terça-feira, 6 de setembro de 2016

Paralimpíadas ... modelo de exclusão.


Vivo no Rio de Janeiro, e isso me colocou de frente para as Olimpíadas, tanto para o bem quanto para o mal. Foi uma festa para a qual muitos não foram convidados – mesmo sendo vizinhos – até porque os valores absurdos cobrados pelos ingressos filtravam na entrada aqueles que poderiam ou não gozar do privilégio de assistir as lindas atividades programadas. Para aqueles que ficaram de fora, como sempre, o osso duro de roer ao invés do caviar.
                Tudo correu às mil maravilhas e todos os elogios foram válidos para os jogos e as cerimônias de abertura e encerramento dos jogos. Problemas pontuais, discriminações, desorganização inexplicável em alguns momentos, mas tudo aconteceu. Um roubo aqui, um assassinato ali, uma mentira acolá, mas ... vamos em frente que a festa está acontecendo e ninguém quer perder nada do que for possível. Mas as Olimpíadas 2016 acabaram e uma nova atividade surge no bojo desta.
                As Paralimpíadas estão aí, acontecendo, mas de uma maneira tímida, coisa de evento secundário, com uma publicidade mínima e ingressos a preços equivalentes a 10% do valor cobrado para o “evento principal” (!?). Não entendo realmente essa discriminação naquilo que deveria ser um evento inclusivo, e me pergunto a todo momento porque a pessoa com deficiência tem que fazer jogos separados... O que mais se discute hoje em dia não é a inclusão real? Não é o que se cobra das escolas, empresas, repartições, etc? Por que não acontece também no momento em que o mundo inteiro volta suas atenções para os esportes? Ah, já ouvi de alguém que na Grécia era assim, e por isso mantem-se a tradição, mas quem disse que os gregos estavam certos em tudo? Trataremos as mulheres como na Grécia antiga apenas porque era a tradição? Evidentemente que o processo de evolução da humanidade vem provocando mudanças em todas as facetas do comportamento. Claro que uma parcela da humanidade ainda prefere manter-se entre os “iguais”, mas a clara visão de que integrar a diversidade é o caminho para termos um mundo melhor, sem dúvida nenhuma. Mas os exemplos devem estar acessíveis ao maior número possível de pessoas, e eventos globais seriam uma forma concreta de estabelecer as melhores práticas. Mas não é o que acontece.
                Creio que é por situações como essa que a sociedade acaba assumindo a ideia de que as pessoas com deficiência sejam “diferentes”, e na maioria das vezes, sem direitos reconhecidos. Falta acessibilidade, falta respeito, falta consideração, falta humanidade. Idosos não são respeitados mesmo quando é clara a necessidade de atender as condições mínimas para sua segurança – e aqui nem falo de conforto. São degraus onde poderiam haver rampas, carros estacionados em cima de calçadas inviabilizando a passagem de pessoas com dificuldade de locomoção, buracos nas calçadas colocando em risco as pessoas.

                Vejo com tristeza o isolamento dos atletas com deficiência. Afinal, se eles são atletas, porque não estão incluídos no conjunto geral daqueles que recebem a mesma classificação? Não aceito essa discriminação, principalmente quando vejo toda a estrutura das Olimpíadas sendo desmontada para que se iniciem as Paralimpíadas, como no caso das Casas dos Países, que estão sendo desmontadas e transferidas para locais mais simples – seguindo a redução de status geral da situação. E, finalmente, prevendo a falta de público, as escolas são convidadas a fazer número nas arquibancadas. Tudo montado cenograficamente. Chega de tanta falsidade! Queremos todos os atletas juntos. Vamos defender a inclusão, ou voltaremos ao tempo em que os portadores de deficiência ficavam de fora, sempre.

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