taxados de preguiçosos, indolentes, vagabundos ...
Analistas tentam encontrar meios paliativos, mas se deparam com a verdade: NÃO EXISTEM MEIOS PALIATIVOS PARA ESSA SITUAÇÃO. Para dar um arranco positivo nisso tudo, não podemos ficar concentrados num princípio equivocado, vencido e obsoleto. Precisamos virar a mesa e propor, através da psicogenética, um novo sistema.
O que está claro é que não adianta usar músicas para ensinar fórmulas, brincadeiras que alegram momentaneamente um dia enfadonho de aulas ou bichinhos fofos para ensinar Ecologia. Todas essas brincadeiras tentam melhorar uma situação perdida, baseada em “enfiar goela abaixo” das crianças e adolescentes o velho Currículo. Os professores deveriam ser convocados a avaliar o currículo à luz da Psicogenética (Níveis de Desenvolvimento) para saber o que as crianças podem aprender – ou seja, tem condições de aprender. E já existem muitos, mas muitos estudos mesmo, que podem auxiliar os profissionais de Educação nesse sentido.
E a sociedade? Está preparada para essas mudanças? Não creio, e acho mesmo que muitos ficarão assustados, em dúvida sobre se seus filhos estão sendo preparados ou não. Isso vem sendo inculcado no coletivo a partir dos conceitos de “escolas fortes” ou que se dizem assim, e que enfiam um monte de conteúdo, de forma forçada (decoreba) na cabeça de crianças e adolescentes. Dizem que essa é a condição de serem bem sucedidos socialmente, no futuro. Isso não é uma verdade, e o pior, é uma mentira que não pode ser comprovada de imediato, porque o resultado que eles prometem se dará daqui a 20 anos ou mais. Ou seja, vendem uma promessa falsa, não comprovável e isso parece ser um produto de alta aceitação. Não há como processar uma “escola forte” daqui a 20 anos, pelo fracasso na vida do então adulto. Provavelmente, não mais existirá a instituição que fez essa promessa, e se ainda existir, sempre terá o subterfúgio de dizer que o fracasso se deu por outros motivos sociais, que não o “ensino forte”.
Essa falta de checagem, essa subjetividade enorme que permeia a avaliação do ensino, a visão de longo prazo deturpada, tudo isso acaba por nos deixar hoje e sempre em condições de desvantagem frente a maioria dos países do mundo. E o que é pior: não faltam recursos materiais para dar o grande passo, mas sim a vontade política e a consciência intelectual de que ele é necessário para que o Brasil venha a ser uma potência de fato, mobilizada por mentes cada vez mais poderosas e instruídas.
É lastimável que assim seja, mas não desisto de falar sobre isso. Quem sabe um dia...

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