domingo, 2 de março de 2014

Escola e Tecnologia

A sala de aula não precisa ser assim...
                Repensar a Escola não é mais uma coisa que precise ser pisada e repisada, porque está presente em todas as discussões sobre o tema Educação. O “como” repensar a Escola é que está sendo discutido. O que “repensar” na escola também. Que não está funcionando, todo mundo já sabe. Que precisa mudar, é pensamento comum, mas há muito o que se discutir ainda.
                Um ponto que precisa estar presente em todos os momentos nessa reflexão é a questão da Tecnologia, presente nos dias atuais e seus desdobramentos futuros, porque as crianças, independentemente de qualquer coisa, estão profundamente ligadas a ela – enquanto os professores ... nem tanto! Esse fosso é de uma complexidade tremenda e, embora já tenha sido pior, ainda é ponto de conflito permanente.
                O fato é que temos que colocar a tecnologia a serviço da Educação, porque as ferramentas oferecidas são inúmeras e as possibilidades de uso estão longe de terem sido alcançadas – se é que algum dia o serão. Reproduzir conteúdo sem sentido usando outras maneiras é repetir o erro, só que agora em velocidades estonteantes. Aliás, é essa velocidade que está nos mostrando caminhos que podem ser percorridos com mais nitidez, visto que o não funcionamento de alguma coisa ou o sucesso de outra ficam evidentes com muita rapidez. Basta ter bom senso para reconhecer o fracasso ou o acerto de uma decisão educacional baseada em tecnologia da informação. Aquilo que poderia demorar vinte anos para ser reconhecido, agora passa a ser alvo de ajuste em menos de duas semanas.
                No entanto, há uma renovação cosmética ao invés de uma inovação estrutural no uso de tecnologia para a Educação, usando velhos conteúdos embalados de maneira digital e apresentado como uma “nova forma de aprender”, o que não é verdadeiro. O fato é que não temos mais compromisso com os “velhos conteúdos” e os jovens estão repletos de conhecimento sobre o uso de tecnologias, mas não dispõe de ferramentas para estudar e aprender.  Precisamos aproveitar o fato de que nossos alunos dominam conhecimento sobre informática para, usando isso, disseminar conhecimento, mas principalmente oferecer prazer em resolver questões que provoquem a tal “equilibração majorante” tão desejada no processo de aprendizagem. Pesquisar, conhecer e usar recursos de maneira inteligente para a resolução de questões que os tornem aptos a utilizar isso na vida presente e futura. Um mundo de conhecimento está à disposição, mas os educadores ainda proíbem o uso desse poderoso banco de dados que é a internet, para garantir que as informações tenham sido “decoradas”. Para que se possa ter uma ideia, é disseminado entre educadores que a técnica de “copiar e colar” é uma maneira de “burlar” o sistema de ensino. Mas é claro que é!!! E ainda bem que ocorre essas burla, que é uma ato inteligente de rejeição a um processo que não faz sentido. Para conter essa onda de “transgressões”, muitos professores obrigam a entrega de trabalhos de classe em papel almaço!!! E isso garante a sobrevivência inesperada de fábricas que produzem essa peça de museu. Ou seja, num mundo em que o Whatsapp é comprado pelo Facebook por US$ 16 bilhões, depois de apenas 9 anos de existência, onde a computação em nuvem é responsável por armazenamento de petabytes de informações de forma gratuita, onde está se combinado o uso de relógios com smartphones, alguém ainda tem o desplante de pedir um trabalho sobre os afluentes do Rio Amazonas, com desenhos à mão em papel almaço. Há algo gravíssimo acontecendo, e não houve ainda uma gritaria enorme quanto a isso. A mesma pessoa que vai ao magazine comprar uma camiseta e sai de lá com um tablet, acha que o filho entrar na escola as sete horas da manhã, saindo ao meio dia, e passando por um processo anulante do pensamento, vai ter alguma chance na vida. Tem alguma coisa muito errada nisso tudo.
                O mesmo trabalho citado acima, ou seja, sobre os afluentes do Rio Amazonas, se solicitado de outra maneira, poderia trazer excelentes resultados, principalmente se o professor pedisse para o aluno postar uma fotografia satélite com as áreas de queimadas, a influência das mesmas no sistema hídrico, o impacto sobre a fauna e a flora e postasse isso no Facebook e no Instagram como forma de conscientizar sua rede do problema narrado. A nota seria dada pelo número de “curtidas” recebidas. Aí estamos falando de contemporaneidade. Pode soar como uma coisa biruta, mas o que é que está  “normal” nos dias de hoje, principalmente quando queremos usar a normalidade de outras eras, que já se foram e continuam sendo a base para ensinarmos nossos filhos, que viverão num mundo que mal podemos imaginar como será.
                Bem, algumas coisas precisam evidentemente ser feitas, com toda a urgência:
a)      Criar a Cultura Digital entre os professores. Treinar, expor às tecnologias, desenvolver afinidade com sistemas digitais. Isso pode dar a eles uma noção sobre o uso inteligente das ferramentas e talvez – e repito, talvez – eles parem de dar aulas andando pela sala e falando sem parar durante horas a fio. Os jovens não suportam mais isso, e ficam no aguardo do término dessa sessão de tortura para então correrem para seus equipamentos para aprender o que lhes interessa. Alguns nem esperam o final da aula e vão teclando ali mesmo. A coisa é tão séria que os Governos Estaduais estão emitindo portarias que proíbem o uso de smartphones nas instalações das escolas – sendo que isso não está “pegando” de jeito nenhum, como algumas leis idiotas que são promulgadas todos os dias;
b)      Proporcionar aos professores a noção que a continuar assim, em algum momento eles serão motivo de rejeição absoluta da parte de seus alunos. Sendo os braços operacionais de um sistema altamente desmotivante, serão os primeiros a sofrer as consequências. Não há lei no mundo que mantenha um sujeito encarcerado se ele tiver a menor chance de fuga, e os alunos estão cumprindo o ritual da sobrevivência, quando saem do sistema ou fogem da escola. Os mais comportados, dotados de uma proverbial paciência chinesa, aguardam quietos o fim do sofrimento diário, mas há os que não se conformam e aí ...
c)       Fazer com que os professores entendam que há uma inversão de valores fora do comum no apelo para ida a Escola. Os alunos vão por conta dos amigos, da socialização no horário de recreio e nas escolas públicas, por conta do lanche, nem sempre o ideal mas pelo menos uma forma de alimentação que falta no dia a dia deles quando em casa. A parte dita “nobre” é a que se rejeita, e não imagine que isso se dá por “preguiça ou vagabundagem”, mas apenas porque não faz sentido. E no final das contas, tudo o que se aprende não tem qualquer aplicação na vida prática ... Fica difícil manter a turma em sala de aula.
d)      Proporcionar aos professores a descoberta de que Escola e Tecnologia são grandes elementos para proporcionar aos jovens a felicidade. Se os professores aprenderem a usar a tecnologia, planejando atividades interessantes e inteligentes, vamos ter fila na porta da sala de aula para entrar e não para sair.
e)      Sendo a escola a parte mais atrasada da sociedade (acreditem: é sim!) está repetindo o modelo de ser a última a incorporar o “novo” nas suas atividades. Isso vem acontecendo a séculos. A demora para a entrada do livro na sala de aula foi uma coisa impressionante, e ainda hoje existem professores que preferem ditar a matéria a usar um texto impresso. Imagine então usar tecnologia! Há muita gente que acredita que, se usar tecnologia, perde o emprego, quando na verdade o bom uso da mesma é a garantia de trabalho para os próximos tempos. É preciso que o professor entenda que o papel dele é de ser animador ou orientador da aprendizagem e não o ícone da sabedoria, com pés de barro.

***

Um comentário:

Rosita disse...

Excelente artigo e útil, também! Há pouco estava assistindo um documentário sobre a conservação da rede de esgoto em Paris e percebendo a tecnologia utilizada nesta empreitada. Para trabalho nos locais onde não há acesso para o ser humano, robôs fazem o serviço. Soube que em breve teremos aparelhagem, importada, para fazerem cirurgias cardíacas usando robôs. E assim vai...