quinta-feira, 1 de julho de 2010

PLANO DE EDUCACAO (comentário matéria VEJA 2171)

PLANO DE EDUCACAO
(comentário) artigo publicado na veja edição 2171 | de 30/06/2010

Formular propostas práticas em Educação é a coisa mais importante em nosso país, atualmente, quando estamos nos últimos lugares entre tantos países nesse setor .
O que esta acontecendo conosco?
Onde estamos focados?
Como está a formação de nossos professores?
Por que os alunos não têm interesse pelas escolas?
Por que os alunos não aprendem?
Por que não damos importância ao pré-escolar?
Por que tanta ênfase na entrada no curso superior?
Estas e muitas outras questões deveriam ser respondidas por nossos educadores, formando um grande fórum de debates para colaborar com o governo, para nos colocarmos no lugar que precisamos estar.
Parece que todo o foco está na premiação dos professores, não se discutindo nunca o aluno.
Qual o nível deles? Será que não se interessam porque não entendem o que esta sendo oferecido? Quando temos um bebê de meses, não oferecemos a ele uma feijoada, porque ele simplesmente não consegue ainda assimilar este alimento. Como sabemos disso pela biologia da criança, oferecemos leite, mingau e coisas compatíveis com seu tenro organismo. Com as crianças, no que se refere ao conhecimento, as coisas funcionam da mesma maneira. Se oferecermos um exercício de adição e ele não têm ainda a “conservação do número”, simplesmente não saberá do que estamos falando. A confecção de um currículo escolar deveria estar totalmente focada nos níveis de desenvolvimento mental (Jean Piaget). Este epistemólogo deu à humanidade a possibilidade de saber em que nível se encontram todas as crianças/adolescentes. Mas mesmo assim, os currículos e programas são pensados como se faz a muitos anos, de forma mais ou menos empírica. Isto é, sempre ensinamos adição na 1ª. Serie, e ponto final. E... não é assim que funciona.
Para se introduzir um conhecimento matemático, por exemplo, temos toda a pré-matemática, que precisaria ser trabalhada antecedendo estes conhecimentos. Por exemplo, classificar, seriar e ordenar vão dar esquemas para o número, que por sua vez vai colocar a adição/subtração como novas estruturas.
Não existe um currículo universal possível, pois o meio cultural difere muito e isso inviabiliza a sua criação. No entanto, o que é possível fazer de maneira global é desenvolver a inteligência, esta sim universal. Todas as crianças nascem com as mesmas possibilidades, mas estas não são aproveitadas tendo em conta que as mesmas não são expostas a problemas (conteúdos) que permitam o desenvolvimento. Segundo Piaget, a biologia é a mesma para todas as crianças do mundo – variações mínimas podem existir, mas não impedem que o desenvolvimento seja possível e bastante semelhante para todos – e o que vai diferenciar o desenvolvimento é a interação com o meio. Para provar isso ele apresenta as crianças das colônias francesas com o mesmo currículo da França e com um desnível mental de cerca de 4 anos. Este atraso, segundo Piaget, ocorre por falta de experiências bem orientadas. Desenvolver a inteligência serve a todos os conteúdos que se queira apresentar e as próprias crianças e adolescentes aprendem sozinhos com os estímulos que recebem dos meios de comunicação.
Ampliar a jornada escolar seria uma meta muito ambiciosa, já que não conseguimos hoje motivar os alunos para ficarem nas escolas nem no curto horário escolar. As escolas são chatas, não refletem a sociedade, estão apartadas da realidade de uma sociedade dinâmica, instável e evolutiva. Parece que as crianças e adolescentes tem que sair do século XXI e voltar ao século XVIII ou XIX para assistirem aulas ditadas, como se a escrita estivesse num momento da História em que os monges eram os detentores do saber e da arte de escrever, tendo o monopólio das transcrições e reproduções em manuscritos góticos (v. Mutações em Educação segundo McLuhan, Lauro de Oliveira Lima). Competem os professores copiadores com computadores da multimídia, notebooks, netbooks, smartphones, Wikipédia, Youtube, Orkut, Twitter e tantos outros mecanismos de comunicação online e equipamentos sofisticados, além de interessantes. Só podemos ampliar jornada se tivermos algo diferenciado a oferecer. Eles estão no mundo cibernético e nossas escolas, na idade da pedra.
Todos os educadores deveriam ter autonomia para, nas suas unidades educacionais, discutirem as atividades, deveres e obrigações de todos. Não podemos ensinar democracia sem exercitá-la. Os diretores deveriam ser lideres e não chefetes que não conseguem influenciar seus comandados. Esta liderança deveria ser emergencial, surgindo e desaparecendo a cada período. Todos os professores deveriam passar pela função, para sentirem as dificuldades e facilidades que o cargo possui. Quem ficou fixo na condição de Diretor, perde a dimensão do todo. Não sabe mais o que é estar dentro da sala de aula, logo não pode comandar quem está diretamente ligado aos alunos.
Por que tanta importância dada ao ensino médio, que é o preparatório para o ensino superior? Nosso sistema é uma pirâmide e chegam muito poucos a este gargalo superior, porque não damos a devida importância à entrada no sistema, que vai perdendo seus soldados ao longo do caminho. Vamos reforçar a entrada para fixá-los e evitar a evasão. Os sobreviventes, no ensino médio, já são privilegiados; então vamos deixá-los seguir em frente, pois já provaram que podem continuar sozinhos.
Para Piaget (Onde vai a Educação) o fundamental para as crianças, são os primeiros anos do desenvolvimento, quanto ainda não podem aprender sozinhas, dependendo totalmente de seus professores. Com o caminhar, vão ficando autodidatas e a formação dos seus professores não é determinante, como acontece no período sensório-motor ou simbólico (um ano até 4/5 anos).
Flexibilizar o ensino médio é de fundamental importância. Deixar o aluno estudar poucas matérias, mas realmente aprender é muito mais importante do que impingir este largo leque que oferecemos e que não resulta em nada, pois os alunos não sabem nada de nada. Neste período escolar os alunos já definiram, através dos professores que tiveram, do que gostam ou não gostam (implicam com algumas disciplinas devido a performance do professor, que teria a função de fazê-los gostar da mesmas). Decidiram qual a carreira que vão se dedicar no futuro próximo, embora nesta nossa nova sociedade nossos alunos devam optar pelo menos por duas ou três profissões, devido a velocidade de mudanças da própria sociedade.
Em resumo, proponho que estudemos os níveis mentais das crianças e adolescentes para poder fazer uma pedagogia cientifica. Hoje é bem mais complexo formar um professor.
Conclamamos os professores a discutirem sua profissão. O que estamos fazendo? Por que economistas dão tanta opinião em nosso campo de atuação? Nós damos opinião na área Econômica? E se déssemos, seríamos ouvidos ou levados em conta, a sério? O que esta acontecendo com nossa formação? Por que estudamos tão pouco? Ser professor e uma segunda profissão? Desqualificada? Sugiro a leitura do “IMPASSE NA EDUCACAO”, de Lauro de Oliveira Lima.
Beta

Um comentário:

Odorico Ribeiro disse...

Oi Beta,
A pesar de todo o teu esforço em divulgar livre, aberta e generosamente a teoria da educação psicogenética, que por certo você expõe brilhantemente no teu blog, talvez esse seu artigo de hoje seja o mais importante, neste momento. Sim, porque de que vale uma teoria acertada, se por trás dela atua um inimigo que mina sua práxis? De quê vale um bom remédio se todos os dias nós tomamos uma dose de veneno?
Você tem toda razão de perguntar porquê um professor hoje está tão distante da realidade de um verdadeiro professor. Um professor certamente tem que ser um estudioso, tem que saber que sua profissão é algo muito, mas muito especial mesmo. É quase um sacerdócio.
Ou seja, estamos falando de amor, e não de pouco amor, mas muito. Amor às crianças, amor ao próximo, amor à humanidade. O professor deve ter consciência que dele depende o avanço do ser humano rumo a um ser inteligente, que construa uma sociedade justa, pacífica, sem preconceitos, enfim uma sociedade onde predomine a inteligência.
A partir do momento que um professor compreenda isso, os verdadeiros professores se aproximarão dessa invalorável profissão. Mas para que isso ocorra, a sociedade como um todo tem que participar para que esse professor esteja no seu verdadeiro lugar.
Mas como pode isso passar si vivemos num mundo cujos paradigmas se derivam do sistema capitalista e que, por isso mesmo, estamos obrigados todos a ganhar dinheiro seja como for? O professor também está metido nesse ciclone, nesse turbilhão, nessa corrida louca para ganhar dinheiro, se não ele morre de fome ou de desprezo pelo resto da própria sociedade, que o condena a ter seu quinhão também: quem não tem não serve para nada. Pobre professor, e ganhando o que ganha.
O resultado é o que se vê: um carente e quase alucinado indivíduo, ao que lhe dizem professor, sem a mais mínima consciência (nem de parte da sociedade, nem de parte dele mesmo), que corre feito um louco atrás de suas migalhas.
Para que essa situação mude, temos que ir mudando todo o entorno social. É imprescindível a conscientização dessa necessidade. Apesar dos nossos próprios medos, produto de uma fortíssima campanha cultural e mediática de difamação, de medo e de burla, temos, nós mesmos, que ter a coragem de desafiar a tudo isso e negar que os seres humanos são só essa massa de destruidores ecológicos, preconceituosos, bobos, que aceitam tantas guerras na maior tranqüilidade de nossas casas.
Temos de ter coragem de não admitir mais esse comportamento. Temos que “acomodar” outros paradigmas possíveis para o ser humano. É obvio que somos capazes de conformar um mundo inteligente, solidário, fraterno, pacífico, justo, bonito e digno. Essa é a verdadeira realidade do homem, o resto é mentira divulgada até o pescoço pela mídia e por qualquer coisa que chamam cultura, falsa cultura.
Nesse caso sim, vai ser moleza ser professor. Ele vai ter tempo para estudar e até para desfrutar, acompanhando o processo de desenvolvimento de crianças e jovens, dentro de uma sociedade que os admira e os apóia. E o que será mais bonito, será ver a esses alunos saírem de suas salas de aula felizes, sonhando ser professor algum dia.
Um beijo
Odo