Em Educação, não existe mágica – embora pareça que sim. Como é muito difícil entender a maneira como as pessoas aprendem, fica mais fácil acreditar que “acontece alguma coisa” e o sujeito que não sabia nada, acaba sabendo. Mas não é bem assim. De qualquer forma, nós brasileiros estamos trabalhando com uma ideia errada de que é possível “ir crescendo aos poucos” nessa área, para em algum momento chegar ao patamar dos países desenvolvidos. Essa posição esquece que o movimento do mundo é semelhante ao de uma escada rolante em termos de desenvolvimento, ou seja, os que estão entrando por último na escada vão, inevitavelmente, ficar atrás porque os que entraram primeiro estão lá em cima. E continuam subindo. Ter uma perspectiva de desenvolvimento passa por saber que isso é uma verdade inexorável.
A grande pergunta é: por que somos uma das dez maiores economias do mundo e estamos entre os últimos colocados no quesito Educação? Há uma relação entre esses dois fatos, mas não estamos trabalhando de maneira concreta para fazer com que os nossos resultados no campo da economia repercutam nas demais áreas. Há uma perda de foco no que é prioritário e isso tira do Brasil a sua condição de sustentabilidade, tão crucial nos tempos que teremos pela frente.
Um economista americano de nome Richard Murnane, grande nome da “educação baseada nas evidências”, diz com todas as letras que, além de ensinar alguns conteúdos para os alunos, precisamos principalmente ensina-los a aprender. Lauro de Oliveira Lima já dizia isso a 50 anos atrás, mas ao que tudo indica ainda não “pegou” essa idéia. Pode ser que, agora, esteja chegando a hora, já que alguns expoentes da educação estão pensando nessa linha. O fato é que APRENDER sempre foi e cada vez mais será uma necessidade permanente de todos nós e os conteúdos que são ensinados vão rapidamente perdendo a validade. A maioria dos conteúdos atualmente ensinados não são aplicáveis num mundo moderno, cheio de tecnologias e desafios, onde tudo está para ser inventado. E nós ainda ensinando coisas que são parte da história como sendo ferramentas de uso cotidiano. É meio criminoso isso, no final das contas. É como colocar uma pessoa que não sabe nadar num barco, sem colete salva vidas e dizendo para ele que não tem perigo, que o barco não vira, etc ... Só que, na hora do acidente, o que se vê é afogamento para todo lado. E vejam que, esse acidente, está programado. Vamos soltar as crianças e adolescentes no mundo equipados de que maneira? O que mais se vê é gente conseguindo trabalho com o que aprenderam fora das escolas, e não dentro delas... o que nos leva a pensar seriamente no perigo que isso representa.
Penso que conseguimos alguns avanços no Brasil, mas minha preocupação é ver que os mesmos não estão relacionados de maneira direta ao desenvolvimento econômico, que para crescer e se sustentar vai precisar de muito mais do que o que vemos projetado para os próximos anos. O tal “ensino de qualidade” ainda é de uma subjetividade enorme, o que nos coloca frente a desafios críticos sem perspectiva de como enfrenta-los. Uma questão urgente é a necessidade de melhoria no desempenho dos professores, porque sem que eles estejam altamente treinados e capacitados a entender e trabalhar os desafios que se apresentam, não vamos ter a velocidade que necessitamos para andar mais rápido naquela escada rolante que mencionei no início.
Uma situação que me parece complicada é a filosofia por trás do Bolsa Família, tendo em conta que o recebimento da mesma está condicionado à permanência dos filhos das famílias de baixa renda na escola. Mas fica por aí: permanência. Isso não resolve o problema, já que as escolas que eles frequentam não são exatamente um modelo de ensino de qualidade. Mante-los ali é uma situação que não faz com que o nível das crianças suba, e elas não estarão preparadas para superar as dificuldades econômicas de seu meio. Melhor seria, conjuntamente, melhorar as escolas onde essas crianças estão “depositadas”. Dentro das escolas, as crianças já estão, mas o que fazer com elas lá dentro continua sendo o grande desafio.
O Bolsa Familia e um programa que condiciona a permanência dos filhos das famílias de baixa renda na escola, mas so a permanência não resolve o problema já que as escolas onde eles estão não são boas, logo não fazem com que suba o nível das crianças para superar as dificuldades econômicas da família. O problema então e melhorar as escolas onde estão “depositados”. Dentro da escola as crianças já estão, mas o que fazer com elas e o grande desafio.
Temos alguns problemas básicos a serem superados:
1. Levar as crianças a escola (o “Bolsa Família” faz isso);
2. Levar o professor a se dedicar e não faltar ao trabalho (a formação faz isso);
3. Melhorar a qualidade da escola (capacitar o professorado para o desenvolvimento das crianças);
4. Escolher um modelo novo de Escola – onde o centro será a criança e seu desenvolvimento e os conteúdos fiquem a serviço do aluno. A escola como uma organização social;
5. Pais informados do novo modelo onde seus filhos estão inseridos.
Numa situação como essa, teremos as “comunidades escolares”, como denominou Prof. Lauro de Oliveira Lima nos anos 1960. Os professores serão treinados para entenderem que não vão transmitir conteúdos e sim criar “situações-problema” onde as crianças construirão seus conhecimentos. Devemos lembrar que estas crianças são oriundas de famílias onde os pais não tiveram acesso a escolaridade e não sabem e não conseguem ajudar seus filhos. A obrigação fica por conta da escola, como deveria sempre acontecer. Como não podemos fazer todos os professores terem a mesma forma de transmitir os conhecimentos, devemos fazer através de um método onde as próprias crianças construam seus conhecimentos.
Como trabalhar com os professores para que melhorem seu desempenho? Em primeira instancia podem ser oferecidos incentivos financeiros, mas temos que ajuda-los na sua capacitação para que consigam melhorar seu desempenho. Eles não podem fazer algo que não sabem. Apenas o financeiro não acrescenta conhecimentos aos professores. Precisam aprender a fazer.
Quando queremos mudar um sistema temos que ser radicais e mostrar aos professores que é possível, mesmo que pareça difícil, já que eles estão acostumados a uma rotina de que não pode haver mudanças. “Sempre foi assim e é assim que tem que continuar” – parece ser o mote orientador da conduta do professor, imposto pelo sistema. Basta dizer que alguns deles continuam ditando lições e copiando no quadro.
As salas de aula tem que ganhar uma nova configuração, coisa que os economistas não sabem. Somente trabalhando com educadores podemos ver como deve ser radical a mudança inclusive física das salas. Não devemos mais manter o modelo dos séculos passados onde as crianças ficavam em cadeiras individuais uma olhando para a nuca do colega da frente. É hora das mesas coletivas onde todos confrontam com todos.
Não podemos esquecer que os políticos vão logo pensar em quanto dinheiro devera ser investido e colocado para que sejam efetuadas as mudanças mas, ao contrário, o dinheiro deverá chegar depois.
A redução das turmas é fundamental no processo geral, mas de nada adianta se o professor continuar ditando aulas e fazendo as crianças copiarem. Se a aula é expositiva tanto faz ele ter 15, 30, 50 ou 100 alunos por turma. A turma deve ser reduzida para que a Dinâmica de Grupo entre nas salas de aula. A observação diária do professor sobre cada aluno passa a ser o substituto da famigerada “lista de presença” que toma tempo precioso de aula e não leva a nada. Em contrapartida, o professor passa a anotar o desenvolvimento de cada um de seus alunos.
Toda a educação devera estar voltada para profissões do futuro, que não possam ser substituídas pelo computador. A grande coisa do futuro é a criação e resolução de problemas. Todos os problemas que o computador resolve já tem que estarem impressos em sua memória para que ele faça a combinatória, pois ele não inventa. Vai ficar para o homem a tarefa de inventar (criar). Trabalhar com as crianças será uma função privilegiada, bem como com os idosos.
Para o futuro só temos que ensinar inteligência, a Aprender a Aprender. Tudo que sabemos hoje pode rapidamente tornar-se obsoleto. Ler, escrever e as quatro operações podem ser um ponto de partida, mas não vão determinar o saber que a criança vai necessitar. O que vai ser determinante é a forma com que ela vai usar os conhecimentos que obtém em qualquer site de busca. O pensamento matemático vai ser uma determinante. Não pense que fazendo o que você esta fazendo agora terá futuro dentro de 30 anos, pois a velocidade com que a tecnologia avança é fantástica.
Mudar é muito difícil mas já passou do tempo e temos que fazer. Vamos dar o “Bolsa Inteligência” porque assim teremos os resultados que precisamos e podemos chegar “lá em cima” de maneira concreta, em prazo menor e com mais suavidade para nossas crianças.
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